Topo

Vazamentos da Lava Jato

Cunha mentiu sobre sorteio para tentar fechar delação, diz ex-deputado

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

12/09/2019 11h28

Citado pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ) durante negociação para fechar um acordo de delação premiada em 2017, o ex-deputado José Carlos Araújo (PL-BA) disse que o antigo colega de Casa mentiu aos procuradores da Lava Jato.

Como mostrou o UOL, Cunha disse que Araújo, ex-presidente do Conselho de Ética da Câmara, lhe ofereceu uma solução irregular, manipulando o sorteio, para obter um relator favorável no processo de cassação que enfrentava. Mensagens vazadas do aplicativo Telegram mostram que a Lava Jato considerou o caso importante, mas preferiu não investigá-lo.

Mas, para Araújo, tudo foi criação da mente de Cunha. "Ele criou um fato diferente para que aceitassem a delação dele", contou o ex-deputado que hoje se dedica à agropecuária na Bahia

"Naquela época, ele quis fazer a delação, e não quiseram mais", afirmou Araújo. A delação de Cunha, que se encontra preso desde 2016, acabou não vingando.

"O que ele queria era fazer a delação. E esse era um fato diferente que ninguém falou, e que ninguém consegue falar. Então ele tentou com isso abrir a curiosidade dos procuradores", disse Araújo.

O deputado José Carlos Araújo - Gustavo Lima / Câmara dos Deputados - Gustavo Lima / Câmara dos Deputados
O ex-deputado José Carlos Araújo (PL-BA), que foi presidente do Conselho de Ética da Câmara
Imagem: Gustavo Lima / Câmara dos Deputados

O ex-deputado negou qualquer manipulação dos sorteios para a escolha dos relatores do processo de cassação de Cunha em 2015.

O ex-presidente da Câmara foi cassado em setembro de 2016 e preso pela Lava Jato no mês seguinte.

"O papel não foi fabricado", destacou Araújo sobre o sorteio. "Tem a lista dos deputados que compõem o conselho, a lista com o retratinho. A gente pegou essa lista, dobrou, colocou na urna e o pessoal tirava."

Ao UOL, Araújo chegou a dizer que Cunha está tentando "ressuscitar" sua proposta de delação, que foi rejeitada em 2017. "Na verdade, o que o Eduardo está querendo é ver se abre a delação para ele, porque ele não conseguiu antes."

Mas, na verdade, as informações publicadas pelo UOL não partiram de Cunha. Como mostra a reportagem, o portal pesquisou centenas de conversas dos procuradores da Lava Jato feitas à época no aplicativo Telegram.

Os documentos foram vazados por uma fonte ao site The Intercept Brasil. Nelas, eram discutidas as denúncias feitas por Cunha em sua proposta de delação as condições impostas pelos investigadores ao ex-deputado presidiário para que fosse admitido um acordo de colaboração premiada.

Vazamentos da Lava Jato