CPI dos Atos Antidemocráticos: o que já checamos sobre a invasão
A invasão de golpistas ao Congresso, ao STF e ao Palácio do Planalto em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023 está sendo investigada por parlamentares em uma CPI. A ação, que levou mais de mil pessoas a virarem réus no STF, foi alvo de publicações falsas e distorcidas nas redes sociais.
O UOL Confere reúne a seguir checagens do que circulou nas redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre a ação dos vândalos que reivindicavam um golpe de Estado e não aceitavam o resultado das urnas eletrônicas.
Falsos infiltrados
A jornalista Daniela Lima, da CNN Brasil, não disse que um policial do Senado afirmou ter visto "infiltrados do PT" pedindo PIX durante os atos terroristas contra o prédio do Congresso Nacional, em 8 de janeiro. A publicação tirou de contexto um comentário dela para induzir uma suposta referência a petistas supostamente infiltrados nos atos terroristas (leia a checagem aqui).
Ricardo Capelli não confirmou infiltrados entre golpistas. Publicações distorceram uma resposta do então interventor do Distrito Federal usando trecho de uma fala da repórter Luciana Verdolin, do programa Prós e Contras da Jovem Pan. De acordo com ela, Cappelli teria dito que "havia, sim, pessoas infiltradas entre os manifestantes". Em seguida, a matéria exibe a fala de Cappeli, e ele não diz isso. Cappeli relata, na verdade, que ouviu de militares que os golpistas teriam treinamento profissional (leia a checagem).
Falso sobrinho do Zeca do PT. Publicações erraram ao afirmar que um homem barbudo e de óculos que aparecia nas imagens do ataque às sedes dos Três Poderes seria Marcelo Heitor, sobrinho de Zeca do PT, ex-governador do Mato Grosso do Sul. A informação é falsa. O homem não se parece fisicamente com Marcelo, que se pronunciou nas redes sociais.
Publicitário estava em Araraquara. O publicitário Fernando Brondi foi apontado por bolsonaristas como sendo o homem que aparece em um vídeo dizendo que levou três tiros durante a invasão —a gravação foi publicada pelo portal Metrópoles (aqui). Bolsonaristas associaram uma foto de Brondi ao homem do vídeo. Mas o empresário estava em Araraquara, no interior paulista. No mesmo dia, o presidente Lula visitou a cidade e Brondi publicou uma foto com ele.
Líder comunitário não estava em Brasília. O ativista do Complexo do Alemão Raull Santiago foi alvo de publicações falsas que o apontaram como suposto "segurança infiltrado" e como o homem que sentou na cadeira de Alexandre de Moraes durante a invasão ao STF. Tuítes do ativista do dia 8 de janeiro indicam que ele estava no Rio de Janeiro (aqui e aqui) (leia a checagem).
Bandeira do PT. O vídeo do momento em que um homem carrega a bandeira do PT durante a invasão às sedes dos Três Poderes foi usado para afirmar que esta seria a prova de que havia infiltrados petistas nos ataques. A cena, no entanto, mostra o momento em que a bandeira do PT é furtada do Congresso Nacional. O homem que a empunha aparece com uma faixa verde e amarela no pescoço. Outros três homens de camisa verde e amarela passam ao redor dele e um deles chuta uma vidraça. A cena foi registrada e divulgada pelo Portal Metrópoles no Youtube (veja aqui) e no Twitter (aqui) (leia a checagem).
Horário em relógio histórico não comprova infiltrados. Trazida por Dom João VI ao Brasil em 1808, a peça destruída por um bolsonarista durante a invasão ao Planalto não funcionava há pelo menos uma década, segundo a Secretaria de Comunicação da Presidência da República. É por isso que o relógio marcava 12h25 quando foi arremessado ao chão pelo homem, que usava uma camiseta estampada com o rosto de Jair Bolsonaro. A cena foi flagrada por uma câmera de segurança que mostrava o horário real da ação: 15h33 do dia 8 de janeiro (leia a checagem).
Homem que arremessou o relógio no chão não era militante do MST, nem tem o mesmo advogado que Adélio Bispo. O homem que aparece nas imagens foi identificado como Antônio Cláudio Alves Ferreira, de 30 anos. Ele foi preso em Uberlândia (MG) por agentes da Polícia Federal de Goiás (leia a checagem). Publicações falsas também afirmaram que ele teria o mesmo advogado de Adélio Bispo, o que também é mentira (confira a checagem aqui).
Falsas mortes
Foto de banco de imagem. A foto de uma idosa que morreu em outubro de 2022 foi usada para disseminar a mentira de que ela teria morrido dentro do ginásio da PF. O boato foi desmentido pela Polícia Federal. A família da idosa, Deolinda Tempesta Ferracini, se manifestou. "Fake news porca, nojenta", disse a neta de Deolinda, Juliana Oliveira, em vídeo nas redes sociais.
A foto foi retirada de um banco de imagens do marido de Juliana, o fotógrafo Edu Carvalho. A desinformação foi divulgada pelos deputados bolsonaristas Bia Kicis (PL-DF), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Osmar Terra (MDB-RS) e André Fernandes (PL-CE).
"Dona Nilma, dona Carmem e dona Leonira". Mesmo sem registro de mortes, bolsonaristas veicularam nas redes sociais que idosas identificadas como "dona Nilma Marson", "dona Carmem" e "dona Leonira Machado" teriam morrido no ginásio da Academia da PF. Mas os nomes não constavam na lista de presos divulgadas pela Seap-DF.
Outro nome que apareceu em posts sobre morte de idosas é Elizia Maria Gonçalves. Ela também não constava na lista de presas. A PF reafirma que não houve registro de mortes, e que entre os detidos, idosos, pessoas com problemas de saúde, em situação de rua e pais e mães acompanhados de crianças foram liberados (leia a checagem).
Morta por atropelamento. Uma outra publicação falsa usa reportagem de 2014 sobre uma idosa que morreu atropelada. A mentira sugere a vítima era uma das detidas nos atos golpistas e que a morte teria ocorrido a mando de Alexandre de Moraes (leia a checagem).
Soltura de presos
Tribunal de Haia. É falso que o TPI (Tribunal Penal Internacional) tenha mandado soltar presos pelos atos golpistas do dia 8 de janeiro. Não há informações sobre o caso nos canais oficiais da corte. O assunto também não aparece na lista de casos analisados pelo tribunal disponibilizada no site (leia a checagem).
STM não mandou soltar presos após visita de Marcos do Val. As prisões de golpistas são analisadas pelo STF, não pela Corte Militar (leia a checagem).
Lula
Foi o GSI, e não Lula, quem colocou em sigilo as imagens do 8 de janeiro que levaram à queda do ministro Gonçalves Dias. Em fevereiro, o jornal Folha de S.Paulo pediu acesso às imagens na íntegra. O órgão —não o Presidente da República— alegou riscos para a segurança das instalações presidenciais. Lula não teve acesso às imagens do então ministro do GSI antes da divulgação pela CNN Brasil, disse o ministro Paulo Pimenta à GloboNews. Pimenta ainda afirmou que o presidente foi informado que as imagens não existiam (leia a checagem).
Ex-ministro do GSI Gonçalves Dias não disse que Lula arquitetou atos golpistas. A suposta declaração não consta no depoimento dado pelo general à Polícia Federal, nem em declarações do ex-ministro à imprensa (leia a checagem).
General Dutra não disse que 'Lula armou o 8 de janeiro'. Publicações inseriram legenda falsa sobre vídeo recortado de matéria da Jovem Pan que noticiava o depoimento do ex-chefe do Comando Militar do Planalto na CPI dos Atos Golpistas da Câmara Legislativa do DF (leia a checagem).
Lula foi a Araraquara (SP) e voltou a Brasília no mesmo dia. Posts distorceram o conteúdo de um vídeo que mostra o presidente Lula no Palácio do Planalto na noite de 8 de janeiro ao dizer que é mentira que ele estivesse em Araraquara naquele dia. Lula foi em Araraquara em 8 de janeiro, estava lá no momento da invasão aos prédios dos Três Poderes, e voltou à Brasília no mesmo dia. Por isso, ele só aparece nas imagens de 21h26 no 3º andar do palácio (leia a checagem).
Mentores e lideranças dos atos golpistas
Não é Sofia Manzano, do PCB, mas pastora presa no ato golpista a mulher que aparece em vídeo orientando bolsonaristas a deixarem um acampamento. Pastora Thereza Helena admitiu que é ela quem aparece no vídeo (leia a checagem).
Imagem mostra ministros discutindo no Planalto após atos golpistas, não antes. É falsa a afirmação de que uma foto compartilhada no TikTok mostre ministros do governo Lula articulando os atos golpistas do 8 de janeiro. O registro é um print de uma das imagens divulgadas pelo GSI que mostra os auxiliares do presidente discutindo no Palácio do Planalto após a depredação provocada pelos golpistas (leia a checagem).
Ex-ministro do GSI não citou José Dirceu como mentor dos atos golpistas. Texto usado como print no post desinformativo não faz menção a José Dirceu. Além disso, documento da PF obtido pelo UOL não indica que Gonçalves Dias tenha citado José Dirceu durante o depoimento (leia a checagem).
Traficante morto no Rio não liderou atos golpistas. É falso que o traficante conhecido como "PQD", morto pela polícia na Cidade de Deus (RJ) no dia 18 de abril, tenha liderado os atos golpistas de 8 de janeiro. Não há notícias na imprensa ou canais oficiais públicos que relacionem os dois casos. Wallace Leite Gomes também não consta na lista de presos pelos atos (leia a checagem).
Ações, apoios e participantes
Constituição pega por golpistas era réplica, não original. A original está em um museu do STF. Outra versão original está no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. A réplica foi recuperada dias depois (veja aqui) (leia a checagem).
Nem Putin, nem Leo Chaves. Um vídeo em que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, falava sobre a situação da guerra na Ucrânia foi usado em publicações falsas como se ele estivesse manifestando apoio aos atos golpistas (leia a checagem). O cantor sertanejo Leo Chaves também teve um vídeo distorcido nas redes. Posts usaram uma gravação de 2018 em que ele manifesta apoio à greve dos caminhoneiros como se ele estivesse declarando apoio aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 (leia a checagem).
Funcionário do Banco do Brasil não é o homem que teria defecado no STF. O Banco do Brasil divulgou um comunicado afirmando que fez uma apuração interna e comprovou que se tratava de uma informação falsa. O homem que foi falsamente apontado como o golpista, Thiago Albuquerque, afirmou que nem estava em Brasília no dia (leia a checagem).
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