Lula não nega corrupção, culpa Aécio por crise e chama Bolsonaro de fraco
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não negou casos de corrupção em seu governo e subiu o tom contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), seu principal adversário nas eleições, durante sabatina na CNN Brasil nesta segunda-feira (12).
Mais à vontade do que no último debate presidencial, Lula falou durante 50 minutos em uma entrevista focada principalmente em corrupção. Sem citar nomes, defendeu que "quem meteu as mãos" na Petrobras deve ser punido e afirmou que o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) é culpado pelo "clima de animosidade" na política que dominou o país depois de 2014.
Lula foi o quinto candidato à Presidência da República entrevistado pela emissora.
Antes dele, Ciro Gomes (PDT), Luiz Felipe D'Ávila (Novo), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) foram sabatinados pelo apresentador William Waack.
Waack disse, no começo da entrevista, que Bolsonaro não respondeu ao convite da emissora.
O que você precisa saber sobre a sabatina:
- À vontade na bancada, Lula voltou a admitir corrupção em seu governo, mas evitou nomear culpados e defendeu a articulação com o Congresso num eventual governo.
- Disse que o culpado pela "judicialização da política" e pelo "clima de animosidade" no país é Aécio Neves.
- Subiu o tom contra Bolsonaro, seu principal concorrente. Chamou o governo de fraco e afirmou que o presidente foi "cooptado pelo Parlamento".
- Também criticou o que chamou de "comportamento incivilizado" de Bolsonaro, que, de acordo com ele, "instiga a confusão".
- No mesmo dia em que confirmou o apoio de Marina Silva (Rede), destacou ações voltadas ao meio ambiente: defendeu demarcação de terras indígenas e quilombolas e a reorganização da ONU (Organização das Nações Unidas) em torno do debate climático.
Como foi a sabatina
Mensalão, Petrolão e outros casos: O tema da corrupção dominou a primeira metade da entrevista. Como ocorreu na sabatina do Jornal Nacional, da Rede Globo, o ex-presidente não negou que houve corrupção durante governos petistas, mas também não atribuiu nomes, defendendo sua gestão.
Eu acho que o culpado [pelos casos de corrupção] foi quem meteu os pés pelas mãos. Quando você governa um país do tamanho do Brasil, um país que tem milhares de funcionários, dezenas de ministérios e alguém comete o ilícito, o que você tem que fazer? Apurar. Apurou, puniu. Se a pessoa for inocente, a pessoa é absolvida; se a pessoa for culpada, a pessoa paga. É assim que funciona."
"Porque tem dois jeitos para você não ter corrupção: uma é você fazer decreto, criando sigilo de cem anos, como está sendo feito agora. A outra coisa é você jogar tudo embaixo do tapete e não levantar —o que nós fizemos", disse, em referência a Bolsonaro.
Virou para Bolsonaro: Lula tem tocado mais nas feridas sobre escândalos durante os governos petistas e seu período na prisão, entre 2018 e 2019, por causa da Operação Lava Jato —e aproveitado o mesmo assunto para atacar Bolsonaro.
Só haverá possibilidade de você não ser investigado se você não cometer ilícito. Se você cometer, você vai ser investigado, você vai ter o direito da presunção de inocência, mas, se você cometeu erro, você paga pelo preço."
A resposta de Lula ao fazer mea culpa e admitir que houve corrupção na Petrobras, na sabatina do Jornal Nacional, agradou a campanha. Na outra ponta, durante o debate presidencial promovido por UOL, Folha, Band e TV Cultura, o ex-presidente se esquivou da pergunta de Bolsonaro sobre o tema. O objetivo, segundo aliados, era não entrar em polêmica, mas acabou parecendo passividade na avaliação do núcleo de comunicação.
Na CNN, Lula lembrou ainda, mais uma vez, de mecanismos criados em seu governo, como o Portal da Transparência, além de cutucar Bolsonaro ao falar que, na gestão petista, a Polícia Federal era independente e ele respeitou a lista tríplice na escolha da PGR (Procuradoria Geral da República).
"Pilantra": Sobrou também para o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), a quem Lula tem chamado de mentiroso. Com ofensas diretas, ele disse que a Lava Jato, que teve todos os processos contra ele revertidos, se desgastou por causa das ações do ex-magistrado, hoje candidato ao Senado no Paraná.
O processo de investigação poderia ter sido mais sério se o juiz não fosse o pilantra que foi, se não transformasse a Lava Jato numa questão política para me proibir de ser candidato a presidente da República, para tentar me condenar."
A análise, dentro do PT, é que assuntos que envolvem o tema "corrupção" já não são o centro da pauta, como foram no passado —em especial em 2018 —mas, quando forem evocados, devem ser respondidos na base jurídica. Lula teve suas condenações anuladas em 2021 após o STF (Supremo Tribunal Federal) julgar Moro parcial ao lidar com os processos contra o ex-petista.
O que não quer dizer que a Corte inocentou o ex-presidente. O UOL Confere explicou a situação.
O percursor: Para Lula, Aécio é responsável por criar o clima de animosidade no país por ter pedido recontagem das urnas depois de ser derrotado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014
Foi a primeira vez, eu perdi três eleições, eu perdi uma para o Collor, perdi duas para o Fernando Henrique Cardoso, e eu voltava para casa para me preparar para a outra eleição. O Aécio não, o Aécio afrontou a vitória da Dilma, entrou com recurso na Justiça, e é responsável pelo clima de animosidade que está criado hoje nesse país. Porque numa eleição, você disputa, você perde ou você ganha."
"Tiraram a Dilma para construir a ponte para o futuro e desmontaram as coisas que vinham acontecendo nesse país. O país vivia numa certa normalidade. A gente não tinha dificuldade de relacionamento com os partidos políticos", disse o ex-presidente.
Durante a sabatina do Jornal Nacional, Lula já havia citado que Dilma enfrentou uma "dupla dinâmica" —Eduardo Cunha (hoje no PTB), então presidente da Câmara, e Aécio. "Eles trabalharam o tempo inteiro para que ela não pudesse fazer nenhuma mudança", disse o petista, na ocasião.
Fraco: Lula criticou ainda o que chamou de "fragilidade" de Bolsonaro em lidar com o Congresso. Tem sido recorrente para o ex-presidente criticar o orçamento secreto e repetir que o presidente é "refém" do chamado centrão e do deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara.
"Acontece é que o governo está tão fraco que o Congresso se apoderou e, hoje, o Congresso tem mais poder de investimento do que o presidente da República", disse.
O presidente da República foi cooptado pelo Parlamento. Ele entregou o orçamento ao Parlamento, o orçamento é do governo! O governo manda a LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias] no mês de agosto, para ela ser aprovada, o governo tem que executar."
Fator Alckmin: Se, para ele, Bolsonaro está refém do Congresso, seu candidato a vice, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), seria a solução para melhorar sua interlocução com os parlamentares, em especial entre os grupos mais conservadores —em caso de vitória nas eleições.
Quando eu fui procurar o companheiro Alckmin para ser o meu vice era porque eu sabia da necessidade que a gente vai ter de fazer muita articulação em Brasília, para a gente tentar mudar o fato de o presidente da República ser muito refém do Congresso Nacional."
"Incivilizado": Lula comentou ainda os casos recentes de mortes de apoiadores petistas por bolsonaristas, como o ocorrido em Foz do Iguaçu (PR) em julho e em Mato Grosso na semana passada. Em críticas duras, ele atribuiu ao presidente o clima "incivilizado" e disse o concorrente "cria confusão" quando deveria seguir seu papel institucional.
"Eu nunca tinha visto um comportamento incivilizado como eu estou vendo agora", afirmou Lula, ao lembrar dos casos. Você não vai querer presidir o país para tentar instigar a confusão. Esse país precisa de paz para crescer."
Como parte de uma nova estratégia de campanha, o ex-presidente tem sido instruído a não desperdiçar as chances de atacar o adversário.
Esse país precisa de paz para melhorar e quem pode fazer isso é o presidente da República, é o comportamento dele que dita um pouco as regras do que vai acontecer na sociedade. E esse atual presidente vive disso, ele vive de provocar, ele vive de instigar, ele vive de desrespeitar, ele vive de ofender ministro da Suprema Corte."
Meio ambiente x agro: Lula foi questionado ainda se o apoio dado pela ex-ministra Marina Silva neste fim de semana não poderia atrapalhar ainda mais a relação já delicada da campanha com o setor do agronegócio —área majoritariamente bolsonarista.
Em um morde e assopra, Lula defendeu a demarcação de terras indígenas e quilombolas, mas afirmou, como em outras vezes, que seu governo fez mais pelo setor do que Bolsonaro.
Tenho consciência que foi no nosso governo que nós fizemos a maior quantidade de reservas de proteção ambiental, que foi a maior quantidade de legalização, de demarcação de terras indígenas, e foi a maior quantidade de terras quilombolas. Vamos ter que fazer, gente."
Como exemplo de tentar equilibrar as duas vertentes, ele citou a demarcação de terra Raposa Serra do Sol, em Roraima, feita pelo seu governo em 2005. "Quando eu resolvi brigar para que agente legalizasse, eu sabia que ia perder apoio. Lá no estado de Roraima. Eu sabia. Mas, veja, você tem que fazer a opção. Os quilombolas têm direito a ter suas terras demarcadas."
Ele disse ainda que "os mais necessitados terão a nossa preferência no tratamento", mas também acenou aos agricultores e pediu respeito à lei.
Tem empresários grandes na área da agricultura que se comporta dignamente e que produz, vende, exporta e respeita. Quem não quiser respeitar, paciência, a lei existe para a pessoa ser punida."
Ao criticar o Conselho de Segurança da ONU, Lula disse que é necessário mudar também a discussão internacional sobre a questão climática. "A gente não pode continuar com o Conselho de Segurança representado pela geopolítica da Segunda Guerra Mundial. É preciso entrar país africano, é preciso entrar país latino-americano, é preciso entrar Alemanha, é preciso entrar a Índia, para que a gente possa, em se tratando da questão climática, quando a gente tomar uma decisão, ela seja definitiva."
Em coletiva à imprensa estrangeira em agosto, ele já havia dito que é preciso incluir novos países no Conselho de Segurança da organização para se adequar à geopolítica do século XXI.
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