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Saiba quem é o liberal Federico Franco, novo presidente do Paraguai

Do UOL, em São Paulo

22/06/2012 19h37Atualizada em 22/06/2012 22h23

O liberal Luis Federico Franco Gómez assume nesta sexta-feira (22) o posto de presidente do Paraguai após a deposição de Fernando Lugo em um processo de impeachment que começou na Câmara e foi referendado pelo Senado. Lugo foi deposto pelo Senado com 39 votos pela condenação, duas ausências e quatro votos pela sua absolvição.

Franco, que foi eleito como vice-presidente na chapa de Lugo em 2008, nasceu em 24 de julho de 1962 em Assunção e pertence ao Partido Liberal, conhecido pela sigla PLRA no Paraguai.

Franco teve uma divergência política com Lugo recentemente. Em fevereiro deste ano, Franco já havia apresentado sua pré-candidatura às eleições presidenciais do país, que, caso não houvesse o impeachment, ocorreriam daqui a dez meses. Cirurgião por profissão, Franco é de uma família de políticos --seu irmão, Julio César Franco, é senador e um dos dirigntes do PLRA.

Franquismo x luguismo

Em agosto de 2008, no mesmo ano da eleição da chapa Alianza Patriótica para el Cambio (APC), já começaram as divergências entre Franco e Lugo. Lugo dizia que "não precisava" de seu vice para se comunicar com o Parlamento.

Miguel López Perito, porta-voz do ex-presidente, chegou a dizer que Lugo tinha o direito de formar as equipes que desejasse. "A ideia é justamente trabalhar com uma equipe pequena", disse López em 2008.

As relações entre presidente e vice nunca voltaram ao normal, e o Congresso paraguaio acabou se dividindo entre "franquistas" e "luguistas". Lugo foi perdendo cada vez mais apoio --no processo de impeachment, apenas uma deputada foi a seu favor; no Senado, 4 parlamentares tentaram impedir sua cassação.

Liberais x colorados

O impeachment de Fernando Lugo teve como ponto culminante um conflito agrário na  última semana. Após as mortes no campo, Fernando Lugo demitiu o ministro do Interior, Carlos Filizzola, e o chefe da Polícia, Paulino Rojas. Mas os aliados liberais de Lugo não gostaram da escolha do ex-promotor Rúben Candia Amarilla, ligado ao Partido Colorado, para ocupar a vaga no Ministério do Interior. Lugo negou que a escolha tenha sido feita em nome da legenda, disse que seu governo é pluralista e que a designação de Amarilla foi “a título pessoal”.

O presidente também anunciou que seria nomeada uma comissão para investigar as mortes, mas as medidas não apaziguaram os ânimos da oposição. Sem maioria parlamentar, Lugo ficou impedido de cumprir a plataforma de reformas anunciada durante a campanha eleitoral de 2008. Sua proposta de reforma agrária também não avançou por conta das dificuldades de acordo entre sem-terra e proprietários.

Nesta quinta (21), ministros ligados ao Partido Liberal --o mesmo do vice-presidente-- renunciaram após a abertura do processo de impeachment. O ministro da Agricultura, Enzo Cardozo, disse deixar o cargo em conformidade à decisão de seu partido, segundo declarações divulgadas pela imprensa paraguaia. Também deixaram o governo Humberto Blasco (Justiça e Trabalho), Francisco Rivas (Indústria e Comércio), Victor Rios (Educação e Cultura) e Paulo Reichardt (Secretaria Nacional de Esportes).

A vitória do ex-bispo em 2008, em chapa com Franco, acabou com uma hegemonia de seis décadas do conservador Partido Colorado no país. Lugo é considerado o líder mais à esquerda que o Paraguai teve por décadas e faz parte de uma nova onda de esquerda que chegou ao poder em grande parte da América Latina na última década.

Veja as cinco acusações que levaram ao pedido de impeachment

Mau uso de quartéis militaresA primeira acusação é o ato político ocorrido, com a autorização do Lugo, no Comando de Engenharia das Forças Armadas em 2009. Grupos políticos da esquerda se reuniram no local, usaram bandeiras e cantaram hinos ideológicos. Segundo o deputado José López Chávez, no ato, as Forças Armadas foram humilhadas, além de terem sido hasteadas outras bandeiras, num desrespeito a um símbolo nacional.
Confronto em CuruguatyNum dos piores incidentes sobre a disputa de terras no Paraguai, Lugo mandou 150 soldados do Exército para desocupar uma propriedade rural numa área de fronteira com o Brasil. No confronto com agricultores, ocorrido na última sexta-feira (15), ao menos 17 pessoas morreram. Das vítimas, sete eram policiais.
ÑacundayOutro ponto está relacionado às invasões de terras na região de Ñacunday, distrito localizado no departamento (equivalente a Estado) do Alto Paraná, a 95 quilômetros da fronteira do Brasil com o Paraguai. O deputado Jorge Avalos Marín acusa Lugo de gerar instabilidade entre os camponeses na área ao incentivar os próprios “carperos”, como são chamados os que acampa sob lonas pretas, as ditas “carpas”, encarregados da demarcação de terras. Os sem-terra estão há mais de dez anos na região e, desde então, vivem em conflito com os brasiguaios, brasileiros que se mudaramj para o país vizinho para plantar e trabalhar entre as décadas de 60 e 70. Nos últimos meses, o embate tomou contornos críticos.
InsegurançaOs parlamentares acusaram ainda o presidente Lugo de não ter sido eficaz na redução da insegurança que assola o país, embora o Congresso Nacional tivesse aprovado mais recursos financeiros. Além disso, eles criticam os gastos com a procura por foragidos do grupo criminoso EPP (Exército do Povo Paraguaio). Segundo o deputado, nunca na história o EPP (Ejercito del Pueblo Paraguayo), o braço armado do Partido de Izquierda Patria Libre, fez tantas vítimas entre integrantes da Polícia Nacional. Apesar disso, a conduta do presidente teria permanecido inalterada, o que teria dado mais poder ao grupo.
Assinatura do Protocolo de Ushuaia IIA assinatura do polêmico documento Protocolo de Usuaia II é visto como um atentado contra a soberania da República. Segundo a acusação dos parlamentares, o presidente não foi transparente sobre a assinatura desse documento já que até a presente data não havia encaminhado uma cópia do Congresso. A oposição a Lugo afirma que a assinatura do protocolo poderia resultar no corte do fornecimento de energia ao Paraguai, além de atentar contra a população e ter um claro perfil autoritário. Eles alegam ainda que Lugo tentou incluir medidas para fechar as fronteiras.