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Capriles: Governo venezuelano não quer população independente do Estado

Em 15 de maio de 2013, Capriles, líder da oposição Venezuela, contestava a vitória do presidente eleito Nicolás Maduro. A oposição recorre em instâncias internacionais do resultado, alegando fraude nas eleições - Juan Barreto
Em 15 de maio de 2013, Capriles, líder da oposição Venezuela, contestava a vitória do presidente eleito Nicolás Maduro. A oposição recorre em instâncias internacionais do resultado, alegando fraude nas eleições Imagem: Juan Barreto

18/03/2014 02h52

Henrique Capriles, candidato derrotado à presidência da Venezuela em 2013 e governador do Estado de Miranda, afirmou, em entrevista a Jô Soares, que o projeto de erradicação da probreza no país inclui a dependência da população do Estado.

A entrevista foi gravada diretamente da Venezuela e foi ao ar na madrugada desta terça-feira (18). Nela, Capriles comentou o lançamento de um cartão magnetico, lançado neste domingo pelo governo de Nicolás Maduro, que dá direito a compras em supermercados estatais.

"O governo quer acabar com a pobreza dando um cartão que dê direito a um frango por semana, um quilo de carne, etc. Desse modo ele mantem o poder sobre a população. Não interessa ao governo que as pessoas sejam independentes", afirmou o político.

Ele ainda reforçou que o projeto venezuelano se contrapõe ao brasileiro, "que favorece que pessoa tenha um emprego; e, com este emprego, deixe de depender do Estado".

Perguntado sobre os presos na Venezuela em função dos protestos das últimas semanas, Capriles comentou que mais mil pessoas foram detidas, e muitos jovens foram torturados. "Há provas de tortura em detenções políticas no país".

Protestos

A Venezuela vive há semanas uma sucessão de protestos há mais de um mês, nas quais foram registradas 28 mortes, cerca de 400 feridos, mais de 100 detidos e 41 investigações por violação de direitos humanos por parte das forças policiais, segundo um balanço do Ministério Público.

Segundo Capriles, o estopim das manifestações foi a tentativa de estupro de uma estudante universitária no Departamento (Estado) de Tachira, perto da fronteira com a Colômbia, que levantou a questão da violência no país, um dos mais violentos do mundo, com taxa de homicídio de 49 a cada 100.000 habitantes (a média brasileira é de 21/100.000).

Em Caracas, segunda cidade mais violenta do mundo, são mortas 134 pessoas a cada 100.000 habitantes. Em 2013 foram 4,364 assassinatos em uma cidade com 3,2 milhões de pessoas.

À crítica inicial pela insegurança foram se somando outras, contra a inflação de 57%, a escassez de alimentos e produtos básicos, a favor da libertação de detidos políticos e contra a repressão praticada pelas forças de segurança.

Capriles afirma que grupos paramilitares armados pelo governo são responsáveis pelos casos de violência nos protestos. E reforça que a paz não interessa a Nicolás Maduro: "Nicolás e seu porta-vozes a todo o momento fomentam um clima de conflito, de divisão no país. O governo agride, insulta a quem discorda dele".