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Islamita é o primeiro presidente eleito do Egito após queda de Mubarak

Do UOL, em São Paulo

24/06/2012 12h37Atualizada em 24/06/2012 14h49

Milhares de egípcios lotavam neste domingo (24) a praça Tahrir, no centro do Cairo, para comemorar a vitória nas eleições presidenciais de Mohamed Mursi. O candidato da Irmandade Muçulmana foi declarado hoje o primeiro presidente do Egito desde que uma revolta popular derrubou Hosni Mubarak e prometeu colocar em prática o slogan da Irmandade Muçulmana - "o islã é a solução". A junta militar que governa o país desde a queda do regime de Mubarak afirmou que irá entregar o cargo da presidência ao vencedor das eleições até o dia 30 de junho.

"Deus é o maior" e "abaixo o regime militar" eram alguns dos slogans entoados pelos manifestantes, enquanto fogos de artifício eram lançados, depois que a comissão eleitoral declarou formalmente o candidato da Irmandade Muçulmana como vencedor.

Mursi prometeu trazer "estabilidade, segurança, justiça e prosperidade" ao Egito, depois de um ano de tumultos. Ele disse que chegou a hora de colocar em prática o slogan "o islã é a solução", da Irmandade Muçulmana,- e afirmou que seu plano político possui "referências do islã moderado".

O presidente da Comissão Eleitoral Suprema do Egito, Farouk Sultan, anunciou em entrevista coletiva que Mursi obteve 13.230.131 votos válidos (51,73%), contra os 12.347.380 (48,27%) recebidos por seu concorrente, o general reformado Ahmed Shafiq, no segundo turno do pleito, realizado nos dias 16 e 17 deste mês.


A vitória de Mursi o torna o primeiro presidente do Egito após a queda de Hosni Mubarak, ocorrida em fevereiro de 2011, e leva a Irmandade Muçulmana à Presidência pela primeira vez em seus 84 anos de história, a maioria deles na ilegalidade.

Tanto Mursi como Shafiq haviam proclamado vitória ao longo desta semana, alegando dados coletados por suas respectivas equipes de campanha.

Sultan revelou que 26.420.763 eleitores foram às urnas no segundo turno, 51,85% dos quase 51 milhões de egípcios convocados a votar. O presidente da Comissão Eleitoral destacou ainda que foram revisados pedidos de impugnações nos resultados em cerca de cem mesas eleitorais das mais de 13 mil nas quais os egípcios puderam depositar suas cédulas.

A decisão da Comissão Eleitoral não pode ser impugnada nem sofrer apelação por parte dos candidatos, ao ser a última instância responsável pelo pleito.

Período de indefinição gerou tensão

Nos últimos dias, havia um clima no país de indefinição, sem nenhum sinal sobre o que seria decidido nas urnas.

O Parlamento egípcio, que foi escolhido em eleições livres em novembro , foi dissolvido. A Irmandade Muçulmana, que possuía a maioria, protestou contra a decisão.

No último dia 14 de junho, o Tribunal Constitucional egípcio anulou a composição da câmara baixa do Parlamento e declarou inconstitucional a Lei de Isolamento Político, que teria impedido o ex-primeiro-ministro Ahmed Shafiq de concorrer à Presidência no pleito.

Além disso, a junta militar restaurou a lei marcial dos tempos da ditadura de Mubarak, que permite prisões arbitrárias, e ampliaram os poderes das Forças Armadas.

Para piorar o clima de tensão política no país, a comissão eleitoral atrasou a divulgação dos resultados. Inicialmente, o vencedor seria declarado na quinta-feira, mas a comissão - que é formada por cinco juízes - disse precisar de mais tempo para investigar todos os recursos feitos pelos candidatos.

O atraso alimentou boatos de que o Conselho Supremo das Forças Armadas e a Irmandade Muçulmana estariam negociando nos bastidores o futuro do país.

Para alguns analistas, os militares, que apoiavam Ahmed Shafiq, teriam percebido que a vitória de Mursi era irreversível, e estariam buscando um acordo para conquistar imunidade contra possíveis processos.

Os islamitas da Irmandade Muçulmana - que foram o maior partido de oposição durante toda a era Hosni Mubarak - querem retomar os poderes presidenciais. Mas os egípcios não sabem até que ponto os militares estão dispostos a deixar o poder.

Junta militar parabeniza vencedor

O chefe da junta militar do Egito, marechal Hussein Tantawi, parabenizou neste domingo o candidato da Irmandade Muçulmana Mohamed Mursi pela vitória nas eleições presidenciais, afirmou a rede de televisão estatal.

"O marechal Hussein Tantawi parabeniza o Doutor Mohamed Mursi por conquistar a presidência da república", afirmou a rede de televisão, depois de uma disputa que dividiu a nação mais populosa do mundo árabe.

Em Gaza, os palestinos comemoraram o anúncio da vitória de Mohamed Mursi nas eleições presidenciais do Egito, enquanto o movimento islamita Hamas afirmou que era um "momento histórico".

O integrante de alto escalão do Hamas Mahmud Zahar afirmou que a vitória era "um momento histórico e uma nova era na história do Egito", enquanto moradores de Gaza disparavam uma saraivada de tiros de comemoração nas ruas dos territórios palestinos. (Com agências internacionais)