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Facção usa fosso 'antitanque' e ataca UPP para tentar impedir ação militar em favela do Rio

14.ago.2018 - Militares preenchem fosso cavado por criminosos para impedir operações - Comando Conjunto/CML
14.ago.2018 - Militares preenchem fosso cavado por criminosos para impedir operações Imagem: Comando Conjunto/CML

Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio

14/08/2018 18h00

A facção criminosa Comando Vermelho usou um fosso "antitanque" para impedir a entrada de blindados das Forças Armadas na favela de Antares, em Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro. Um suspeito morreu em confronto policiais militares, que participaram de operação nesta terça-feira (14).

Criminosos possivelmente do mesmo grupo também atacaram uma base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Vidigal, zona sul da cidade, em uma ação que visaria atrair para a região tropas especiais da Polícia Militar que agiam em parceria com as Forças Armadas em Antares, segundo uma fonte ligada à inteligência do Exército.

Cerca de 1.900 militares das Forças Armadas, 140 policiais do Batalhão de Choque, do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e do BAC (Batalhão de Ações com Cães), além de 45 policiais civis, fizeram operações em busca de criminosos nas favelas de Antares e do Rola no início da manhã de hoje.

Em Antares, os blindados Guarani tiveram dificuldades para entrar na favela devido à presença de um fosso anticarro --um buraco na principal rua da favela com cerca de 1 m de largura e profundo o bastante para travar as rodas dos blindados.

Segundo moradores, os criminosos haviam aberto o fosso para proteger a região contra rivais e contra a polícia. O fosso anticarro foi coberto com terra e entulho.

Não foi a primeira vez que os militares se depararam com esse tipo de obstáculo. A mesma técnica era usada por rebeldes haitianos para impedir a entrada de blindados em favelas. Tropas de engenharia usavam caminhões para jogar terra sobre o fosso durante o combate para liberar a passagem dos carros.

Policiais militares seguiram para dentro da favela a pé e entraram em confronto com suspeitos. Um dos criminosos foi morto na troca de tiros.

Ainda no período da manhã, criminosos que seriam ligados à mesma facção atacaram a tiros policiais da UPP do Vidigal em uma ação que as Forças Armadas acreditam estar ligada à operação nas favelas do Rola e Antares. Algumas das unidades chegaram a deixar o local para socorrer os policiais no Vidigal, mas a ação na zona oeste não foi prejudicada, segundo a fonte das Forças Armadas.

Moradores expulsos de casa

A operação das favelas do Rola e de Antares ocorre no momento em que a região é palco de tiroteios diários entre o Comando Vermelho, que controlava a maior parte da região, e a milícia Liga da Justiça, que tenta tomar território dos traficantes.

O conflito começou no dia 27 de julho, quando milicianos invadiram parte da favela do Rola. Criminosos do Comando Vermelho se refugiaram em Antares e os dois grupos passaram a se enfrentar diariamente.

A ação faz parte de um esforço da milícia para se expandir na zona oeste do Rio e na Baixada Fluminense.

“Teve tiroteio até ontem [entre traficantes e milicianos]. Foi o Exército chegar hoje que parou. Espero que eles fiquem aqui e tudo continue assim como está agora”, disse uma comerciante da favela de Antares que pediu para não ter o nome revelado.

“Os milicianos vieram aqui e começaram a invadir casas de moradores e a mandar sair. Pelo menos o tráfico não mexia com ninguém”, disse um dos moradores que também pediu anonimato.

A polícia deve investigar os relatos de moradores. Ainda não é possível saber se os milicianos entraram nas casas em busca de rivais e armas ou se pretendiam permanecer no local.

“Eu acho que o tráfico estava tentando reagir, ontem vi uns 15 carros passando cheios de gente armada, eram do Comando [Vermelho]”, disse o morador. “Eu tenho medo que tudo fique pior, agora têm até os militares aqui. Tenho medo do que pode acontecer”, disse outro morador.

Os militares devem permanecer nas comunidades, mas não se sabe como e por quanto tempo.

“É muito difícil morar aqui. Tem mais de uma semana que as escolas e as igrejas quase não abrem por causa do tiroteio, a gente não sabe o que fazer”, afirmou uma mulher que mora na divisa entre as favelas do Rola e de Antares.

Segundo o Comando Conjunto da intervenção, uma pessoa foi presa e uma arma e munições, apreendidas até o meio-dia. Três barricadas foram destruídas e outras dezenas, identificadas.