Ônibus é incendiado em represália a ação no Alemão; Rio tem 1ª morte de militar na intervenção
Um ônibus foi incendiado no final da manhã desta segunda-feira (20), na linha Amarela, em suposta reação à operação das Forças Armadas realizada hoje nos complexos da Penha, Maré e Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. Ao menos seis pessoas morreram em confrontos na ação militar, entre elas, o cabo do Exército Fabiano de Oliveira Santos --trata-se da primeira baixa militar em operação desde o início da intervenção.
Ele foi ferido no ombro e morreu a caminho do hospital. Outro militar também ficou ferido em confronto, o soldado Marcus Vinicius Viana Ribeiro. Ele foi atingido na perna e está fora de perigo.
A linha Amarela chegou a ficar interditada por cerca de 40 minutos no sentido Barra da Tijuca, na altura do Complexo da Maré. A suspeita é de que criminosos tenham ateado fogo no coletivo em represália à operação das Forças Armadas --mais de 4.000 militares participaram das incursões.
Na operação, que abrangeu o maior número de favelas ao mesmo tempo durante a intervenção federal, os agentes se envolveram em um intenso tiroteio com criminosos. O Alemão é considerado o quartel-general da maior facção criminosa do Rio, o Comando Vermelho. A Polícia Militar informou que mais de 600 kg de entorpecentes foram apreendidos pelo Batalhão de Ações com Cães na operação.
O BRT (corredor expresso de ônibus) informou que a circulação entre o bairro de Madureira (zona norte) e o aeroporto do Galeão foi interrompida por causa de atos de vandalismo na estação Penha. Os protestos, que teriam começado de maneira pacífica por volta das 12h30, culminaram em destruição, segundo a concessionária do BRT. Os ônibus articulados estão circulando apenas entre as estações Alvorada e Madureira.
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Segundo o coronel Carlos Frederico Cinelli, do Comando Conjunto, o incêndio do ônibus foi determinado por criminosos como uma tentativa de interromper a via e diminuir a intensidade da operação militar. “O ônibus incendiado é fruto de uma determinação da criminalidade para que a população das comunidades vá à linha Amarela e atrapalhe as operações", disse ele. A orientação dos militares é de que os moradores fiquem em suas casas e não se aproximem da linha Amarela.
A via, que margeia o Alemão, é uma das principais ligações entre o centro e a zona oeste do Rio.
Policiais e homens do Exército continuam na tarde desta segunda-feira ocupando favelas dos complexos da Penha, Alemão e Maré.
Família é feita refém
Ao menos dez suspeitos foram presos nas operações --entre eles, seis foram detidos pelo Bope no Morro da Fé, no Complexo da Penha, após terem feito uma família refém. A principal hipótese, segundo os militares, é que fizeram a família refém quando fugiam das tropas na operação.
Segundo Cinelli, nenhum morador se feriu na operação de hoje. Ele lamentou as mortes de suspeitos, mas atribuiu os confrontos à “irracionalidade notória” dos criminosos de enfrentar forças policiais.
Inocentes não foram feridos. As forças de segurança dão voz de prisão, mas com o fuzil apontado na cara do policial ele não tem outra ação a não ser se defender
Coronel Carlos Cinelli, porta-voz do Comando Conjunto
Inicialmente, fontes militares chegaram a informar que 14 pessoas morreram em decorrência da ação: oito dentro das comunidades e outras seis em um acesso à ponte Rio-Niterói. No início da tarde, porém, Cinelli corrigiu o número de mortos dentro das comunidades (passando de oito para cinco) e descartou que houvesse relação direta entre os mortos na ponte e as operações nas três comunidades.
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"Como você vai não confrontar alguém que atira de fuzil na sua direção?”, questionou Cinelli. “Não podemos aliviar a pressão nessas comunidades ou os criminosos ficam com mais liberdade de ação”, defendeu ele.
Um morador do Complexo da Penha disse ser favorável às operações, mas com ressalvas. “É bom, né? Ajuda, mas acho que não resolve o problema, amanhã vão agir em outro lugar e os traficantes começam a voltar aqui”, disse ele, que pediu para não ter o nome revelado.
“Depois que tem a operação tudo fica mais tranquilo, a gente pode andar na rua sem ficar com medo, sem se preocupar. Mas a questão é que o problema não está só aqui. Não fabricam fuzil, não fabricam cocaína na comunidade, se não fiscalizarem as fronteiras o problema nunca vai acabar”, opinou outro morador da Penha, também sob anonimato.
*Com colaboração de Marcela Lemos, no Rio
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