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À CPI do Cachoeira, ex-chefe de gabinete de Agnelo Queiroz nega tráfico de influência

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

28/06/2012 12h22Atualizada em 28/06/2012 13h39

O ex-chefe de gabinete do governador do Distrito Federal e amigo de Agnelo Queiroz, Cláudio Monteiro, negou nesta quinta-feira (28) em depoimento à CPI do Cachoeira que fizesse tráfico de influência.

Monteiro se disse surpreendido quando questionado se possuía um dos aparelhos Nextel que o bicheiro presenteou amigos, como o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e funcionários; e se recebia uma “mesada mensal” e um montante do grupo de Cachoeira.

“Cadê o radio? Cadê a propina? Cadê a facilitação na licitação e cadê o trafico de influência?”, ironizou o depoente. “Eu não sei [do Nextel], não recebi, não usei e a prova que não o fiz é que todos que usaram foram gravadas e eu não fui gravado”, completou.

Apesar de ter obtido na Justiça o direito de permanecer em silêncio, ele decidiu falar à comissão que investiga o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Monteiro é suspeito de receber propina de contraventor para viabilizar nomeações no Governo do Distrito Federal. Depois de divulgadas interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal, ele pediu para se afastar do cargo.
 
Sindicalista e ex-deputado distrital por dois mandatos na década de 1990, Monteiro afirmou que não conhecia Cachoeira e nunca encontrou com ele nem com o senador Demóstenes Torres.

Segundo ele, a relação do governo do DF com o bicheiro era “zero”. “O senhor Carlos Cachoeira nunca promoveu sequer um telefonema ao governo do Distrito Federal, que eu tenha conhecimento, não”, afirmou.

“Eu não fui mensageiro e não fui recebedor de nenhum pedido desta natureza”, ao ser questionado sobre um suposta lista de pessoas que o bicheiro teria indicado para serem contratadas pelo governo do DF.

Já com Claudio Abreu, Monteiro confirma que o recebeu duas vezes para reuniões sobre a precariedade na prestação de serviços de limpeza prestado pela Delta, mas nega que existiu o encontro de fevereiro, cuja fala foi detectada pela polícia.
 
“A empresa Delta não foi beneficiada. Cachoeira não tem nenhum pedido, nenhum atendimento. Não existe causa e efeito. Nem uma coisa nem outra, isso não existiu”.

Monteiro confimou que o filho dele tinha veículos transportando que faziam resíduos sólidos no Distrito Federal, que prestavam serviço parta a Delta.

Monteiro informou ainda que acionou judicialmente Idalberto Matias, o Dadá, um dos assessores de Cachoeira e o ex-diretor da Delta Centro-Oeste, Claudio Abreu.

À CPI, ele informou que disponibiliza à comissão a quebra de seus sigilos bancários, fiscal e telefônico, e de seus três filhos. Antes de autorizar a CPI a ter acesso a seus dados pessoais, porém, Monteiro afirmou que entregou seu sigilo à Procuradoria Geral da República e ainda pediu ao Ministério Público Federal do Distrito Federal que o investigasse.

“Vou fazê-lo aqui pelo período [de quebra de sigilo] que desejarem. Estou propondo 10 anos, faço por 20 anos, por todo o período de vida pública que tive.”

Em resposta a indagações do relator, o deputado Odair Cunha (PT-MG), Monteiro atribuiu as menções a seu nome em gravações da Polícia Federal a uma tentativa de “venda de prestígio”.

"Seja quem quer que seja ocupante de cargo público, certamente alguém vai dizer que tem relação com essa pessoa e vai querer mostrar prestigio. Não existe uma única manifestação minha."

Relação com outros depoentes

Monteiro afirmou que foi ele quem indicou “o amigo e policial civil”, Marcelão,  Marcello de Oliveira Lopes, conhecido como Marcelão, para trabalhar como assessor da Casa Militar do DF, ele prestava serviços como segurança de Monteiro, após ter sido abordado por motociclistas.

Segundo a Polícia Federal, Marcelão estava envolvido na tentativa de conseguir a nomeação de um aliado de Cachoeira no Serviço de Limpeza Urbana (SLU) da capital.

“O senhor Marcello é pessoa da minha amizade, mas não me torna responsável pelos atos que ele possa ter praticado”, afirmou.  

Com relação ao relacionamento com Zunga, João Carlos Feitoza, Monteiro também afirmou que o indicou para trabalhar na subsecretária de Esportes do Distrito Federal e que era amigo pessoal dele e que trabalhou como um faz-tudo da campanha dele para deputado distrital pelo PRP.

Zunga é suspeito de receber dinheiro do grupo de Cachoeira e de atuar como uma espécie de contato entre Agnelo e o contraventor.

“Fui eu quem indiquei, ele saiu de lá porque teve problemas com o Secretário [de Esporte]”, disse Monteiro. “Eu espero que ele possa se s defender, mas não tinha conhecimento disso [sobre relação de Zunga com grupo de Cachoeira]”, completou.

Lopes e Feitoza foram chamados para depor à CPI e estão previstos para participar da reunião da comissão depois de Monteiro, mas por terem direito de permanecer em silêncio. A expectativa é que, por orientação dos advogados, não falem.