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Hamas tende a sair enfraquecido de conflito com Israel, apontam especialistas

Ana Ikeda

Do UOL, em São Paulo

21/07/2014 06h02Atualizada em 21/07/2014 15h05

A posição do Hamas em recursar repetidamente propostas de cessar-fogo e o início da ofensiva militar israelense por terra em Gaza poderão culminar no enfraquecimento –e até mesmo isolamento– do grupo islâmico, avaliam especialistas. Bombardeios mataram ao menos 500 palestinos; do lado israelense, dois civis foram mortos.

Israel iniciou há 14 dias a ofensiva militar “Limite Protetor”, em resposta a foguetes lançados pelo Hamas. A violência na região se intensificou depois da morte de três jovens judeus na Cisjordânia em junho, seguida do assassinato de um adolescente palestino em um crime de vingança, confessado por três israelenses.

“Estamos vendo uma nova rodada de um conflito que se prolonga há muito tempo e não tem perspectiva de solução em médio prazo. Mas a diferença nesta ocasião é o enfraquecimento do Hamas, tanto dentro da estrutura palestina como em relação a Israel”, afirma o cientista político Samuel Feldberg.

Em abril, Israel já havia suspendido as negociações de paz com palestinos depois que o Hamas, que controla a faixa de Gaza, e o Fatah, que governa a Cisjordânia, assinaram um acordo de reconciliação.

O acordo permitiria que a ANP (Autoridade Nacional Palestina) formasse um governo de unidade sob a liderança do presidente palestino, Mahmoud Abbas. Porém, para o governo do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, o Hamas é uma “organização terrorista que pede pela destruição de Israel”.

Mapa Israel, Cisjordânia e Gaza - Arte/UOL - Arte/UOL
Mapa mostra localização de Israel, Cisjordânia e Gaza
Imagem: Arte/UOL
 Sendo assim, é pouco provável que o governo palestino, sob chancela da laica e pacifista OLP (Organização pela Libertação da Palestina), sustente essa aproximação ao Hamas, a favor da luta armada e da instituição de um Estado islâmico.

“O Hamas fica mais isolado, com uma prática de violência que não conta com o apoio da maioria esmagadora do povo palestino”, analisa o sociólogo e arabista Lejeune Mirhan.

Feldberg lembra ainda que o Hamas já perdeu recentemente o apoio da Irmandade Muçulmana, no Egito, e que aliados como Irã e Síria no momento se ocupam de questões internas. Esse apoio tende a ficar ainda menor com a aproximação do movimento islâmico a outros grupos radicais, como o EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), que recentemente criou um califado em uma região entre Iraque e Síria. Em comum, os radicais defendem a destruição de Israel e diminuição do poder ocidental da região.

Sem perspectiva de paz

Embora Israel e Hamas possam chegar eventualmente a um cessar-fogo no conflito atual, os analistas não acreditam que um acordo de paz duradouro seja alcançado.

15.jul.2014 - Israelenses tentam se proteger em uma estrada após sirene soar avisando sobre ataque com foguetes, no norte da faixa de Gaza, nesta terça-feira (15). O Exército de Israel retomou, nesta terça-feira (15), os ataques aéreos contra a Faixa de Gaza. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou hoje que não há outra escolha senão expandir as operações militares - Amir Cohen/Reuters - Amir Cohen/Reuters
Israelenses tentam se proteger após sirene alertar sobre ataque com foguetes no norte da faixa de Gaza
Imagem: Amir Cohen/Reuters

Os períodos de trégua entre os dois lados têm sido cada vez mais curtos e não há figuras eficientes na mediação das propostas concretas –Egito e EUA recentemente fracassaram em suas tentativas.

Enquanto isso, com civis palestinos e israelenses ficam impossibilitados de ter um cotidiano normal diante das constantes ameaças de bombardeios, sirenes de alerta soando e explosões de mísseis.

“Há o dilema para o Hamas da imagem com a qual ficará se aceitar uma proposta de cessar-fogo. E o grupo declaradamente se diz disposto a acabar com o Estado Israelense”, diz Feldberg.

Mirhan avalia que o governo de Netanyahu, de extrema-direita, não se mostra predisposto à paz. “A Palestina está inserida em um contexto mundial, portanto só haverá paz quando tivermos um equilíbrio de forças no mundo, com poder multipolar. Não é o que vemos hoje, com o apoio dos EUA a Israel.”