Movimento de padaria em Brumadinho cai com clientes entre desaparecidos
Desde sexta-feira (25), dia do rompimento da barragem I em Brumadinho (MG), ao menos uma dezena de fregueses da padaria Santo Antônio, na principal via da cidade, não aparece mais para comprar pão de manhã cedo. São motoristas, operadores e técnicos que trabalham na Vale, boa parte reconhecidos na lista de desaparecidos ou nos noticiários. Até o momento, são 60 mortos e mais de 290 desaparecidos.
"É um pessoal que anota na caderneta para pagar por semana, a cada 15 dias, gente de confiança", conta o dono, Jackson Pereira, 31. "Boa parte já ficou amigo da gente, quatro ou cinco moram aqui no bairro", diz.
Alguns passam de carro, pegam o pão e seguem para o serviço. Outros chegam a pé e tomam o ônibus a poucos metros dali.
O frentista David Brito Quintão, 22, que trabalha no posto do outro lado da rua, é testemunha do movimento matinal. "Era 7h e eles batiam ponto na padaria. Não aparecem mais", diz o rapaz, que vive o drama da tragédia ainda mais de perto.
O pai da namorada de David também é funcionário da barragem e está desaparecido. "Trabalha há 28 anos lá, no mesmo lugar. Todo mundo atrás de notícia, no IML, no hospital, mas até agora nada", diz.
Tanto a padaria como o posto ficam na rua Padre Eustáquio, trecho urbano da rodovia MG-040, que corta a cidade e é caminho até a barragem. Bem perto, passa o rio Paraopeba, avermelhado pela lama que escorreu.
No domingo (27), Pereira não abriu a padaria por causa da sirene que soou logo cedo. Havia o risco de rompimento da barragem 6, que contém água, e os moradores foram orientados a manterem-se em áreas seguras.
O risco foi afastado no meio da tarde, e o comércio na Padre Eustáquio funciona normalmente desde então. Mas Pereira diz que, com sirene ou não, a preocupação e a desconfiança passaram a ser constantes. "Depois do que aconteceu, está todo mundo alerta."
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