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Caso Marielle

Marielle Franco é assassinada no Rio; polícia investiga homicídio doloso

Marcela Lemos e Luis Kawaguti*

Colaboração para o UOL, no Rio

14/03/2018 22h37Atualizada em 13/06/2019 12h52

A vereadora Marielle Franco (PSOL), 38, foi assassinada a tiros, na noite desta quarta-feira (14), no bairro do Estácio, no Centro do Rio. A polícia investiga a hipótese de homicídio doloso (com intenção de matar).

Ela estava dentro de um carro quando o crime ocorreu. A vereadora voltava de um evento chamado "Jovens Negras Movendo as Estruturas", na Lapa, também na região central, quando um carro emparelhou com o veículo em que ela estava e efetuou disparos.

A perícia identificou ao menos nove disparos contra o veículo, todos na direção da vereadora, que estava no banco de trás. Marielle foi atingida por ao menos quatro tiros e morreu na hora. O motorista Anderson Pedro M. Gomes, 39, também foi atingido pelos disparos e morreu no local.

Policiais da Divisão de Homicídios disseram que os responsáveis pelo crime tinham conhecimento sobre a posição exata que a vereadora ocupava no veículo, que possuía vidros escuros.

Marielle - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Marielle era socióloga e foi a quinta vereadora mais votada no Rio em 2016
Imagem: Reprodução/Facebook

A Polícia Civil do já recolheu as imagens das câmeras de segurança do local do crime. Policiais buscam ainda imagens de outras câmeras que mostrem o trajeto realizado pela vereadora para descobrir em qual ponto o carro começou a ser seguido.

Uma assessora da vereadora também estava no carro, mas foi atingida somente por estilhaços e levada imediatamente para o Hospital Souza Aguiar, no Centro.

Já liberada, ela teve ferimentos leves, mas está abalada emocionalmente. A assessora terminou de depor à polícia por volta das 4h e não quis falar com a imprensa. O delegado também não divulgou detalhes de seu depoimento.

14.mar.2018 - Policiais isolam local onde vereadora Marielle Franco, do PSOL, foi morta a tiros no Rio - Luis Kawaguti/UOL - Luis Kawaguti/UOL
14.mar.2018 - Policiais isolam local onde vereadora Marielle Franco, do PSOL, foi morta a tiros no Rio
Imagem: Luis Kawaguti/UOL

O deputado estadual do Rio Marcelo Freixo, também do PSOL, esteve no local acompanhando o trabalho da polícia.

Mais de 50 pessoas, entre familiares e amigos da vereadora, além de alguns curiosos, também se concentram próximo ao local do crime, na esquina das ruas João Paulo 1 e Joaquim Palhares, no centro do Rio.

O clima era de muita comoção à medida que mais parentes e amigos desesperados chegavam ao local tentando obter informações. A polícia isolou o veículo e apenas peritos tiveram acesso ao local.

Quinta vereadora mais votada

Marielle era socióloga e foi eleita vereadora da Câmara do Rio com 46.502 votos. Ela era formada pela PUC-Rio e fez mestrado em Administração Pública pela UFF (Universidade Federal Fluminense). Ela foi a quinta vereadora mais votada do Rio nas eleições de 2016.

Há duas semanas, ela assumiu a função de relatora da Comissão da Câmara de Vereadores do Rio criada para acompanhar a atuação das tropas na intervenção federal na área de segurança do Rio.

No último sábado (10), Marielle denunciou uma ação de PMs do 41º BPM (Irajá) na Favela de Acari. Segundo ela, moradores reclamaram da truculência dos policiais durante a abordagem a moradores. Ela compartilhou uma publicação em que comenta que os rapazes foram jogados em um valão. De acordo com moradores, no último sábado, os PMs invadiram casas, fotografaram suas identidades e aterrorizaram populares no entorno.

"Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento."

O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari", disse a vereadora na publicação.

Deputado federal pelo PSOL, Ivan Valente (SP) disse que a notícia causa "um impacto muito grande". "Essa questão da crise da segurança pública, o Marcelo Freixo já é uma pessoa perseguida por milícias há uma década. Então não sabemos ainda, só as investigações vão dizer, se isso se transformar num problema de que é uma milícia, ou uma facção, ou uma vingança contra as posições do PSOL, que se manifestou contra esse tipo de intervenção que foi feita no Rio. Vamos investigar."

O vereador Tarcísio Motta, também do PSOL, afirmou esperar que a polícia inicie a investigação do crime com rigor ainda na noite desta quarta-feira.

"Não tínhamos conhecimento de nenhuma ameaça contra ela. Outros vereadores da bancada estão até mais expostos não havia nada que gerasse uma preocupação (com a segurança dela)", disse Motta.

Em nota, o PSOL diz que "não se calará". "O Partido Socialismo e Liberdade vem a público manifestar seu pesar diante do assassinato da vereadora Marielle Franco. Estamos ao lado dos familiares, amigos, assessores e dirigentes partidários do PSOL/RJ nesse momento de dor e indignação. A atuação de Marielle como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a militância do PSOL e será honrada na continuidade de sua luta. Exigimos apuração imediata e rigorosa desse crime hediondo. Não nos calaremos!"

*Colaborou Ana Carla Bermúdez, de São Paulo

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