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Audiências de Cachoeira e sete réus da operação Monte Carlo começam nesta terça em Goiânia

Depoimento de Carlinhos Cachoeira era o mais esperado da CPI, mas o contraventor se manteve calado - Sérgio Lima/Folhapress
Depoimento de Carlinhos Cachoeira era o mais esperado da CPI, mas o contraventor se manteve calado Imagem: Sérgio Lima/Folhapress

Lourdes Souza e Rafhael Borges

Do UOL, em Goiânia

24/07/2012 06h00

As audiências de instrução e julgamento de Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e outros sete réus começam nesta terça-feira (24) na Justiça Federal, em Goiânia. Serão dois dias de depoimentos.

Suspeito de envolvimento no esquema de jogos ilegais em Goiás, Cachoeira deixou a cela no complexo penitenciário da Papuda, em Brasília, na manhã de segunda-feira (23) e seguiu para a capital goiana, onde aguarda para prestar depoimento amanhã (25). Ontem, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) negou pedido da defesa pedindo que Cachoeira não comparecesse.

Acusados de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e outros delitos, os réus foram investigados pela Polícia Federal, na Operação Monte Carlo. A partir das 9h de hoje, Cachoeira deve acompanhar os depoimentos de 14 testemunhas, sendo quatro de acusação e dez de defesa.

Na quarta-feira, a expectativa gira em torno dos interrogatórios de Cachoeira, Gleyb Ferreira da Cruz, Idalberto Matias de Araujo (o Dadá), José Olímpio de Queiroga Neto, Lenine Araújo de Souza, Raimundo Washington de Sousa Queiroga e Wladimir Garcez. Geovani Pereira da Silva --que também é réu no processo, mas está foragido.

Depois do afastamento de dois magistrados do caso, os trabalhos em Goiânia serão conduzidos pelo juiz federal Alderico Rocha Santos, designado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

São 31 advogados inscritos para defesa dos acusados, e pelo Ministério Público Federal estão relacionados os procuradores Daniel de Resende Salgado, Marcelo Ribeiro de Oliveira e Lea Batista de Oliveira, esta última ameaçada por email por um ex-cunhado de Cachoeira, mas que, mesmo assim, decidiu permanecer no caso.

Silêncio

Ainda não se sabe se Cachoeira falará durante a audiência. Os advogados do bicheiro não revelam quais serão as estratégias. Acusado de chefiar uma rede de jogos ilegais em Goiás e articular benefícios para a empresa Delta Construções em gestões municipais e estaduais espalhadas pelo país, ele foi preso em 29 de fevereiro pela Polícia Federal.

Márcio Thomaz Bastos, advogado de Cachoeira, afirmou que seu cliente pode não falar nunca se quiser. “É um direito que o réu tem.” Ainda acrescentou que não há previsão nem intenção de que o réu delate cúmplices do esquema em busca de benefícios da Justiça Federal.

Na CPI do Congresso Nacional, Cachoeira usou o direito constitucional de ficar calado. Andressa Mendonça, mulher do contraventor, já declarou em entrevistas que ele pode falar tudo que sabe.

Ainda na comissão em Brasília, Cachoeira, em uma das respostas aos parlamentares, confirmou a declaração de Andressa e disse que deve se manifestar em breve. “Tenho muito a dizer, mas só depois da audiência [na Justiça de Goiás].”

Mesmo sem nenhuma declaração durante as audiências, judicialmente o réu pode ser condenado com base nas provas juntadas ao processo e nos depoimentos das testemunhas.

Adiamento

Esta é a segunda tentativa de realizar os interrogatórios. No último dia 31 de maio, uma liminar (decisão provisória) expedida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região suspendeu a audiência de instrução e julgamento do processo que teria Carlinhos Cachoeira como um dos réus. A decisão acatou pedido da defesa do contraventor, que alegou que não tinha acessado todo o conteúdo dos autos, o que dificultaria o trabalho dos advogados.

O desembargador Tourinho Neto, que julgou os requerimentos, entendeu também, à época, que o desmembramento do processo dos réus presos e soltos prejudicaria a defesa, por isso deveria correr em conjunto.

Na semana passada, a defesa tentou, novamente, adiar os depoimentos, mas o juiz Alderico Rocha Santos entendeu que não havia motivos e negou, na quinta-feira (19), os pedidos dos advogados, que alegavam, de novo, não ter acessado todo o processo.

Para garantir a realização do processo sem tumultos, a assessoria de imprensa da Justiça Federal em Goiás divulgou que o esquema de segurança será intenso, com restrição de acesso ao entorno do prédio e entrada controlada de jornalistas. Detalhes sobre o trabalho não foram informados.

Líder

Carlinhos Cachoeira é acusado de chefiar uma quadrilha que comandava jogos ilegais, principalmente em Goiás, e de usar de influência com parlamentares, como o ex-senador Demóstenes Torres, para manipular licitações e facilitar a entrada de empresas supostamente ligadas a ele e outros aliados nos governos do Distrito Federal, Rio de Janeiro e Goiás.

Pelas suspeitas de envolvimento com Cachoeira, Demóstenes teve o mandato cassado no último dia 11. Os governadores Agnelo Queiroz (PT-DF), Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Marconi Perillo (PSDB-GO) foram citados em escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal durante as operações Vegas e Monte Carlo.

Os envolvidos assumem terem falado com Cachoeira em algumas situações e motivos diversos, mas negam envolvimento nas ações do bicheiro.