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Estado Islâmico abre "cinema" para mostrar atrocidades à população de Mossul

Yaser Yunis

Em Mossul (Iraque)

23/09/2014 15h22

O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) abriu um "cinema" ao ar livre para mostrar os vídeos de suas execuções e aterrorizar os habitantes da cidade de Mossul (norte do Iraque), que está sob o controle da organização extremista desde junho.

O macabro espetáculo começou na semana passada, no meio das florestas situadas nas margens do rio Tigre, o único lugar que as pessoas da cidade têm para descansar da repressão e das tensões causadas pela ocupação do EI.


Um grande número de jovens, crianças e famílias se aglomerou no local e esperou com impaciência para ver o programa que os extremistas haviam preparado nas grandes telas que tinham instalado.

O evento começou com a abertura das cortinas, seguido de hinos religiosos que encorajavam as pessoas a se unirem à guerra.

Depois, os espectadores ficaram horrorizados ao ver que os vídeos mostravam cenas de diversos tipos de execuções protagonizadas pelos carrascos do Estado Islâmico, entre elas degolamentos, decapitações e assassinatos de reféns.

O vídeo que mais impactou os espectadores, pela quantidade de sangue, foi a execução do jornalista britânico David Haines, que foi degolado por um homem encapuzado com uma faca.

"As cenas sangrentas que eu e minha família vimos são inacreditáveis. Meu filho pequeno, de quatro anos, me perguntou: 'Papai, Por que esse homem degola essa pessoa?' O que escutei do meu filho me deixou sem palavras, não soube responder", disse à Efe um morador de Mossul, identificado como Mohammed Sobhi Yaralá.

Para ele, o objetivo do Estado Islâmico com a exibição desses vídeos é "fazer a população entender que os degolamentos, os assassinatos e os maus-tratos são as consequências para quem se opor ao grupo".

Com os filmes, os combatentes do EI esperam que a população de Mossul mantenha "fresca" na memória a crueldade das ações que o grupo comete contra os inimigos.

A estratégia coincide com a formação de uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos para lutar contra a organização.

Na segunda-feira, o porta-voz do grupo, Abu Mohammed al Adnani, ordenou aos integrantes do EI o assassinato dos cidadãos dos países participantes da aliança.

Para o sociólogo Emar Yafar, os métodos usados pelos jihadistas são uma tentativa de acostumar Mossul à maneira que o grupo atua há vários anos.

"Também recrutam crianças e mulheres para o mesmo projeto, que é o terrorismo que mostram nas telas, e que também servirá para desacreditar a população sobre qualquer chance de recuperar a liberdade", afirma Yafar.

O especialista considera que "o EI compreende que filmes desse tipo aumentam o terror no povo de Mossul e tiram o último fio de esperança que lhes resta; o objetivo da campanha é minar o lado psicológico dos jovens e adultos".

Na campanha do terror dirigida à população local, os jihadistas abriram recentemente centros de informação em muitas zonas de Mossul, especialmente nas mais populosas, revela o ativista Mohammed Hashem.

Esses pontos são administrados por três ou quatro pessoas vestidas ao estilo afegão, que distribuem comunicados e instruções do chamado Tribunal Islâmico, criado pelo grupo para a implantação de sua versão radical do Islã.

Além disso, o grupo também trasmite em grandes telas as operações militares feitas pelo Estado Islâmico em diversas regiões do Iraque.

"Essa organização tenta ganhar o apoio dos habitantes para que estes se apresentem como voluntários e lutem com o grupo, especialmente os adolescentes e menores de idade, levando em conta a alta taxa de desemprego em Mossul devido ao cerco imposto à cidade", conclui Hashem.