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Polícia tenta localizar outros suspeitos de integrar quadrilha de Varginha

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

07/11/2021 04h00

Não houve sobreviventes após a operação policial que matou 26 suspeitos de integrar uma quadrilha que estaria planejando um mega-assalto a banco aos moldes do "novo cangaço" na madrugada de 31 de outubro em Varginha (MG). Mas fontes ligadas às investigações tentam localizar homens apontados como comparsas do grupo assassinado.

De acordo com os agentes, outros criminosos se juntariam à empreitada, que mirava uma central de distribuição de valores do Banco do Brasil com cerca de R$ 65 milhões. O alvo é semelhante ao ataque no fim de agosto em Araçatuba (SP) e com o mesmo tipo de estratégia, conforme revelou o UOL.

Ainda de acordo com os investigadores, o crime foi idealizado com a participação de criminosos que estão atrás das grades —reportagem do UOL listou quem são os principais ladrões de banco do país. Segundo a polícia, a quadrilha usaria uma carreta para a fuga.

A ação é a mais letal contra casos do novo cangaço —também chamado de "domínio de cidades". Não houve mortes entre os agentes da PM e da Polícia Rodoviária Federal que estiveram em dois sítios na área rural da cidade mineira. Foram apreendidos cerca de 40 kg de explosivos e armas de grosso calibre —incluindo um fuzil ponto 50, com capacidade para abater até um helicóptero.

Os agentes alegaram ter retirado os suspeitos baleados ainda com vida, informação contestada por especialistas, que cogitam a hipótese de fraude processual. Eles não descartam a possibilidade de desmonte da cena do crime e veem semelhanças com a chacina na favela do Jacarezinho, zona norte do Rio, em maio deste ano.

"O desdobramento do caso agora aponta para a localização daqueles que não foram presos e dariam apoio ao ataque. O material apreendido vai dar elementos para que sejam identificados. Eles só iriam chegar ao local para auxiliar no transporte das armas, do dinheiro e na fuga", disse o tenente-coronel Marcos Paccola, da PM do Mato Grosso.

Especialista em ações contra esses grupos, Paccola mantém contato com agentes ligados à investigação que levou à localização do grupo antes da tentativa de ataque.

Também chamou a atenção dos agentes a presença de um equipamento chamado de "lança térmica" no local onde estavam os suspeitos mortos. O material, aquecido a uma temperatura de 3.500 ºC, é usado para abrir cofres sem a necessidade de explosivos.

"É tipo um maçarico, só que com maior capacidade de destruição. A identificação desse equipamento também auxilia nas investigações, já que é usado por alguns grupos já conhecidos", explica o tenente-coronel Durvalino Câmara dos Santos Júnior, da PM de Goiás, onde atua parte do grupo investigado.

Durante a investigação, foram identificados ao menos quatro núcleos. Dois deles ficavam no interior de Minas Gerais. Mas os suspeitos apontados como os mais experientes pelos policiais vieram de Rondônia, Maranhão e Goiás.

Eles cometeram crimes que envolvem assassinatos, assaltos a mão armada, confronto com integrantes das forças de segurança e fuga da cadeia, segundo a polícia. O UOL não localizou representantes deles.

Roubo no Paraguai e planejamento com apoio de presos

De acordo com fontes ligadas ao caso, investigado pela Polícia Federal, Polícia Civil e Ministério Público e pela própria Polícia Militar de Minas Gerais, havia no grupo inclusive suspeitos de participar de outros mega-assaltos, incluindo o roubo de R$ 120 milhões a uma transportadora de valores em Ciudad Del Este, no Paraguai, em 2017.

Investigadores ainda apontam a suspeita de participação de membros do grupo em outros crimes, como o assalto ocorrido no mesmo ano a uma empresa de valores em Uberaba (MG).