Como bom boxeador, Greenwald não se deixa encurralar nas cordas
"Sabíamos que nosso alvo principal, o hoje ministro Sergio Moro, que comanda a Polícia Federal, o Coaf, a Receita Federal e a espionagem, comandaria uma investida contra mim e meu marido". Glenn Greenwald não hesita em apontar o dedo. O jornalista norte-americano, fundador do site The Intercept Brasil, sabe que tem inimigos na República.
A frase se referia a acusações de que o marido do jornalista, o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), teria recebido parte do salário de funcionários da Assembleia Estadual do Rio de Janeiro, no esquema batizado como "rachadinha". Greenwald esteve no centro do programa Roda Viva, exibido pela TV Cultura e retransmitido pelo UOL, ontem.
Nos bastidores não se via mais que um homem afável, com gestos comedidos, mas centrado no seu celular e na sua missão —enfrentar as feras ávidas por respostas.
Greenwald é um homem decidido a defender a si e a seu trabalho. Experiente em grandes casos, já foi alvo da maior potência do planeta, os Estados Unidos, no caso Snowden, que revelou a espionagem do país sobre cidadãos americanos e chefes de outros países.
Assim foi sua postura durante todo o tempo. O jornalista apresenta e admite seu objetivo, tirar a Lava Jato das "sombras", como diz, sabendo que isto é polêmico, indesejado pelos poderosos, e questionado inclusive por parte dos colegas de profissão.
Com fala mansa e índole combativa, questionou em certo ponto: "Você acha que devemos esconder evidências de que Deltan Dallagnol mentiu para o povo brasileiro?", respondendo ao colega que perguntava se valeria a pena expor outro jornalista para trazer um fato à tona.
Quebrando o gelo
Antes de o clima esquentar, e de o programa começar, houve tempo para amenidades.
"Está nervoso, Glenn?", perguntou Daniela Lima, a apresentadora do Roda Viva.
"Não, estou animado", respondeu, cordial.
"Tem jornalistas que gostam de perguntar, mas não gostam de responder", disse Daniela, puxando papo. "Eu não gosto", afirmou a apresentadora.
"É bom saber", brincou o fundador do Intercept Brasil, arrancando risinhos sarcásticos dos colegas presentes.
Hábil e acostumado a ser pressionado, Greenwald não se deixou acossar por perguntas que poderiam ligar o trabalho da Vaza Jato a algum plano maior do que a divulgação de um dossiê arrasa-quarteirão sobre a maior operação anticorrupção do Brasil.
"Falamos de muitos outros políticos além de Lula."
Em certo ponto, admitiu dois erros: um de data, ao transcrever um chat entre os procuradores, e uma antecipação no Twitter de um nome ainda não apurado, que acabou saindo errado. "Dois erros triviais em três meses de trabalho".
O primeiro bloco foi pequeno e a apresentadora teve de interromper a última resposta. Entra o intervalo e Daniela desabafa: "Me senti o João Kléber!" Risos e um arrefecimento da tensão que se instalava no estúdio.
Enquanto a produção buscava água para molhar a garganta do convidado, deu tempo de ouvir Paulo Caruso, célebre cartunista do programa, contar sobre quando o humorista Millôr Fernandes bebeu uísque ao vivo, ou quando Mário Covas se negou a abandonar o hábito de fumar, mesmo em frente às câmeras.
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