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Mistério não resolvido: o que sabemos do avião desaparecido da Malaysia?

Membro da Marinha australiana observa oceano Índico durante busca pelo avião da Malaysia Airlines, em abril - Força da Defesa Australiana/Handout via Reuters
Membro da Marinha australiana observa oceano Índico durante busca pelo avião da Malaysia Airlines, em abril Imagem: Força da Defesa Australiana/Handout via Reuters

Do UOL, em São Paulo

22/12/2014 06h00

Ainda é um mistério o paradeiro de 239 pessoas de 14 nacionalidades, entre eles 227 passageiros e 12 tripulantes, cerca de nove meses após o voo MH370, da Malaysia Airlines, sumir dos radares aéreos. Nenhum vestígio concreto, como destroços da aeronave ou corpos, foi achado até hoje.

No dia 8 de março, o Boeing 777-200 partiu de Kuala Lumpur, capital malaia, com destino a Pequim (China) à 0h41 no horário local. Cerca de 40 minutos após decolar, o sinal emitido pelo seu transponder simplesmente desapareceu das telas de controle de tráfego.

Na última mensagem de rádio recebida pela torre de controle, minutos antes do sumiço, o piloto Zaharie Shah, 53, afirmou que tudo estava normal com o voo, então sobre o mar do sul da China.

Na primeira fase de buscas, 26 países somaram esforços para rastrear uma área de aproximadamente 7,5 milhões quilômetros quadrados -- equivalente ao tamanho da Austrália. A procura ficou concentrada em dois grandes corredores aéreos: o norte, entre o Cazaquistão e o Turcomenistão até o norte da Tailândia, e o sul, que se alonga da Indonésia até o oceano Índico.

Era uma corrida contra o relógio, já que a bateria das caixas-pretas do avião, que contêm dados e registros de voz, continuam por algumas semanas a emitir sinais de localização mesmo após uma queda. O prazo, no entanto, expirou e as equipes continuaram com escassas evidências concretas de onde procurar o MH370.

Membros da equipe francesa que localizou os destroços do voo da Air France no Atlântico se juntaram às buscas quinze dias após o desaparecimento do MH370. O caso brasileiro, inclusive, alimenta esperanças de que o avião da Malaysia ainda seja achado: o AF447 caiu no oceano em 1º de junho de 2009, mas suas caixas-pretas só foram localizadas em 2011.

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Uma segunda fase de buscas teve início, concentrada no oceano Índico, quando a operadora britânica de satélites Inmarsat e o Escritório britânico de Investigação sobre Acidentes Aéreos afirmaram ter dados da última posição conhecida do MH370.

Embora os sistemas de comunicação do voo MH370 estivessem apagados, os satélites Inmarsat continuaram a captar, em todos os momentos, os "bips" provenientes do avião. Esses "bips" são enviados de uma estação terrestre para o satélite e, depois, para o avião, que reenvia automaticamente um "bip" em sentido inverso.

A essa altura, investigadores aéreos já afirmavam que a procura do voo da Malaysia poderia "durar meses ou até mais" e que não havia mais esperanças de encontrarem sobreviventes. 

Na terceira fase de investigação, as buscas se deslocaram para sudoeste da área no oceano Índico onde o leito marítimo foi investigado por dois meses. Equipamentos submarinos, capazes de percorrer águas profundas, continuaram sem achar pistas de possíveis destroços do avião.

Em agosto, a empresa privada Frugo foi contratada pelo Escritório Australiano de Segurança Aérea, passou a realizar buscas em uma área ao longo do chamado "sétimo arco", uma curva que se estende em frente ao litoral ocidental da Austrália, por um período de 300 dias. Até o momento, o navio recolheu dados em uma área de 200 mil quilômetros quadrados.

Piloto é suspeito

O piloto Zaharie Shah se tornou o principal suspeito pelo desaparecimento da aeronave depois que peritos conseguiram recuperar dados de um simulador de voo em seu computador. Ele praticou pousos em pistas curtas de ilhas no oceano Índico, de acordo com reportagem do jornal "Sunday Times".

Outro fator que reforça as suspeitas sobre Shah é a ausência de compromissos sociais ou de trabalho marcados para após a data do voo MH370. Para a polícia, isso contraria o caráter extrovertido do piloto e destoa de todo o resto da tripulação, que já tinham confirmado presença em eventos e reuniões.

Apesar disso, as autoridades malaias não descartavam ainda a probabilidade de falha mecânica na aeronave ou mesmo terrorismo.

Teoria do "avião fantasma"

Uma das teorias sobre o que pode ter ocorrido é a do "avião fantasma": ele voa em piloto automático enquanto tripulação e passageiros estão desfalecidos por falta de oxigênio após a despressurização da cabine. Há cinco casos conhecidos de "aviões fantasmas".

Ao "Washington Post", investigadores do caso disseram que, por algum motivo desconhecido, o avião da Malaysia Airlines pode ter mudado de rota e voado de maneira estável a uma área remota até que o combustível acabou e ele caiu.

Dois investigadores de acidentes aéreos independentes, Geoff Taylor e Ewan Wilson, acreditam que o piloto teria deliberadamente despressurizado a cabine -- matando a maioria dos passageiros. Depois pousado o avião no mar, onde ele afundou inteiro, sem deixar destroços.

"Como o voo era noturno, é possível que muitas pessoas não tenham visto as máscaras caindo. Elas devem ter morrido em poucos minutos", disseram.

Taylor e Wilson aproveitaram a atenção da mídia sobre o caso para lançarem o livro "The Truth Behind the MH 370 Loss" (ou "a verdade por trás da perda do MH 370").

Outras teorias sugerem que o MH370 possa ter pousado em alguma ilha no extremo leste da Índia ou mesmo aterrissado no Cazaquistão.

Tragédia dupla

O governo da Malásia realiza uma "revisão completa" na sua companhia aérea nacional, da qual é acionista majoritário, em uma tentativa de reavivar a deficitária companhia após ela ser atingida por dois desastres. Além do MH370, a Malaysia Airlines perdeu o MH17, com 298 a bordo, atingido por um míssil no espaço áereo da Ucrânia em julho.

A Malaysia Airlines cogita até mudar o nome da companhia aérea como parte de uma mudança "radical" da marca após as duas tragédias. A empresa também procura novos investidores para reconstruir seu negócio. A Malaysia Airlines transporta cerca de 50 mil passageiros por dia e emprega 20 mil pessoas.

A empresa já enfrenta uma ação judicial, movida em nome de dois malaios menores de idade cujo pai, Jee Jing Hang, estava no voo MH370. A Malaysia é acusada por quebra de contrato ao não tomar todas as medidas necessárias para garantir um voo seguro.

Já o departamento de aviação civil da Malásia é citado por "negligência em não ter contatado o avião dentro de um período de tempo considerável depois que ele desapareceu".