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Eymael cogita largar velho jingle e investir em conteúdo nas redes sociais

Aos 74 anos, o ex-deputado federal parte para sua quarta candidatura a presidente do país - Alexandre Moreira/Brazil Photo Press/Folhapress
Aos 74 anos, o ex-deputado federal parte para sua quarta candidatura a presidente do país Imagem: Alexandre Moreira/Brazil Photo Press/Folhapress

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

09/05/2014 06h00

O PSDC (Partido Social Democrata Cristão) confirmará em junho a quarta candidatura de José Maria Eymael à Presidência da República. Neste ano, o ex-deputado federal afirma querer adotar uma estratégia diferente de outras campanhas. Ele cogita abandonar seu famoso jingle de quase 30 anos e promete apostar em conteúdo e também nas redes sociais.

Quinto colocado na última eleição presidencial, o democrata cristão diz sonhar com a ida ao segundo turno desta vez. Apoiou Dilma Rousseff (PT) no segundo turno de 2010, afirma que se encantou com a presidente no início do mandato, mas se desencantou.

Eymael aponta a falta de planejamento e o aparelhamento do estado com indicações políticas em cargos de gestão como problemas da administração petista. Declara que a população deseja mudanças. Fala que reduziria a quantidade de ministérios, mas promete criar duas pastas novas: a da Segurança Pública e a da Família.

O democrata cristão exerceu dois mandatos como deputado federal. No primeiro, teve a oportunidade de participar da elaboração da atual Constituição, da qual é um defensor.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista concedida por Eymael ao UOL.

UOL: Por que ser candidato a presidente pela quarta vez?

Essa quarta candidatura é a busca de conquista de poder. E para quê poder? Fazer o quê com o poder? Fazer cumprir a Constituição. 

UOL: O sr. tem experiência parlamentar. Não pensou em se candidatar novamente a deputado ou a senador e voltar ao Congresso?

Eu tive já essa tentação. Porque sei que eu me elegeria. Mas a minha missão é muito maior. Minha missão é tornar a democracia cristã uma grande força política no nosso país. E ela está nesse caminho. A eleição municipal de 2012 já mostrou o nosso crescimento.

UOL: O que sr. pensa a respeito das regras de financiamento de campanha? Qual seria o modelo ideal?

Acho que o financiamento público de campanha é uma coisa positiva. O grande receio que nós temos é como seria [a divisão dos recursos]. Se for de acordo com o tempo de televisão, seria um desastre para nós. Hoje não existe uma igualdade de oportunidade na área política. 

UOL: Que tempo de TV e rádio o PSDC deve ter na campanha?

Deve dar 50s. Mas temos uma visão clara: o campo de batalha não vai ser a televisão e o rádio. O campo de batalha da eleição de 2014 são as redes sociais. É aí que a eleição vai ser decidida. 

UOL: Como o PSDC se posicionou no segundo turno nas últimas eleições?

Os Estados ficaram com liberdade para apoiar os candidatos que entendessem. Aqui em São Paulo nós apoiamos a presidente Dilma. Porque imaginávamos que uma mulher podia fazer a diferença. Ela tinha sido a gestora do PAC. E nós chegamos a ter um encantamento. Eu, pessoalmente, cheguei a ter um encantamento pela presidente Dilma. Naquele momento em que ela tomou a iniciativa de afastar as pessoas acusadas de corrupção, acreditei que o Brasil poderia tomar outro rumo. E nós tivemos um programa em cadeia nacional onde incentivei a presidente Dilma a não recuar. O PSDC foi o único partido que, em cadeia nacional, hipotecou solidariedade à presidente Dilma na sua luta contra a corrupção. Infelizmente, esse encantamento durou muito pouco e logo acabou.

UOL:  Qual sua avaliação sobre os protestos de 2013?

Fantástico. Como é que foi a democracia cristã em relação a isso? Nós nos antecedemos a isso. No fim de janeiro, tinha ocorrido aquela tragédia [na boate Kiss] de Santa Maria, que poderia ter sido evitada. Então, na mensagem do presidente nacional [do PSDC], de 5 de fevereiro [de 2013], nós definimos como palavra de ordem dos brasileiros a inconformidade. Elencamos uma séria de inconformidades: com a saúde pública, com a educação pública, com a segurança, com a tragédia de Santa Maria. (...)

UOL: Que efeitos o sr. prevê nas eleições?

Mudança. A palavra de ordem no país hoje é mudança.

UOL: As pesquisas apontam uma grande quantidade de pessoas com inclinação para votar em branco e anular o voto.

Começamos uma campanha nas redes sociais estabelecendo que os grandes inimigos da mudança são o voto nulo e o voto em branco. O governo atual conta com os votos em branco e com os votos nulos para evitar o segundo turno. Estamos nas redes sociais denunciando isso.

UOL: O sr. manteria programas do atual governo como o Mais Médicos?

Essencialmente, eu manteria todos os programas. Na questão do Mais Médicos, como um processo de transição. O que temos que ter é formar mais médicos no Brasil e criar condições... Qual é a grande dificuldade de um médico brasileiro ir para cidades longínquas? Não tem estrutura, não tem nada.  Claro que tem que manter o Bolsa Família. Você tem que ter uma porta de saída. Para que as pessoas almejem crescer e se desenvolver para ganhar mais que o Bolsa Família. O programa tem que ser mantido, mas que tem que criar incentivos para as pessoas buscarem uma porta de saída.

UOL: O sr. ampliaria o número de beneficiários e o valor pago pelo Bolsa Família?

O crescimento do Bolsa Família tem que ser correspondente ao número de famílias que dele dependem.

UOL: Na condução da política econômica, o que o sr. faria?

Uma rigidez dos gastos públicos.

UOL: Qual deve ser o centro da meta de inflação?

2% ao ano.

UOL: Ele valeria a partir de que ano?

A partir do primeiro ano do mandato.

UOL: Que redes sociais o sr. usa?

Instagram, Twitter, Facebook e um pouco o YouTube.

UOL: O sr. está montando uma equipe para cuidar das redes sociais na campanha?

Já temos. Vamos ter um exército.

UOL: De quantas pessoas?

No Brasil, queremos chegar a ter 5.000 voluntários.

UOL: Quantas pessoas tem a equipe profissional do partido para cuidar dessa área?

Hoje, aqui na sede [em São Paulo], temos cinco pessoas trabalhando isso. Esse número vai ser aumentado.

UOL: O sr. é a favor ou contra a reeleição nos cargos majoritários?

Sou contra a reeleição. Tem que haver uma renovação permanente no processo político.

UOL: Quantos anos deve durar o mandato?

Cinco anos.

UOL: O sr. é a favor ou contra a redução da maioridade penal?

Hoje sou favorável. Fui muito reticente em relação a isso. Mas hoje tenho a consciência de que é necessária a redução da maioridade penal para 16 anos.

UOL: Por quê?

Porque hoje um marginal de 16 e 17 anos não é pessoa utilizada por outros. Ele planeja, ele sabe o que ele quer, tem a perfeita visão do crime que vai cometer e o pratica. E mais: um dos incentivos para a prática do crime é a consciência que ele tem de que é menor. Ele é o agente. Agora, quando se fala na área penal, não pode se conformar com o sistema penitenciário brasileiro, que não recupera absolutamente ninguém.  Não adianta querer baixar a maioridade penal de 18 para 16 anos se você não tem uma perspectiva de recuperação. É uma questão de inteligência. O criminoso sai depois. Só que ele sai carregado de ódio. A sociedade que o penaliza com a prisão não lhe dá condições de recuperação. Ao contrário. Ele vive uma situação absurda. Ao lado promover uma redução da maioridade penal, você tem que ter um agravamento das penas quando o menor for utilizado por maiores.

UOL: Em relação ao aborto, o sr. é a favor ou contra a descriminalização?

Contra. A posição da democracia cristã é a manutenção das três hipóteses que hoje existem [para o aborto]: o estupro, o perigo de vida [para a mulher] e o feto destituído de cérebro.

UOL: O sr. é favorável à descriminalização da maconha?

[A descriminalização] é um equívoco. A maconha é a porta de entrada da droga.

UOL: O sr. é a favor ou contra ensino religioso obrigatório?

De acordo com a Constituição. A Constituição diz que é possível.

UOL: Mas não obrigatório.

Não obrigatório.

UOL: O sr. se considera um conservador?

Transformador. Toda a minha história é de transformação.

UOL: Incomoda se alguém o chama de conservador?

Incomoda pela contradição que essa palavra representa. Como é que pode ser um conservador quem é o autor de todos os avanços sociais [na Constituição]? Como é que pode ser um conservador quem promoveu essa proteção forte do contribuinte contra o estado [na Constituição]?

UOL: Esses temas, como drogas e aborto, merecem ter um peso grande na campanha e na decisão do voto ou devem ser evitados?

Nenhum tema deve ser evitado. Mas acho que coisa consistente para a Presidência da República é falar do novo Brasil que a gente quer. É a denúncia do que nós temos e a proposição do que nós queremos. E a sociedade quer isso.

UOL: Qual é a história do seu jingle de campanha?

O jingle nasceu na campanha de 85. Éramos um pequeno grupo. Estávamos reunidos ao redor de uma mesa discutindo com que nome eu deveria ser candidato. E a reunião ia para o seu final com uma certeza: eu poderia ser candidato como J.M., J. Maria, Zé Maria, mas não com o nome de Eymael. Porque Eymael era um nome difícil, tinha um “y” no meio para complicar. Aí um companheiro nosso, José Raimundo de Castro, ergueu o braço e disse o seguinte: se a gente ensinar o povo a dizer Eymael, o povo não esquece mais. E pediu dois dias para encontrar um jeito. Aí se reuniu com outros companheiros compositores e teve a genialidade de ver no “y” o “i” brasileiro. E assim começou o jingle. E ele já aproveitou para dizer o que o Eymael era: um democrata cristão. O jingle foi importante para a popularização do nome, deu a sua contribuição à minha carreira política. Mas hoje o jingle para nós é só uma moldura. Hoje todo o nosso investimento é em conteúdo.

UOL: O jingle vai continuar sendo usado?

Estamos examinando em que margem ele será utilizado. Essa é uma decisão: o jingle não pode ser obscurecer o conteúdo nem ser o agente principal. Hoje estamos questionando inclusive se o jingle vai ser usado.

UOL: Existe a possibilidade de não usar o jingle?

Existe a possibilidade de não usar o jingle. Não queremos nada que prejudique o conteúdo.

UOL: Em um eventual segundo turno, caso o sr. não esteja no segundo turno, o sr. tende a apoiar a candidatura governista ou uma de oposição?

A nossa obsessão hoje é chegar ao segundo turno. Se a gente não chegar no segundo turno, você vai ver isso depois.