É dada a largada para eleições americanas: entenda como funciona o processo
Resumo da notícia
- Democratas começam processo de escolha do candidato a presidente
- Decisão sobre adversário de Donald Trump será tomada em agosto
Os democratas começam hoje a ir às urnas para escolher o candidato que deverá enfrentar o republicano Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em novembro. A votação no estado de Iowa é o primeiro passo de um longo processo eleitoral que não se dá por voto direto e pode ser um tanto quanto complicado para o brasileiro entender.
"O eleitor americano não vota no presidente, ele seleciona pessoas, os delegados, que vão compor o colégio eleitoral. É um meio-termo entre um parlamentarismo e o voto direto", explica Carlos Gustavo Poggio, professor de relações internacionais da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado).
Ou seja, o voto não vai para o candidato, mas para alguém que representará o voto em apoio ao candidato. Ao final da disputa, quem tiver mais delegados vence. Não entendeu? O UOL explica:
Tudo começa com as primárias
Para entender o processo, é melhor começar por sua origem, nas prévias partidárias, que definem os candidatos. Assim como a eleição geral, a escolha dos representantes dos partidos se dá por meio de um colegiado eleitoral escolhido pela população. Este processo é chamado de primárias.
No primeiro semestre de todo ano eleitoral, são realizadas as prévias dos partidos para definir os delegados que irão à convenção partidária realizada no meio do ano. O processo é realizado em todos os estados e cada um tem sua regra. Em alguns, qualquer cidadão pode votar, em outros, apenas os filiados aos partidos, entre outras peculiaridades.
Os delegados eleitos são comprometidos com um pré-candidato e devem representá-lo na convenção nacional. Dessa forma, no encontro, o pré-candidato que tiver mais delegados vira o representante na eleição. Cada partido tem seu próprio processo. Em ambos, o nome vencedor escolhe seu candidato a vice-presidente.
Neste ano, as prévias democratas começam em Iowa hoje e vão até o final de abril. A convenção será realizada no Wisconsin entre 13 e 16 de julho. Os nomes mais fortes são os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren e o ex-vice-presidente Joe Biden.
Do outro lado, os republicanos passam por um dilema. Partido do presidente Donald Trump, alguns estados estão cancelando suas primárias por acharem que deve haver apoio total à reeleição. Alguns republicanos discordam.
"Há quatro pré-candidatos desafiando Trump, mas eles são desconhecidos e não tem chances. Alguns estados já estão cancelando, enquanto outros, como o Iowa, vão fazer", afirma Poggio.
A convenção republicana deverá ocorrer entre 24 e 27 de agosto na Carolina do Norte.
As eleições são indiretas
Como dito, as eleições também funcionam por meio de representação no colégio eleitoral. Marcada neste ano para o dia 3 de novembro, os cidadãos americanos confiam seu voto a delegados que, por sua vez, apoiam um candidato.
O número de delegados de cada estado é definido pela população (número de deputados + número de senadores). Ao todo, são 538. Para chegar à Casa Branca, o candidato precisa ter a maioria absoluta (pelo menos 270 votos).
Há, no entanto, uma peculiaridade no sistema: o número de delegados também não é proporcional aos votos gerais. Quem vencer em um estado fica com todos os seus delegados, mesmo que ali a eleição tenha sido apertada, com exceção do Nebraska e do Maine, que têm suas próprias regras eleitorais e onde os votos podem ser divididos.
Por exemplo: o candidato que vencer na Flórida levará seus 29 delegados, independentemente se ele tenha vencido por 52% a 48% ou por 90% a 10%. Não há como serem 10 delegados democratas e 19 republicanos, é tudo ou nada, o chamado "The winner takes all" ("O vencedor leva tudo").
Este modelo, diferentemente do Brasil, cria a possibilidade de que um candidato seja eleito mesmo sem ter a maioria absoluta dos votos. Isso aconteceu cinco vezes na história americana. A última se deu em 2016, quando Trump teve quase 3 milhões de votos diretos a menos do que a democrata Hillary Clinton, mas somou 304 delegados, enquanto ela, apenas 227.
A importância dos estados
Como uma confederação de estados unidos, cada ente federativo norte-americano tem suas regras estabelecidas e características políticas bem fortes. Isso impacta não só na campanha como na eleição, pois "conquistar" um estado, mesmo que pequeno, pode definir a corrida à Casa Branca.
"Na Califórnia, por exemplo, os republicanos nem fazem campanha, não têm a menor pretensão de ganhar lá. Assim como os democratas no Texas. O que eles ficam de olho é nos chamados 'swing states', estados que mudam entre eleições", explica Poggio. Os mais tradicionais são Pensilvânia, Virginia e Flórida, que, em 2000, deu a vitória a George W. Bush sobre Al Gore.
Além disso, afirma Poggio, há atualmente os "purple states" ("estados roxos", uma mistura entre o azul democrata e o vermelho republicano), locais que tradicionalmente apoiam um partido mas vêm apresentando alterações. "O Arizona é republicano, mas, por conta de algumas mudanças demográficas, está ficando mais democrata. Pode-se esperar que vire de vez em alguma eleição futura", avalia o especialista.
Sistema pseudobipartidário
Com dezenas de partidos políticos no Brasil, pode parecer difícil para o brasileiro crer que nos Estados Unidos existam apenas dois. A verdade é que não é bem assim. Lá também existem dezenas de partidos, mas só dois (Democratas e Republicanos) têm representação real.
"A constituição americana não fala em partido, não há nada que regule. Então tem um monte, dezenas, mas são irrelevantes ou locais. Lá há muitos partidos estaduais que lutam por pautas regionais", explica Poggio.
Há a chance de surgir uma terceira força? O professor acredita que não. Ele reconhece que haja, como aqui, uma insatisfação com partidos tradicionais, mas eles acabam englobando os que são de fora, como foi o caso de Trump em 2016 e de Sanders, independente, que quer ser o candidato democrata neste ano.
"O que deve acontecer é que os partidos vão se transformar em meio a essas novas demandas. Trump, por exemplo, ele foi nomeado a despeito da elite do partido não queria ele. Eleito, traz uma configuração diferente", avalia.
Brasil x Estados Unidos
Não é só o voto indireto que marca as diferenças dos processos eleitorais entre Brasil e Estados Unidos, há uma série de características que divergem. De parecido, na verdade, é só a duração do mandato: 4 anos com possibilidade de uma reeleição. Veja as diferenças:
Brasil
- Eleição direta
- Voto obrigatório
- Urna eletrônica
- Cada partido escolhe como define seu candidato
- Sistema multipartidário
EUA
- Colégio eleitoral
- Voto facultativo
- Sistema de votação definido pelo estado, vai de papel a urna eletrônica
- Candidatos são escolhidos por prévias eleitorais
- Sistema multipartidário com apenas dois partidos fortes
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