Topo

Forças Armadas fazem operações simultâneas no Rio de Janeiro

Luís Kawaguti

Do UOL, no Rio

22/03/2018 06h11Atualizada em 22/03/2018 12h02

O Comando Conjunto da intervenção no Rio de Janeiro realiza na manhã desta quinta-feira (22) duas operações simultâneas no Estado: uma na comunidade do Frade, no município de Angra do Reis, e a outra na Vila Vintém, zona oeste da capital fluminense.

As ações envolvem cerco, estabilização da área e desobstrução de vias. Serão cumpridos mandados de prisão por parte da Polícia Civil.

Estão nas ruas 1.382 militares das Forças Armadas, 270 policiais militares, 50 policiais civis e 19 agentes da Polícia Rodoviária Federal com apoio de meios blindados, aeronaves e equipamentos pesados de engenharia. Algumas ruas e acessos nessas áreas poderão ser interditados.

A favela da Vila Vintém fica a cerca de 10 quilômetros da Vila Kennedy, favela que vem sendo usada como experiência piloto das ações das forças de segurança durante a intervenção. Segundo comando, nesta quinta-feira, também é dado prosseguimento às operações de patrulhamento na Vila Kennedy.

22.mar.2018 - Soldados das Forças Armadas fazem operação na Vila Vintém, no Rio de Janeiro - Luís Kawaguti/UOL - Luís Kawaguti/UOL
Soldados das Forças Armadas fazem operação na Vila Vintém, no Rio de Janeiro
Imagem: Luís Kawaguti/UOL

As duas favelas ficam na área de atuação do 14º Batalhão de Polícia Militar --a unidade onde os interventores federais iniciaram um processo de mudanças na gestão e reforço de efetivos e equipamentos.

Na Vila Vintém, os militares chegaram no fim da madrugada. Eles entraram na comunidade com ao menos um blindado para fazer patrulhamento e identificar vias fechadas por barricadas.

As ruas da favela tinham pouco movimento de veículos e pedestres. Os moradores assistiam à movimentação de tropas e policiais olhando pelas janelas de suas casas. Não houve confronto com membros do crime organizado.

A Polícia Civil e a Polícia Militar apoiavam a operação. A reportagem do UOL se deparou com um blindado Guarani do Exército e um Caveirão da polícia circulando pela região.

Segundo o coronel Carlos Cinelli, porta-voz do Comando Conjunto, a estratégia usada pelas Forças Armadas para entrar na Vila Vintém é semelhante à usada na Vila Kennedy. "Nós entramos com um número muito grande de militares, isso desestimula os criminosos a oferecer resistência. Ações desse tipo são mais seguras para a população", disse. Cinelli afirmou que não há precisão de quanto tempo a ação vai durar.

Angra dos Reis: guerra do tráfico

A operação em Angra dos Reis foi realizada a pedido da Polícia Civil, que precisava prender criminosos procurados pela Justiça. O Comando Conjunto então decidiu ocupar toda a região, onde a polícia acreditava que poderia encontrar os suspeitos ligados ao crime organizado.

Desde que a intervenção foi decretada, em 16 de fevereiro, é a primeira ação militar em uma comunidade na região fluminense da Costa Verde. Antes disso, além de blitze em rodovias do estado, as Forças Armadas só agiram foram da capital em favela de São Gonçalo, cidade da Grande Rio.

A polícia investiga um provável aumento das operações de facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas em Angra dos Reis. O conflito teria tido início quando membros da facção Comando Vermelho decidiram aumentar sua área de influência e pontos de venda de drogas em Angra no início do ano. Eles teriam entrado em confronto com a facção Terceiro Comando Puro, que dominava diversos pontos de tráfico locais. A disputa teria gerado mais de dez mortes.

Até o fim da manhã de hoje, não haviam sido divulgados os resultados das operações de busca na região. O Comando Conjunto também não divulgou quando as tropas das Forças Armadas deixarão a área.

Vila Vintém: incerteza ante ação militar

A Vila Vintém é um ponto usado por membros do crime organizado para esconder veículos e cargas roubadas na avenida Brasil, uma das principais vias de acesso ao Rio. A região foi comandada por muito tempo por integrantes da facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos), mas a situação atual é incerta.

A região é o berço da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel.

Moradores ouvidos pela reportagem afirmaram que o clima está tenso na região. Enquanto uns aprovam a presença das forças de segurança, outros demonstram dúvidas sobre o que pode ocorrer com a região no futuro.

“Está bem tenso o clima hoje. A gente acordou e estava tudo cheio de tanques e viaturas da polícia. Por causa disso, o pessoal ficou com medo de acontecer alguma coisa”, disse um jovem morador da favela que pediu para não ter o nome revelado.

Outra moradora disse que se sente mais segura, mas tem dúvidas sobre o que vai ocorrer nos próximos dias.

“Por enquanto não dá para ter opinião [sobre a operação na Vila Vintém]. É bom, porque a gente se sente mais seguro [com as tropas aqui]. Mas isso é só o começo, não sabemos se os militares vão ficar e como tudo vai se desenrolar, como eles vão tratar os moradores. Até agora a sensação é de segurança porque estava difícil. Eu trabalho em um colégio aqui e vejo muita coisa que o crime faz”, disse.

A ação na Vila Vintém mostra que a equipe de intervenção está expandindo as ações das Forças Armadas na zona oeste e aposta no fortalecimento do 14 BPM, a principal unidade da Polícia Militar na região.

Na Vila Kennedy, onde ocorrem operações desde o dia 23 de fevereiro, a estratégia das Forças Armadas é se retirar gradualmente nas próximas semanas e entregar o controle da região para o 14 BPM, quando a unidade estiver com plena capacidade de atuar.

Na última segunda-feira o general Mauro Sinott, chefe do Gabinete de Intervenção Federal, afirmou que as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) da Vila Kennedy e da Vila Vintém devem ser dissolvidas. Os policiais dessas unidades devem passar por novo treinamento e serão absorvidos pelo 14 BPM.

Membros da equipe de intervenção têm afirmado desde o início das ações que seu foco principal não é colocar tropas para fazer patrulhamento nas ruas, mas fazer mudanças na gestão da polícia, para que ela se torne mais “eficaz”.

Policiais serão remanejados de unidades consideradas ineficientes para reforçar batalhões.