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Gloria Groove volta às raízes em funk contra opressão: "Quero sobreviver"

A cantora Gloria Groove em cena do clipe "Coisa Boa", gravado dentro de presídio abandonado em São Paulo - Rodolfo Magalhães/Divulgação
A cantora Gloria Groove em cena do clipe "Coisa Boa", gravado dentro de presídio abandonado em São Paulo
Imagem: Rodolfo Magalhães/Divulgação

Paulo Pacheco

Do UOL, em São Paulo

10/01/2019 17h23

Cadê o hit do Carnaval 2019? Ele chegou nesta quinta-feira (10). Gloria Groove, que balançou os foliões em 2018 com "Bumbum de Ouro", lançou "Coisa Boa", um funk acelerado (150 BPM) que tem a batida certa para levantar o público nas ruas e nos trios elétricos. Entretanto, a música não nasceu só para fazer a festa, mas também para ser um grito de resistência.

"'Coisa Boa' nasceu descontraída, mas pouco depois olhei para ela e senti que tinha potencial para ser maior e falar alguma coisa realmente importante. Sentamos de novo e a reconstruímos. Não queria que fosse qualquer aposta de Carnaval. Queria que tivesse algum recado real porque, pelo momento, é necessário que sejam ditas algumas coisas", explica Groove ao UOL.

Preocupada com a homofobia e a situação da comunidade LGBTQ --que não foi incluída pelo governo Bolsonaro nas diretrizes do Ministério dos Direitos Humanos--, a cantora transformou o funk em música de protesto, com versos como "Se mexer comigo, vai mexer com a tropa toda". "Coisa Boa" resgata a Gloria de "O Proceder" (2017), seu álbum de estreia, com letras empoderadas e contra o preconceito.

"'Bumbum de Ouro' é toda falada em terceira pessoa: 'Essa mina é tesouro', 'Ela bate o bumbum'. Antes de "Coisa Boa", só falei tanto assim na primeira pessoa, desse jeito, em 'O Proceder'. É muito bom revisitar essa sensação de falar por mim e por todos", compara.

O mesmo time de "Bumbum de Ouro" assina "Coisa Boa": Pablo Bispo (também autor de "K.O.", de Pabllo Vittar), Sérgio Santos (marido de Iza) e Ruxell (o cara por trás do "beat envolvente" das músicas da drag).

Clipe gravado em presídio

"Coisa Boa" teve seu clipe gravado em dezembro, em um presídio abandonado na Mooca, zona leste de São Paulo, e dirigido por Felipe Sassi, queridinho das divas do pop. A cadeia "desconstruída" lembra a série "Orange Is The New Black" e clipes como "Telephone", de Lady Gaga e Beyoncé. E o vídeo tem surpresas, como uma aparição relâmpago de Lia Clark com Wanessa Camargo, que em 2018 lançaram o hit "Bumbum no Ar".

"Gravamos em celas no subsolo. A energia ali embaixo é muito densa, você sente um negócio esquisito mesmo. Nas paredes há coisas escritas, mensagens, lembretes. Fiquei pensando nas pessoas passando calor lá dentro. O Sassi explicou que é para mostrar que, mesmo em situações de opressão, a gente precisa continuar tendo atitude e personalidade", conta.

Gloria Groove dança no clipe "Coisa Boa" - Rodolfo Magalhães/Divulgação - Rodolfo Magalhães/Divulgação
Gloria Groove dança no clipe "Coisa Boa"
Imagem: Rodolfo Magalhães/Divulgação
Gloria confessa que gravou com o pé machucado e saiu "destruída" depois de realizar três cenas de coreografia: "Machuquei o pé direito um mês atrás, na praia. Perguntaram se eu tinha caído do salto, mas eu estava nua na praia. A bicha não cai de salto, mas cai descalça. Acontece".

Prestes a completar 24 anos no próximo dia 18, Gloria Groove comemora o 2018 intenso, com hits e parcerias que a colocaram entre as artistas pop mais ouvidas do Brasil, e espera repetir o sucesso em 2019. Como homossexual e drag queen, ela deseja apenas sobreviver à homofobia.

Eu, Gloria Groove, artista, espero em 2019 continuar prosperando, alçar voos mais altos, viajar para fora, gravar músicas em outros idiomas. Eu, Daniel Garcia, ser humano, dentro do meu país, dentro do meu contexto, espero conseguir sobreviver, continuar falando pelas pessoas que me acompanham, conseguir ainda ter uma força de luta e ainda ter um lugar. Isso aqui é um jogo, especialmente para nós, bichas. Tudo é um grande teste para ver se vamos resistir.

CarnaUOL