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Protestos pró-democracia desafiam Pequim

Gás lacrimogêneo e gás pimenta foram usados contra manifestantes - AP
Gás lacrimogêneo e gás pimenta foram usados contra manifestantes Imagem: AP

28/09/2014 18h17

Hong Kong vive dias de tensão em função da disputa sobre como será eleito o próximo líder dessa região chinesa.

Neste domingo, a polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar milhares de manifestantes pró-democracia no distrito financeiro e imediações do governo local pró-Pequim.

Autoridades locais classificaram a manifestação como "ilegal" e receberam "forte apoio" do governo chinês.

O protesto foi inicialmente organizado pela Federação de Estudantes de Hong Kong, mas recebeu apoio do movimento Occupy Central, que tem incomodado as autoridades chinesas.

O Occupy Central tinha planejado ocupar o movimentado distrito financeiro de Hong Kong na quarta-feira e resolveu antecipar a mobilização para este domingo para se solidarizar com os estudantes, que estão protestando desde sexta-feira.


No sábado, a polícia já foi acionada para desalojar a sede do governo, ocupada por estudantes.

Após os confrontos, autoridades locais anunciaram que 78 ativistas foram presos neste domingo e 70 no sábado.

As eleições para o governo local só ocorrerão em 2017, mas no mês passado o governo chinês emitiu uma resolução que lhe permite vetar candidatos.

Ativistas pró-democracia começaram a se mobilizar contra a medida, o que culminou nos confrontos deste fim de semana.

Entenda quem está protestando em Hong Kong e por que o "Occupy Central" incomoda tanto autoridades chinesas:

O que quer o "Occupy Central"?

Trata-se de "um movimento de desobediência civil" proposto por defensores da democracia em Hong Kong e apoiado por grupos estudantis.

Os ativistas querem uma reforma política e eleições democráticas que sigam padrões internacionais.

O movimento assegura que pode mobilizar 10 mil pessoas na primeira fase das manifestações.

Ele toma seu nome do movimento "Occupy Wall Street", que em 2011 foi lançado nos EUA para protestar contra a desigualdade social.

O grupo pode ter sucesso em suas demandas?

Hong Kong é uma região administrativa especial dentro da China.

Seus habitantes têm liberdade de expressão e direito de protestar, mas não podem eleger seu governo de forma direta.

Até os organizadores do Occupy Central admitem que é pouco provável que eles possam influenciar as decisões do governo chinês no curto prazo, mas muitos vêem o ato de sair às ruas como uma forma de começar a pressionar pela mudança.

No passado, algumas manifestações de fato tiveram sucesso.

Uma polêmica lei de segurança nacional foi abandonada depois de protestos em 2002, por exemplo.

O governo local também desistiu de obrigar as escolas a darem aula de "educação patriótica" depois de manifestações contra a iniciativa.

A questão é que as exigências do "Occupy Central" e dos estudantes dessa vez são mais ambiciosas: eles pedem mais democracia, o que tende a ser visto como uma afronta direta a autoridade de Pequim.

Pode haver uma escalada de violência?

Os organizadores insistem que seus protestos não pretendem ser violentos.

Neste domingo ocorreram confrontos, mas no fim do dia a Federação dos Estudantes de Hong Kong e Chan Kin-MAn, um dos líderes do Occupy Central, fizeram um apelo para os ativistas se dispersarem, temendo que a polícia pudesse usar balas de borracha contra eles.

Muitas manifestações em Hong Kong de fato são pacíficas e bem organizadas. Mas as tensões têm se acirrado na região nos últimos anos, conforme a política local se torna mais polarizada.

Recentemente, também ocorreram alguns confrontos entre manifestantes pró-democracia e simpatizantes do governo central de Pequim.

Críticos do "Occupy Central" temem que os organizadores não sejam capazes de controlar a multidão - e também é impossível prever que tipo de resposta o governo local pode dar ao movimento.

Em julho, 500 pessoas foram presas por "reunião ilegal" em um protesto pró-democracia visto como um ensaio para o "Occupy Central".

O "Occupy" tem apoio em Hong Kong?

O tema parece dividir opiniões na região.

Tanto as manifestações pró-democracia quanto as que defendem o governo central de Pequim têm reunido milhares de pessoas, mas as últimas são menos comuns - e a mídia local tem publicado que algumas pessoas seriam pagas para participar delas.

Um número significativo de pessoas parece querer mais democracia, mas muitos temem que os protestos possam provocar respostas enérgicas de Pequim ou prejudicar a economia.

Quem são os líderes do Occupy?

Os principais organizadores do movimento são o professor de direito Benny Tai, o professor de sociologia Chan Kin-man e o clérigo Chu Yiu-ming.

Todos são considerados figuras moderadas do movimento pró-democracia de Hong Kong.

O "Occupy Central" também é apoiado por partidos políticos e grupos estudantis, como a Federação dos Estudantes de Hong Kong.

E entre os estudantes, um dos líderes proeminentes é Joshua Wong, preso no sábado, mas já libertado.

Qual o ponto de vista da China?

O Partido Comunista da China não quer que o movimento seja percebido como um desafio a sua autoridade.

O presidente chinês, Xi Jinping, parece ter tomado uma posição mais dura contra dissidências desde que assumiu o poder, em 2013.

E a mídia estatal chinesa recentemente acusou "forças estrangeiras" de se intrometerem nos assuntos de Hong Kong, promovendo "sentimentos separatistas".

Por isso, especula-se sobre a possibilidade de a China se envolver em uma repressão ao "Occupy Central" se não estiver satisfeita com a maneira com a qual autoridades locais estejam lidando com o grupo.

Mas o mais provável é que esse seja apenas um último recurso, tendo em vista as possíveis repercussões internacionais e sobre os negócios de uma intervenção direta.