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Forças Armadas ocupam favelas em bairro vizinho a Copacabana no Rio

Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio de Janeiro

21/06/2018 05h17Atualizada em 21/06/2018 12h36

As Forças Armadas realizam operação nas favelas dos morros Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme, bairro vizinho a Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, na manhã desta quinta-feira (21).

Segundo o comando da intervenção no estado, 1.800 militares das Forças Armadas participam da ação, além de 50 PMs --incluindo homens do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais)-- e duas equipes de bombeiros militares com cães.

O efetivo tem apoio de blindados, aeronaves e equipamentos de engenharia em ações que envolvem cerco e remoção de barricadas. Marinha e Aeronáutica fazem bloqueios e patrulhas na área de operação.

A região vive uma guerra entre as facções Comando Vermelho e Terceiro Comando Puro pelo controle de pontos de vendas de drogas frequentados por clientes de alto poder aquisitivo em uma área badalada da orla carioca.

O Comando Vermelho, baseado na Babilônia, e o Terceiro Comando Puro, estabelecido no Chapéu Mangueira, disputam há anos o controle dos dois morros.

Tropas da Brigada Paraquedista e do Bope chegaram aos morros antes do amanhecer, entre 3h e 5h. Eles usaram drones para reconhecer o terreno.

Unidades de elite da polícia e do Exército entraram nos pontos controlados pelo crime organizado, mas não enfrentaram resistência armada. Segundo um militar ouvido pela reportagem, o número de militares entrando na favela teria dissuadido traficantes de reagirem.

O Bope deixou a região por volta de 6h. Tropas do Exército passaram então vasculhar a região em busca de drogas e armas e a montar bloqueios nas entradas da favela para revistar moradores.

21.jun.2018 - O Comando Vermelho, baseado na Babilônia, e o Terceiro Comando Puro, estabelecido no Chapéu Mangueira, disputam há anos o controle dos dois morros - Luis Kawaguti/UOL - Luis Kawaguti/UOL
Militares entram em comunidade no Leme em mais uma operação do comando conjunto da intervenção no Rio de Janeiro
Imagem: Luis Kawaguti/UOL

No início da manhã, o movimento no morro da Babilônia ficou muito abaixo do normal, segundo um comerciante que não quis se identificar.

“A gente mora numa favela, é assim mesmo, os militares estão fazendo o trabalho deles e isso é bom. Mas tem muita gente que prefere não sair de casa˜, disse.

Onda de violência

A atual onda de violência teve início em 2017 quando o chefe do tráfico na favela Chapéu Mangueira, Paulo Roberto da Silva Taveira, ganhou o direito de sair temporariamente da cadeia e não retornou. Desde então realizou tentativas de tomar o morro da facção rival.

As tentativas de invasão, as retaliações do Comando Vermelho e choques das facções com a polícia têm gerado a tiroteios que frequentemente levam pânico a moradores de classe média do Leme.

O caso mais recente ocorreu no dia 8 de junho, quando uma intensa troca de tiros em uma região de mata que separa o Leme da Urca, outro bairro nobre do Rio, levou ao fechamento do teleférico do Pão de Açúcar e do aeroporto Santos Dumont. Dias depois, sete corpos de suspeitos foram encontrados em um costão próximo ao morro da Urca.

"Por mim, [os militares] ficavam aqui todo dia, a coisa aqui está demais, acontece tiroteio em todo lugar aqui no Babilônia. Minha família é daqui, nasci e fui criado aqui, nunca esteve tão ruim. Minha mãe se mudou, não aguentou mais", disse um morador que pediu para não ser identificado.

"Para mim isso aqui não faz diferença, não afeta em nada, porque uma hora eles [militares] vão ter que ir embora, e quando acontece o tiroteio geralmente é no mato", disse outro morador.

“Sou contra isso que está acontecendo, moradores sendo revistados. Tem uma guerra aqui, homens armados, mas o poder público só presta atenção aqui quando afeta a Urca ou o povo lá de baixo no Leme. O povo da favela tem que ser abraçado não só quando tem guerra", disse um comerciante que pediu para não ser identificado.