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Clique Ciência: é possível ensinar um cachorro a falar?

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Colaboração para o UOL

06/12/2016 12h58

Chaser é uma cachorrinha da raça border collie que reconhece mais de 1.000 brinquedos pelo nome. Para conseguir este feito, o animal foi treinado por três anos por dois psicólogos americanos da Universidade de Wofford, nos Estados Unidos.

Enquanto isso, o vira-lata Walter entende os comandos de sua tutora, uma garotinha americana de apenas 10 anos, a partir da linguagem de sinais —ambos têm deficiência auditiva. Já Eclipse, uma labradora preta de Seattle, EUA, aprendeu como pegar ônibus sozinha (e descer sempre no ponto correto) para ir até o parque.

A inteligência desses cães é tão impressionante que só falta mesmo eles falarem. Mas seria realmente possível ensinar um cão a “conversar”? Bom, a verdade é que um cachorro, por mais treinado que seja, não consegue se expressar verbalmente usando a linguagem humana —ou seja, não podemos esperar que eles nos digam “bom dia”, “como vai?”, “quero água”.

No entanto, quando bem treinado e condicionado, o animal é capaz de responder a comandos cada vez mais sofisticados usando o corpo, como mudanças na posição das orelhas, inclinações da coluna e alterações no olhar.

Cão dúvida - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Sabe aquela máxima do adestramento: tudo é condicionamento para o cão, estamos ensinando coisas para ele o tempo todo? É nessa troca constante que eles tentam nos transmitir, de forma mais ou menos intencional, suas emoções, sentimentos e até desejos.

“Eles já falam com a gente o tempo todo, só precisamos prestar mais atenção e tentar deixar essa comunicação mais clara”, diz Alexandre Rossi, também conhecido como Dr. Pet e especialista em comportamento animal.

O especialista é dono da Estopinha, uma cachorra adotada que também é um bom exemplo de como o treinamento e o reforço da comunicação ajuda o “diálogo” entre cães e humanos. Entre outras coisas, ela sabe pedir comida (morde o ar), recusa algo que não quer (vira o focinho para o lado) e até “fala” com seu tutor via internet (pelo Skype, programa de troca de mensagens).

Essa habilidade tecnológica foi apresentada por Rossi recentemente em um congresso nos Estados Unidos. “Meu objetivo era demonstrar que os cães podem sim reconhecer nossa voz e obedecer a comandos via Skype ou celular, desde que isso impacte de maneira real na vida deles”, disse. Cada vez que obedecia um comando, a Estopinha ganhava um petisco.

Para isso, uma máquina foi ligada ao computador. Quando a cachorra responde ao comando corretamente, Rossi pressiona uma tecla e o mecanismo libera o petisco em um recipiente que fica logo abaixo do computador usado pela cachorra.

Todo cachorro pode aprender a se comunicar melhor?

A qualidade da resposta e o tempo em que o cão vai demorar para afinar sua comunicação com o dono pode variar muito de acordo com a raça e sua história de vida. Cães de canil, por exemplo, passam muito tempo sozinhos e sem interação com humanos. Por isso, eles têm, por pura falta de experiência, mais dificuldade em se comunicar com a gente. 

Algumas raças, como o border collie, já são intrinsecamente mais eficientes nessa dinâmica. Além da sua inteligência nata, eles contam com outra vantagem: uma grande capacidade de prestar atenção no dono. Ainda passam mais tempos ativos e acordados – o que leva a um maior tempo de aprendizagem.

Uma dica dada pelos especialistas é modelar a linguagem com objetos e comportamentos espontâneos (não adestrados).

Os cães podem, por exemplo, carregar um pote de ração quando estão com fome. Se você responder (oferecendo algo em troca), é provável que ele consiga extrapolar o comportamento e carregar também um pote de água quando estiver com sede. Com o tempo e as interações, o cachorro acaba evoluindo na linguagem e no treinamento.

Mas não se iluda: apesar de entenderem muito bem entonação, frases e palavras que influenciam na vida prática deles, os cachorros não conseguem entender praticamente nada do que está acontecendo quando tomam uma bronca por algo que fizeram mais cedo. E isso vale mesmo que a gente mostre o objeto envolvido na situação (ou a urina no meio do tapete da sala). E como não entendem, também não têm a sensação de culpa que juramos ver estampada em sua expressão.