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Levy se assume como "candidato da direita" e promete defender ditadura

Levy concedeu entrevista ao UOL em seu escritório no bairro de Moema, área nobre da capital paulista - UOL
Levy concedeu entrevista ao UOL em seu escritório no bairro de Moema, área nobre da capital paulista Imagem: UOL

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

17/06/2014 06h00

Publicitário, jornalista e “consultor internacional em mobilidade urbana”, Levy Fidelix mais uma vez disputará uma eleição presidencial pelo PRTB (Renovador Trabalhista Brasileiro), legenda que trata como um filho. Será o 13º pleito no currículo de Levy, o segundo na condição de presidenciável.

Em eleições anteriores, já tentou ser governador, prefeito, deputado federal e até vereador, sempre com votações irrisórias, inferiores a 1% do eleitorado. A explicação de Levy para o fraco desempenho é a existência de um complô contra a sua figura. Ele se diz roubado pelas urnas eletrônicas e pesquisas, além de perseguido pela imprensa. Acusa, ainda, outros políticos de se apropriarem de suas ideias.

Para enfrentar toda essa conspiração, “o homem do aerotrem”, como se autodeclara, tem um trunfo para as eleições presidenciais de outubro: irá se apresentar como o único candidato de direita, inclusive com promessa de defesa da “revolução” de 1964 em pleno horário eleitoral, diferentemente do que fez nas eleições anteriores.

A mudança de foco tem uma explicação: em 2014, o PRTB irá emprestar a sigla para candidatos do Partido Militar Brasileiro (PMB), que não obteve o registro na Justiça Eleitoral em tempo hábil. A esperança de Levy é que o discurso conservador alavanque as candidaturas do PRTB, elevando de dois para pelo menos dez o número de deputados federais. Com esta bancada, ele espera barganhar ao menos um ministério no próximo governo, seja qual for o presidente.

Sempre esbanjando amor próprio, Levy critica a corrupção dos partidões, mas vê com naturalidade a presença no PRTB de políticos ficha-suja, como o ex-senador Luiz Estêvão e o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz. Conhecido pela aparição constante nas eleições e pelo estilo peculiar, Levy nega que viva da política e rejeita o rótulo de político caricato. 

Veja abaixo a entrevista de Levy ao UOL.

UOL - O que o senhor faz no dia-a-dia além da política?
Levy Fidelix -
Sou consultor internacional em mobilidade urbana. Você sabe muito bem que eu tenho ido muito à Europa e voltado trazendo ideias e conceitos. Sou jornalista, escrevo colunas, tenho uma atividade grande. Tenho uma empresa na área de mineração em Minas Gerais. Sou um camarada que não vivo da política, vivo na política. Antes de estar no PRTB, trabalhei durante dez anos em comércio internacional dirigindo uma trade company. Conheço o mundo, 40 e tantos países. Já exportei café, suco, até carro da Gurgel pra Arábia Saudita. Trouxe até cavalo da Argentina. Tenho know-how e conhecimento internacional.

UOL - O senhor já se candidatou várias vezes a vários cargos, sempre com votações irrisórias. Por que continua se candidatando?
LF -
Água passada não roda moinho. Pra começar, não confio nessas urnas eletrônicas. É uma fraude só, um roubo só. Esses computadores têm dois tipos de contabilidade: um virtual e um real. Eu, como partido, tenho como meta divulgar a política ideológica do PRTB. São conceitos e valores. Quem já deu mais contribuição nos últimos dez anos em termos de ideias e conceitos fui eu, com certeza. O anel viário em São Paulo foi ideia do Levy Fidelix em 1994 e hoje é o Rodoanel. O aerotrem está aí sendo feito, duas linhas em São Paulo, só mudaram o nome para monotrilho, que é a mesma coisa. Hoje em dia temos a cesta básica desonerada em 15% graças a Levy Fidelix. A dona Dilma [Rousseff] permitiu agora que se faça investimentos, o PAC dos Desastres Ecológicos, em cima do meu projeto das calamidades públicas. A minha contribuição tem sido efetiva.

UOL - Todos esses programas e propostas já existiam com outros nomes em outros lugares. Anel viário, por exemplo, existe em várias cidades.
LF -
Há 20 anos não existia anel viário. Nem em São Paulo, nem em lugar algum. Marco Polo não inventou a pólvora, ele a trouxe da China para o mundo ocidental. Eu também trouxe a ideia do exterior para o Brasil. Não sou engenheiro, não fiz nenhum anel viário, mas eu trouxe a ideia para o mundo político. Não sou um cara vazio. Construí uma história em 20 anos.

UOL - O que o senhor está achando do monotrilho em São Paulo?
LF -
Eu acho que tá muito feio. Na minha concepção deveria ser mais leve, como na concepção europeia. Eles fizeram uma concepção importada da Malásia. O perfil europeu são colunas de ferro muito estreitas e você já as traz pré-moldadas. Essas empreiteiras querem ganhar muito dinheiro e fazem obras suntuosas, muito grandes, feias, com cimento. Não precisa desse peso todo. Realmente é muito feio, ele é muito “minhocão” pro meu gosto. Eu faria diferente.

UOL - Qual sua opinião sobre a ditadura militar?
LF -
Pra mim não foi ditadura, foi revolução de 31 de março de 64, e considero que foi muito boa para o Brasil. Não foi ditadura porque ditadura é de Fidel Castro. Se nós tínhamos certas reservas para com a questão de liberdade total e integral, nós tínhamos em marcha um processo de desenvolvimento do Brasil. Houve muito progresso nesse campo com algumas reservas no campo da liberdade, mas sem dúvida nenhuma foi muito menos do que Cuba, Rússia, que outras ditaduras de carnificina no mundo.

UOL - O senhor falará isso tudo em um programa eleitoral?
LF -
Vou falar, claro. Sou um cara afinado com a linha de centro-direita porque acredito que nós temos que ter no Brasil ordem para que tenhamos progresso, para que tenhamos um Estado de Direito de direita. Aliás, o próprio nome diz: não é um Estado de Direito da esquerda.

UOL - Nunca vi no programa eleitoral, ou quando o senhor fala publicamente, uma defesa tão clara da ditadura.
LF -
Você me perguntou agora. O dia em que me perguntarem, eu falo.

UOL - Essa vai ser a bandeira do senhor, o candidato da direita?
LF -
Claro. Serei o candidato da direita. Tanto assim que meu slogan é “vamos endireitar o Brasil”.  Veja bem: Dilma, Eduardo [Campos] e Aécio [Neves]. Os três são todos de centro-esquerda. À direita quem tem? Levy Fidelix.

UOL - Como o senhor acha que é visto pelas pessoas?
LF -
Primeiro, sou injustiçado. Todo mundo sabe que sou roubado. Meus votos não aparecem nas urnas. O gato come. Segundo, [sou visto como] um cara criativo, que sempre dá ideias e conceitos. Um cara bom. De bom coração e criativo. E aquele injustiçado que um dia vai ganhar. Na hora que acabarem com o roubo e a fraude e que eu tiver recursos na mão.

UOL - O senhor acha que se tivesse em um partido grande teria chance de se eleger?
LF -
Total. Aliás, já fui convidado pelo PSDB. PMDB já me convidou para fazer fusão, sabendo que sou um quadro referencial e que poderia me eleger, inclusive, sei lá, até para a Presidência [da República]. Agora, eu insisto na independência de um partido menor. Essa corrupção geral nesses grandes partidos...

UOL - O senhor fala em corrupção, mas um quadro e possível candidato do PRTB no Distrito Federal é o ex-senador Luiz Estevão.
LF -
Não é, não. Veja bem. Ele está lá no meu partido, mas quem é presidente é a filha dele. O [Joaquim] Roriz também está no meu partido. O [Fernando] Collor já esteve.

UOL - Essas figuras têm um histórico...
LF -
Elas estão no meu partido porque viram um novo caminho. Essas pessoas não foram ainda julgadas na sua totalidade. O Collor, por exemplo, se elegeu no PRTB. Foi eleito pelo PRTB, e agora tá no PTB. Depois de 20 anos foi inocentado. Agora, quem paga a indenização pra ele? O PRTB tem chance real de eleger dez, 12 deputados federais. Eleger o Roriz governador. O PRTB, ao longo dos anos, está crescendo com suas próprias pernas e com fundo partidário exíguo. Eu tô com um bodoque e eles estão com um canhão.

UOL - Por que chamar Luiz Estevão para o partido?
LF -
Porque ele é um grande articulador em Brasília, é respeitado, teve a maior votação como senador e está fazendo um partido para ter dez deputados entre federais e distritais lá. Agora, e por que não? Ele é alguma má pessoa, um escroque?

UOL - Ele foi preso, cassado.
LF -
Cassado? Mas, e daí?

UOL - Como o senhor vai criticar a corrupção dos outros partidos?
LF -
Zé Dirceu não está lá no PT? O [José] Genoino?

UOL - Mas o senhor vai igualar o PRTB aos outros que critica?
LF -
Mas todos são iguais. Se existe diferença, existe em ter a maioria boa. Se eu tenho 1% (ruim), o resto, 99%, é bom. Agora, lá não. São 30% de pessoas que não podem ter mandato. Nosso percentual é menor.

UOL - A militância do PRTB não contribui com doações?
LF -
Muito pouco. Zero.

UOL - Mas o partido tem 150 mil filiados. Se cada um der R$ 10, já é mais do que vocês recebem com o fundo partidário.
LF -
A gente não cobra como fazem no PT, PSDB, PSOL. Eles cobram do militante. Aqui o partido é livre.

UOL - Não é do interesse da militância doar para o partido?
LF -
É de interesse, mas não é obrigação pagar.

UOL - Mas eu estou falando de R$ 10 por militante.
LF -
Meu caro jornalista, então você vai ter de convencer esse povo, porque eles não querem pagar nada. Aliás, eles usam isso aqui e ainda querem que eu dê comida (risos).  Não é fácil não.

UOL - O patrimônio do senhor aumentou de R$ 107 mil em 2006 para R$ 410 mil em 2012. Como o senhor o quadruplicou?
LF
- Eu trabalho. Que patrimônio excepcional é esse? E outro detalhe, o senhor não é a Receita Federal para eu ficar te respondendo particularidades. Tenho 62 anos. Há 40 anos eu trabalho. Tenho direito de ter esse patrimônio.

UOL - O senhor tirou um pouco de foco a proposta do aerotrem. Antes ela aparecia muito, hoje, menos.
LF -
Se eu tô tratando de uma campanha de ordem nacional, não tão local, onde o foco é mais em questões de mobilidade urbana, eu tenho que tratar de outros temas. Não é que eu tirei. Ela faz parte do conjunto de mobilidade urbana (...) agora, você tem de falar de educação, saúde, greves, macroeconomia. Um presidente da República não pode tratar só de mobilidade urbana. É questão de priorizar mais ou menos.

UOL - O senhor acha que é perseguido pelas urnas eletrônicas, pelas pesquisas, pela mídia, pelo sistema político. E que inclusive copiam suas ideias sem lhe darem o devido crédito. Por que o senhor acha que existe tudo isso contra o senhor?
LF -
É uma grande conspiração porque esse pessoal não gosta da verdade que eu sempre tenho falado. Por exemplo, os bancos. Eu sempre ataco os bancos porque praticam taxas exorbitantes em conluio, inclusive, com o governo federal. Você acha que os bancos, que são donos dos principais jornais, veem um cara como eu, político, e vai deixar o editorialista do jornal falar de mim, bem ou mal? Não vai.

Quanto à urna eletrônica, não sou eu que falo não, se você entrar na internet e colocar assim: "urnas eletrônicas fraude no Brasil”, você vai encontrar mais de três milhões de casos. E o TSE até hoje não veio responder questões minhas. A calibragem das pesquisas [eleitorais] de estar de acordo com a roubalheira da urna. Então se faz todo o teatrão. O povo vai votar e não vale nada. Pra mim tem que voltar o papelzinho.

UOL - Esse complô o impede de decolar, vencer uma eleição?
LF -
Como homem da publicidade, da comunicação, sei bem que se você um produto na vitrine, uma vez, ninguém se lembra. Duas vezes, não lembra. Três vezes, começam a lembrar. Cinco vezes, dez vezes... E o Levy Fidelix, que tá há 20 anos? Você acha que não votam em mim? Claro que votam, rapaz, mas o resultado não aparece. Já pedi muitas vezes que se paralisassem as urnas eletrônicas porque eu queria ver os resultados, eles não deixam abrir as urnas eletrônicas. Se ela não pode ser aferível, não é confiável.

UOL - Como são essas fraudes nas urnas eletrônicas? Quem frauda?
LF -
São fraudes eletrônicas. Não é o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mas o processo permite fraudes. Não é confiável.

UOL - O senhor se considera um político caricato?
LF -
Não, caricato por quê? Sou um cara sério, honesto, bom.

UOL - Caricato por sua retórica.
LF -
Não, jamais. Não gosto, sou até um cara fechado. Não gosto de pilhéria, gozação. Se fazem, são os meus adversários, que não têm o que falar de mim. Caricato, jamais!