Para Dilma, não cabe fazer ameaças neste momento ao Paraguai; líderes se manifestam contra impeachment
A presidente Dilma Rousseff afirmou no Rio de Janeiro que não é momento de falar ainda se a cláusula democrática da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) será aplicada ao Paraguai, para o caso do impeachment do presidente Fernando Lugo, nem de fazer "ameaças".
"Não está decidido nem foi inteiramente discutido. E não cabe fazer ameaças neste momento, pois não contribui para a busca de uma solução", disse Dilma, que qualificou de "séria, mas simbólica, sem ameaças", a posição da missão ministerial do bloco enviada ao Paraguai.
Lugo, acusado "de mau desempenho de suas funções, negligência e irresponsabilidade" após a morte de 11 trabalhadores sem-terra e de seis policiais em um confronto armado na sexta-feira passada, durante a desocupação de uma fazenda, foi destituído ao final de um processo parlamentar sumário, que durou pouco mais de 24 horas.
Lugo acatou a decisão mas, no discurso que fez já fora do cargo, disse que “a democracia foi ferida profundamente”.
No julgamento, foram 39 votos pela condenação, 2 ausentes e 4 senadores que se opuseram à destituição.
O vice Federico Franco tomou posse como novo presidente pouco depois da aprovação do impeachment. "A República do Paraguai vive momentos difíceis. E nessas circunstâncias Deus e o destino quiseram que eu assumisse a Presidência da República. Esse compromisso só será possível com a ajuda de todos vocês. É a única maneira de levar adiante o Paraguai, que tem que ser reconstruído em todos os setores, católicos e não católicos, com a união de todos os partidos e todos os movimentos sociais", disse Franco na tribuna do Senado paraguaio, enfatizando o pedido de união do Congresso. Franco citou nominalmente vários partidos em seu pedido de união: Partido Colorado, Partido Liberal, Partido Democrata Progressista.
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"Eu me comprometo a respeitar as instituições democráticas. Diante desse honorável Congresso, venho ratificar minha vontade irrestrita de respeitar as instituições democráticas e o Estado de direito e os direitos humanos", acrescentou.
Líderes reagem contra e a favor da decisão
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, considerou a destituição de Lugo um golpe “inaceitável”.
"Sem a menor dúvida houve um golpe de Estado" no Paraguai, diz mensagem de Kirchner no site oficial do governo, que qualifica a situação de "inaceitável".
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que não reconhece o "inválido e ilegal" governo que se instalou no Paraguai e qualificou de "vergonhoso" o julgamento político que terminou com o impeachment de Fernando Lugo.
"O governo venezuelano, o Estado venezuelano, não reconhece a esse inválido, ilegal e ilegítimo governo que se instalou em Assunção", declarou.
Ao afirmar que "Lugo foi retirado de maneira totalmente ilegítima do poder", Chávez considerou que fizeram o "mesmo" em junho de 2009 com o então presidente de Honduras, Manuel Zelaya, e que "tentaram fazer" na Venezuela, ao se referir ao golpe que o tirou brevemente do poder em abril de 2001.
"Não só se ataca o presidente Lugo e o governo legítimo do povo paraguaio, se ataca a história paraguaia e alguém diria mais, se ataca a Unasul (União de Nações Sul-Americanas)", disse Chávez, ressaltando que "isto não vai terminar lá".
O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse não reconhecer o novo presidente e condenou o que também chamou de "golpe parlamentar" contra Lugo. A Bolívia "não reconhece um governo que não saia das urnas e do mandato do povo", disse Morales, de acordo com a agência estatal ABI. Segundo ele, Lugo "estava acabando com os privilégios, com os caudilhos e com os grupos de poder" no Paraguai, e "isto sempre tem um custo".
Segundo Morales, "o golpe parlamentar" no Paraguai foi "produto de uma ação política coordenada pelos neoliberais em conluio com os caudilhos locais e o Império (Estados Unidos) a distância".
"O julgamento montado contra Lugo no Senado paraguaio foi uma ação do imperialismo e da direita internacional", afirmou.
O presidente do Equador, Rafael Correa, qualificou como um "golpe ilegítimo" o impeachment de Fernando Lugo como presidente do Paraguai e disse que não reconhecerá nenhum outro presidente do país sul-americano
A Costa Rica também condenou a decisão tomada pela maioria oposicionista no Congresso e ofereceu asilo a Fernando Lugo e aos membros de seu gabinete.
O chanceler da Costa Rica, Enrique Castillo, afirmou que o procedimento que levou à cassação de Lugo "tem reflexos de golpe de Estado" e por isso seu país rejeita a decisão do Congresso paraguaio.
O diplomata acrescentou que seu país, "historicamente um tradicional território de asilo, tem disposição" de receber Lugo ou membros de seu gabinete se isto for solicitado.
O departamento de Estado dos EUA reconheceu o impeachment e pediu que “todos os paraguaios ajam pacificamente, com calma e responsabilidade, dentro do espírito dos princípios democráticos” da nação.
(Com agências internacionais)
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