Nas questões sociais, candidato a vice Paul Ryan é contra tudo

Jorge Castañeda

Jorge Castañeda

  • Jeff Swensen/AFP - 16.ago.2012

    Candidato à vice-presidência dos EUA, Paul Ryan faz campanha em universidade do estado de Ohio

    Candidato à vice-presidência dos EUA, Paul Ryan faz campanha em universidade do estado de Ohio

Dentro de três dias ocorrerá a convenção do Partido Republicano em Tampa, Flórida. Como em todas as convenções políticas dos EUA há quase meio século, não haverá surpresas. Mitt Romney será o candidato republicano à presidência e Paul Ryan, congressista ultraconservador por um distrito do estado progressista de Wisconsin, será seu companheiro de cédula como candidato à vice-presidência. Desnecessário dizer que uma semana depois, na convenção democrata, na Carolina do Norte, também não haverá surpresas. Os candidatos voltarão a ser Barack Obama e Joseph Biden.

O interessante do conclave republicano não é a candidatura de Romney, algo que se sabia há meses, mas sim a indicação de Ryan. É uma espécie de anti-Sarah Palin, pelo menos em alguns aspectos: é inteligente, domina os expedientes, é articulado e, embora talvez não seja tão sexy quanto ela, não sai mal na foto, com seu abdômen de "tanquinho". No entanto, sua escolha por Romney revela duas intenções preocupantes sobre um candidato republicano que deveria ter sido um aspirante moderado, da costa leste dos EUA, sensato e cosmopolita.

A primeira preocupação, a mais evidente: Ryan é um ultraconservador em termos fiscais e econômicos. É autor de um projeto de orçamento alternativo no extremo da direita, não só para o ano passado como para a próxima década. Pretende cortar um enorme montante do gasto federal, e praticamente exclui qualquer tipo de aumento de impostos. Não gostaria de dizer que é o de menos, porque não houve desde Jack Kemp, candidato à vice-presidência com Robert Dole - o fantástico promotor/anunciante de Viagra -, um candidato tão conservador em matéria fiscal como Ryan. Não é o que dizem seus adversários, mas sim instituições apartidárias e especializadas em contabilidade e auditoria de grande prestígio nos EUA (deveríamos ter algo assim no México, como indica, entre outros, meu amigo Luis González Ortega, contador e candidato à vice-presidência do Instituto Mexicano de Contadores Públicos). Embora todo mundo saiba que mesmo que o homem ganhasse seu programa econômico não seria o de Ryan, e se o fosse não seria aplicado porque os contrapesos nos EUA simplesmente não o permitem.

O mais grave são as posições "sociais" de Ryan, o que no México chamaríamos de culturais, e cuja chegada ao poder Executivo máximo nos EUA representaria um enorme retrocesso em um dos países mais tolerantes e liberais do mundo. Ryan se opõe a tudo: ao aborto, a qualquer tipo de legalização das drogas, à separação de Estado e igreja e, como salientou Genaro Lozano, a uma atitude cada vez mais tolerante da sociedade americana em seu conjunto, diante da vigência de diferentes estilos de vida. Romney não era assim, pelo menos como governador de Massachusetts, embora talvez como mórmon o tenha sido (mas convém salientar o caráter tolerante e aberto, por exemplo, das comunidades mórmons mexicanas em estados como Chihuahua). Agora não só Romney se alinhou com o conservadorismo fiscal e macroeconômico do chamado Tea Party, como também comprou o boleto arquiobtuso da direita americana.

Creio que a aposta de Romney vai resultar errônea. Sem dúvida, mobilizará a base republicana, conservadora, reacionária e antediluviana de um país onde existe um setor minoritário, mas importante, permeado dessas convicções. Mas também alienará um número suficiente de mulheres, jovens, afro-americanos, latinos e gente pensante que o fará perder a eleição, inclusive por uma margem mais ampla do que a situação econômica dos EUA mereceria. Levar a votar a ultradireita é uma boa ideia, com a condição de não perder o centro. Levar a votar a ultraesquerda é uma boa ideia, com a condição de não perder o centro. Romney levará a ultradireita, mas perderá o centro. Por certo, quem mobilizou a ultraesquerda, mas perdeu o centro em um país próximo dos EUA?

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Jorge Castañeda

Jorge Castañeda foi chanceler do México e é autor de uma das mais extensivas biografias já publicadas sobre Che Guevara.

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