Para Israel confrontar o Irã, é agora ou nunca

Jorge Castañeda

Jorge Castañeda

  • Jim Young/Reuters

Alguns israelenses ou judeus americanos com certo conhecimento da história do México repetem uma versão orientalizada da famosa frase de Porfirio Díaz: "Pobre Israel, tão perto de Deus e tão longe dos EUA". Longe, longe, como se diz, Israel nunca esteve, mas talvez hoje se encontre mais afastado que nunca, no campo pessoal e no político, do presidente dos EUA.

Em março deste ano publiquei nestas páginas algumas notas a propósito do emaranhado nexo entre o programa de enriquecimento nuclear do Irã, a campanha eleitoral americana, a relação pessoal entre quem desde então já se perfilava como candidato republicano, Mitt Romney,  o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e as posições deste em torno de uma possível intervenção israelense contra os aiatolás em Teerã. Nestes últimos dias, esse emaranhado tema ressurgiu com enorme força nos EUA, em Israel e na comunidade internacional em seu conjunto. Três elementos parecem ter aguçado as tendências que se entreviam desde março, quando as descrevi, e que desde muito antes haviam sido amplamente comentadas por um grande número de observadores.

As três mutações decisivas são as seguintes. Em primeiro lugar, a partir das convenções de ambos os partidos políticos americanos, as repetidas gafes de Romney, e o aumento da arrecadação de fundos de Obama, as apostas nos EUA (e por conseguinte no mundo) sobre as probabilidades de vitória do presidente em função em novembro subiram de maneira muito significativa. É verdade que faltam 50 e poucos dias para a eleição, três debates e múltiplas variáveis em suspenso: um possível descalabro econômico na Europa, uma deterioração da situação do desemprego nos EUA, ou uma crise internacional como a que possivelmente detonará os ataques às sedes diplomáticas americanas na Líbia e no Egito. Mas se os pesquisadores e grandes meios de comunicação americanos começam a dar por certa a vitória de Obama, é factível que as chancelarias e os serviços de inteligência de outros países estejam fazendo o mesmo. E não há chancelaria ou serviço de inteligência mais preocupado com o desenlace americano que a de Jerusalém (com a possível exceção do México, com o pequeno detalhe de que não temos mais chancelaria nem serviço de inteligência).

E se Netanyahu acredita que Obama vai ganhar tem que tomar uma decisão rapidamente. Nisso consiste o segundo elemento.

Por diversas razões internas, externas, pessoais e vinculadas à situação no Irã, o governo de Israel parece ter elevado a aposta nestes dias a propósito de uma intervenção militar contra a possível aquisição de armamento nuclear por Teerã. Netanyahu já não insiste só na necessidade de uma intervenção quando o Irã possuir uma bomba, e não só quando tiver a capacidade de construí-la, mas agora dá a entender que Israel deve proceder antes que Obama ganhe as eleições e, portanto, se oponha a uma intervenção israelense posterior. Hoje Israel ainda pode intervir sozinho, em alguns meses não poderá mais; e hoje Obama não será obrigado a participar, por razões eleitorais.

A terceira modificação da equação ocorre no terreno do Irã. De acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica, o Irã já possui, à diferença de alguns meses atrás, urânio enriquecido a um grau elevado para produzir entre cinco e seis bombas atômicas. Se isto for verdade, e se os avanços iranianos em outros âmbitos de seu programa forem semelhantes, o mundo se encontra muito mais próximo de uma decisão lastimosa: aceitar, como em tantos outros casos, que um país não democrático possua um dispositivo atômico; ou evitá-lo mediante o uso da força. De um ponto de vista intelectual, trata-se de um cenário fascinante; mas para Israel, Irã e Obama trata-se de um cenário aterrador.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Jorge Castañeda

Jorge Castañeda foi chanceler do México e é autor de uma das mais extensivas biografias já publicadas sobre Che Guevara.

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