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"Organização chamava Cachoeira de líder", diz policial em audiência de Goiânia

Lourdes Souza e Rafhael Borges

Do UOL, em Goiânia

24/07/2012 11h42Atualizada em 24/07/2012 14h39

O agente de Polícia Federal Fábio Alvarez foi a primeira testemunha a depor na manhã desta terça-feira (24) no Tribunal da Justiça Federal, em Goiânia. Esta é a primeira audiência da ação penal contra Carlinhos Cachoeira e outros sete acusados na Operação Monte Carlo da PF. Alvarez começou a ser questionado pela procuradora Léa Batista, do Ministério Público Federal, por volta das 10h. Ele era um dos responsáveis por escutar e analisar os áudios da Operação Monte Carlo e também fazia trabalho de campo.

Segundo Alvarez, logo no início das investigações os agentes já identificaram Carlinhos Cachoeira como o líder da organização criminosa de exploração de jogos ilegais. José Olímpio Queiroga era o orientador das casas de bingo, e Geovani Pereira, o contador do grupo.

As defesas chegaram a alegar que o depoente estava interpretando, não se atendo aos fatos. O juiz entendeu que não e pediu à testemunha que explicasse o motivo de descrever a função de cada um. Alvarez detalhou: “Cito Geovani como contador, por palavras da própria organização. E o líder era Cachoeira porque a própria organização assim o chamava”. O policial citou o áudio nos quais eles deixavam toda a hierarquia.

Alvarez disse que as investigações começaram com as interceptações telefônicas que levaram a polícia a identificar os integrantes da organização criminosa. Descobriram que um rádio usado pelo grupo era cadastrado no exterior.

De acordo com Alvarez, os agentes tiveram dificuldade para acessar os dados inicialmente, "mas como tudo passa pela rede brasileira", foi possível interceptar as conversas. A PF teve acesso a senhas para identificar os possíveis envolvidos. “Senhas somente usadas para investigar a Operação Monte Carlo”, disse.

Influência nas polícias

De acordo com o depoimento de Alvarez, Cachoeira pediu informações às polícias Civil, Militar e Federal, e o delegado da PF Fernando Bayron era quem respondia. Já dados sobre os locais das operações de busca e apreensão de máquinas caça-níqueis do grupo, quem informava era a Polícia Civil, segundo o depoente.

Ele afirmou ainda que Cachoeira solicitou informações a Bayron e ao ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dada, sobre a interceptação dos rádios. A Força Nacional, de acordo com a testemunha, fechou um bingo e apreendeu máquinas de caça-níquel.

Ainda segundo Alvarez, a organização criminosa tinha proteção de policiais militares que atuavam dentro e fora das casas de jogos ilegais em Goiás e no entorno do Distrito Federal. O agente da PF informou que um policial conhecido por major Silva era responsável pela proteção do grupo.

Os integrantes também procuravam ter informações prévias de onde a polícia atuaria, contou o depoente, ressaltando que o grupo mantinha o controle sem permitir que ninguém que não fazia parte da organização abrisse bingos.

Grampos telefônicos

Após o depoimento, a defensora de Carlinhos Cachoeira, Dora Cavalcante, foi a primeira a fazer perguntas. Questionado, o agente da PF informou que o sistema utilizado para as interceptações telefônicas foi o Guardião, que recebe dados e os armazena, por meio do desvio de uma ligação.

A respeito da acusação dos encontros fortuitos de Cachoeira, como o que mostrou a relação do ex-senador Demóstenes Torres com o bicheiro, Alvarez disse que eles foram encaminhados às autoridades policiais específicas para que tomassem as providências necessárias.

“Se não tinha relação com os jogos ilegais, as provas não eram juntadas ao inquérito da Operação Monte Carlo”, afirmou o policial.

Ricardo Saied, advogado de Lenine Araújo, questionou a atuação do agente apenas na coleta de dados e diligências. O defensor disse entender que as funções eram extrapoladas e que, muitas vezes, eram necessários peritos criminais, que não teriam atuado.

O agente explicou que, pela agilidade da atividade policial, muitas ações não teriam como passar por todos os trâmites, até porque algumas ocorriam sem nenhuma previsão.

Ney Moura Teles, advogado de Wladimir Garcêz, contestou que durante as perguntas do MPF a testemunha se lembrava de tudo, e que nos questionamentos das defesas “a memória não era tão boa”.

O caso

Carlinhos Cachoeira é acusado de chefiar uma quadrilha que comandava jogos ilegais, principalmente em Goiás, e de usar de influência com parlamentares, como o ex-senador Demóstenes Torres, para manipular licitações e facilitar a entrada de empresas supostamente ligadas a ele e outros aliados nos governos do Distrito Federal, Rio de Janeiro e Goiás.

Pelas suspeitas de envolvimento com Cachoeira, Demóstenes teve o mandato cassado no último dia 11. Os governadores Agnelo Queiroz (PT-DF), Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Marconi Perillo (PSDB-GO) foram citados em escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal durante as operações Vegas e Monte Carlo.

Os envolvidos assumem terem falado com Cachoeira em algumas situações e motivos diversos, mas negam envolvimento nas ações do bicheiro.