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Vazamentos da Lava Jato

Novas mensagens de Moro mostram perseguição pessoal a Lula, diz defesa

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concede entrevista à Folha e ao El País dentro da sede da PF, em Curitiba - Marlene Bergamo/Folhapress
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concede entrevista à Folha e ao El País dentro da sede da PF, em Curitiba Imagem: Marlene Bergamo/Folhapress

Gabriel Sabóia e Bernardo Barbosa

Do UOL, no Rio e em São Paulo

15/06/2019 12h37

A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se manifestou após a divulgação na noite de ontem pelo The Intercept Brasil de novas mensagens atribuídas ao ex-juiz federal Sergio Moro. Segundo reportagem do site, Moro sugeriu ao MPF (Ministério Público Federal) a publicação de uma nota contra o que chamou de "showzinho" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de sua defesa durante e após interrogatório relativo ao processo do tríplex de Guarujá (SP) pelo qual foi condenado.

Em nota, os advogados de Lula afirmam que "é estarrecedor constatar que o juiz da causa, após auxiliar os procuradores da Lava Jato a construir uma acusação artificial contra Lula, os tenha orientado a desconstruir a atuação da defesa técnica do ex-Presidente e a própria defesa pessoal por ele realizada durante seu interrogatório".

O comunicado também afirma que Moro teria interesses diretos em atacar Lula e os seus advogados. "As novas mensagens reveladas, para além de afastar qualquer dúvida de que o ex-juiz Sergio Moro jamais teve um olhar imparcial em relação a Lula, mostram o patrocínio estatal de uma perseguição pessoal e profissional, respectivamente, ao ex-Presidente e aos advogados por ele constituídos", conclui.

As mensagens citadas datam de 10 de maio de 2017, quando Lula prestou depoimento em Curitiba para esclarecimentos sobre a ação penal --a primeira apresentada contra ele pela Lava Jato. Após o interrogatório, os advogados do petista concederam entrevista à imprensa, e o próprio ex-presidente participou de um ato na capital paranaense, em que declarou que se candidataria à Presidência em 2018.

As mensagens vazadas pelo site indicam que Moro orientou e fez sugestões ao MPF. Naquele dia, Moro questionou, segundo o The Intercept Brasil, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima: "O que achou [do interrogatório]?". O procurador então responde que "ficou muito bom. Ele [Lula] começou polarizando conosco, o que me deixou tranquilo." Em seguida, Moro comenta a cobertura feita pela imprensa: "A comunicação é complicada, pois a imprensa não é muito atenta a detalhes".

Um minuto depois, Moro sugere ao procurador "editar uma nota esclarecendo as contradições do depoimento [de Lula] com o resto das provas ou com o depoimento anterior dele. Por que a defesa já fez o showzinho dela."

As falas de Moro no início daquele depoimento, conforme apurado pelo The Intercept Brasil, demonstram contradição com sua atuação nos aplicativos de mensagens. "Também vamos deixar claro que quem faz a acusação nesse processo é o Ministério Público, e não o juiz. Eu estou aqui para ouvi-lo e para proferir um julgamento ao final do processo", disse Moro ao abrir a audiência com Lula.

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Entrevista com a Globo ou nota

Naquele mesmo dia, Santos Lima conjecturou junto aos assessores do MPF uma entrevista "com alguém da Globo em Recife". Ele participaria no dia seguinte de um congresso jurídico no Centro de Convenções da capital pernambucana e daria entrevistas sobre o caso.

Em relação à nota que poderia ser elaborada para contra-atacar a defesa de Lula, Santos Lima conversa com Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato, e compartilha com ele a orientação feita por Moro. Dallagnol, então, reitera o pedido para os assessores de imprensa da força-tarefa em um grupo formado por membros da operação e assessores do MP.

"Caros, mantenham avaliando a repercussão de hora em hora, sempre que possível, em especial verificando se está sendo positiva ou negativa e se a mídia está explorando as contradições e evasivas. As razões para eventual manifestação são: a) contrabalancear as manifestações da defesa. Vejo com normalidade fazer isso. Nos outros casos não houve isso. b) tirar um pouco o foco do juiz que foi capa das revistas de modo inadequado", escreveu Deltan. Aos assessores, nem ele nem Carlos Fernando informam que a orientação partira de Moro.

Os assessores tentam alertar os procuradores sobre os problemas de emitir uma nota sobre o caso. "É uma parte do processo. Na minha visão é emitir opinião sobre o caso sem ele ter conclusão e abrir brecha pra dizer que tão querendo influenciar juiz. Papel deles [defesa de Lula] vai ser levar pro campo político. Imprensa sabe disso. E já sabe que vcs não falam de audiências geralmente. Mudar a postura vai levantar a bola pra outros questionamentos", escreveu um assessor.

Após uma longa conversa, da qual participam diversos procuradores, a força-tarefa decide publicar a nota, segundo a qual a defesa de Lula mentiu ao dizer que não teve acesso a um dos documentos apresentados pelo MP. Ainda no dia seguinte ao depoimento, o procurador Carlos Fernando Silva concedeu entrevista a alguns veículos de comunicação apresentando o que a operação viu como contradições de Lula durante seu interrogatório.

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Defesa se manifesta sobre menções a Marisa

Durante o debate no grupo "Filhos de Januário 1" sobre falar na imprensa ou não sobre o interrogatório do ex-presidente, o procurador Santos Lima sugere que os assessores deveriam abordar as menções que Lula fez a sua ex-mulher, Marisa Letícia, falecida três meses antes do depoimento.

"Eu iria direto na jugular, falando que culpar quem morreu é uma tática velha de defesa", escreveu Santos Lima. No depoimento, o ex-presidente disse que não tinha interesse no tríplex, e que não sabia o motivo de Marisa ter visitado o imóvel duas vezes.

De fato, em entrevista ao Broadcast Político, do Grupo Estado, no dia seguinte ao interrogatório, Carlos Fernando comentou as declarações em que Lula citava Marisa.

Na mesma conversa, o procurador Antônio Carlos Welter afirma que "a grande imprensa não vai comprar a tese do Lula e não vai ver excessos do Juiz ou do MPF" e diz que o momento é de a força-tarefa se recolher —ainda na discussão sobre a publicação de nota rebatendo a defesa do ex-presidente.

Carlos Fernando então responde: "Vemos as repercussões e decidimos amanhã. Mas se for para fazer, que seja eu, pois não sou de ficar na defensiva".

Em nota, a defesa de Lula cita este trecho do diálogo.

"É repugnante, ainda, constatar que a campanha midiática ocorrida em maio de 2017 objetivando atacar a memória de D. Marisa Letícia Lula da Silva tenha sido tramada pela Lava Jato, como também revelam as mensagens do The Intercept. Tais fatos, públicos e notórios, reforçam o que sempre defendemos nos processos e no comunicado encaminhado em julho de 2016 ao Comitê de Direitos Humanos da ONU: Lula é vítima e o ataque aos seus advogados é uma das táticas utilizadas para essa prática nefasta".

O que disseram Moro e procurador após reportagem

Por meio de nota, Moro se manifestou depois da publicação da nova reportagem do The Intercept Brasil.

O ministro reiterou que "não reconhece a autenticidade e não comentará supostas mensagens de autoridades públicas colhidas por meio de invasão criminosa de hackers e que podem ter sido adulteradas e editadas. Reitera-se a necessidade de que o suposto material, obtido de maneira criminosa, seja apresentado a autoridade independente para que sua integridade seja certificada".

Em sua conta em uma rede social, Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou que "desconhece completamente as mensagens citadas, supostamente obtidas por meio reconhecidamente criminoso". O procurador também cobra explicações do The Intercept Brasil em relação aos meios através dos quais o material teria sido obtido.

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