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Forças de segurança tentam evitar saída de armas do Rio enquanto intervenção é votada

Luis Kawaguti e Luis Adorno

Do UOL, no Rio e em São Paulo

20/02/2018 12h00Atualizada em 20/02/2018 14h22

As operações de bloqueio realizadas no Rio pelas Forças Armadas e pelas polícias desde a noite de segunda-feira (19) têm, entre seus objetivos, a intenção de evitar que armas ilegais e foragidos deixem o Estado enquanto o decreto de intervenção é votado no Congresso e, na prática, ainda não está valendo.

Os bloqueios ocorrem em três níveis: em rodovias nos limites do Estado, na periferia da capital (região do chamado Arco Metropolitano) e nos arredores de algumas favelas onde há forte presença do crime organizado. A seleção dos locais ocorreu com base em dados de inteligência, segundo apurou o UOL. Por volta do meio-dia desta terça-feira (20), ainda não tinha divulgado um balanço das operações.

Neles, policiais militares, civis e rodoviários apoiados pelas Forças Armadas param e inspecionam veículos que deixam a capital em busca de armamentos e drogas. Eles também tentam identificar suspeitos procurados pela polícia que estejam tentando fugir do Estado.

As foças de segurança ainda não divulgaram informações de eventuais prisões ou apreensões. Um balanço deve ser divulgado ao fim da operação.

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A ação ocorre no momento em que o Congresso vota o decreto de intervenção federal no Rio de Janeiro, assinado na última sexta-feira (16) pelo presidente Michel Temer (MDB). Na Madrugada desta terça-feira (20) a Câmara aprovou o decreto, que deve ser votado pelo Senado ainda hoje.

Segundo fontes militares ouvidas pela reportagem, embora a intervenção já esteja em vigor, enquanto ela não recebe o aval do Congresso, pode surgir uma sensação de que não está ocorrendo a todo vapor. Em tese, esse momento poderia ser aproveitado pelo crime organizado para mover armamentos e efetivos.

“Eu arriscaria dizer que se ele [criminoso] ficar esperando para ver o que vai acontecer há uma grande chance de que, no fim do ano, no mínimo, ele não esteja mais solto”, disse um alto oficial do Exército que pediu para não ter o nome revelado.

Uma hipótese investigada pelas forças de segurança é que facções como o Comando Vermelho tentem intensificar suas operações na região dos Lagos do Rio e em outros Estados para tentar compensar as perdas que podem sofrer na capital. Por isso, tentariam levar seus membros e equipamentos para essas regiões.

Secretários de Segurança dos Estados vizinhos --Minas Gerais, Espírito Santo, e São Paulo-- pediram na semana passada uma reunião com o ministro da Justiça Torquato Jardim para discutir os impactos da intervenção no Rio.

Eles disserem temer uma migração de membros do crime organizado para suas regiões. O encontro pode acontecer nesta semana.

Segundo o coronel do Exército Roberto Itamar, porta-voz do Comando Militar do Leste, a operação de bloqueios tem caráter temporário, é flexível e deve voltar a ocorrer de surpresa em datas e locais diferentes.

Ele afirmou ao UOL que essa operação específica iniciada na noite de segunda-feira faz parte da Operação de Garantia da Lei e da Ordem (ação federal que permite a atuação de militares no Rio) que está em vigor desde julho do ano passado.

Mas, segundo ele, por ocorrer nesse momento, também ajuda reprimir a eventual movimentação de armas enquanto o Congresso acaba de decidir sobre a intervenção.

Segundo uma fonte ouvida pela reportagem, os bloqueios de rua têm um efeito prático na prisão de suspeitos e apreensão de armas, mas também atuam como elemento de dissuasão, para que os criminosos não tentem movimentar seus recursos neste momento.

Porém, se os criminosos decidem sair do Estado desarmados para adquiri novas armas no futuro, o trabalho das forças de segurança pode ser dificultado.

A operação iniciada na segunda-feira é a maior do gênero desde o estabelecimento da Operação de Garantia da Lei e da Ordem no Rio no ano passado.