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Vazamentos da Lava Jato

"A verdade fica doente, mas não morre", diz Lula a advogado

Vinicius Konchinski

Colaboração para o UOL, em Curitiba

11/06/2019 12h24Atualizada em 10/09/2019 17h33

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na manhã de hoje aos seus advogados estar surpreso com o grau de "promiscuidade" da relação entre os integrantes da operação Lava Jato e o ex-juiz federal e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, após a divulgação de conversas pelo site The Intercept Brasil no último domingo.

Em reunião com seus defensores, ele ratificou que já sabia do suposto conluio entre seus acusadores e seu julgador, mas ressaltou que não esperava que isso se tornasse público tão rapidamente.

A verdade fica doente, mas não morre nunca
Lula, ao comentar a divulgação das conversas, segundo seu advogado José Roberto Batochio

O advogado José Roberto Batochio esteve com Lula por cerca de duas horas na carceragem da PF (Polícia Federal) em Curitiba (PR), onde o ex-presidente está preso desde abril de 2018 por conta de uma acusação de corrupção feita pela própria Lava Jato. O advogado Cristiano Zanin, que também defende o ex-presidente, participou da visita.

Zanin explicou que o teor das conversas deve ser usado por recursos que a defesa do ex-presidente apresentará à Justiça em busca de sua liberdade. Ele disse que a estratégia para apresentação desses recursos ainda está em discussão pela equipe que defende Lula. Segundo apuração do blogueiro Jamil Chade, do UOL, a defesa já definiu que usará as conversas no processo que será levado ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU.

Para Zanin, o conteúdo das reportagens divulgadas pelo The Intercept confirma o que ele e outros advogados do ex-presidente vêm afirmando há anos. "As reportagens reforçam que o ex-presidente não teve direito a um julgamento imparcial", afirmou ele. "O material mostra que o ex-juiz Sérgio Moro não atuou como um juiz equidistante. Atuou como um coordenador da acusação, que depois proferiu um veredicto que ele próprio ajudou a construir".

Batochio afirmou que a Constituição Federal estabelece que nenhum julgamento é válido caso o juiz não seja imparcial. Ele afirmou que o STF (Supremo Tribunal Federal) é a Corte que deve zelar pelo cumprimento da Constituição e espera que o Supremo se pronuncie sobre o caso. Ao mesmo tempo, ele respondeu a Moro, que minimizou a importância dos diálogos.

"Ele [Moro] disse que sempre recebeu advogados e tratou todo de forma igual. Eu mesmo não fui recebido por ele", lembrou, citando a ocasião do primeiro interrogatório de Lula na Justiça Federal do Paraná. "Com os acusadores, o tratamento era muito diferente, não?", explicou Batochio.

As conversas vazadas de Moro

Vazamentos revelam que Moro orientava investigações da Lava Jato

UOL Notícias

As mensagens publicadas pelo site The Intercept Brasil no domingo indicam suposta interferência de Moro em ações conduzidas pelo MPF (Ministério Público Federal). A força-tarefa da Lava Jato confirmou o vazamento das mensagens, mas disse que não há nenhuma ilegalidade revelada pelo conteúdo.

Foram divulgados trechos de conversas de grupos da força-tarefa no Telegram, aplicativo de mensagens, que teriam sido trocadas entre 2015 e 2018 e obtidos pelo site com uma fonte anônima.

Nas conversas, os procuradores da Lava Jato também discutiram maneiras de evitar que fosse realizada uma entrevista de Lula ao jornal "Folha de S. Paulo", autorizada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski, durante o segundo turno das eleições do ano passado.

A preocupação, segundo os diálogos revelados pelo site, era de que a entrevista pudesse ajudar a eleger o então candidato à Presidência Fernando Haddad (PT) ou "permitir a volta do PT". A entrevista com a colunista Mônica Bergamo aconteceria menos de duas semanas do primeiro turno das eleições. Haddad foi para o segundo turno e acabou derrotado por Jair Bolsonaro (PSL).

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