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Estudante brasileira será julgada por participar de protestos na Venezuela

Leandra Felipe

Correspondente da Agência Brasil/EBC, em Bogotá

20/02/2014 20h53

A estudante brasileira Emiliane Coimbra, 21, residente da cidade de Puerto Ayacucho, Estado do Amazonas, na Venezuela, será julgada pela justiça venezuelana, acusada de participação em protestos na cidade. Ela chegou a ser detida na última terça-feira (18) por 24 horas. Emiliane foi presa, porque segurava cartazes com frases de protesto contra o governo, a escassez de alimentos e a violência.

A estudante contou com exclusividade à Agência Brasil que quando foi presa, estava sozinha com os cartazes, em frente à loja de seu irmão, porque os amigos haviam saído de perto dela.

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“Nós ainda não estávamos na rua protestando, mas os soldados chegaram e me viram com os cartazes na mão. Eles me questionaram, disseram que eu estava indo contra a ordem pública e incitando a violência”, contou.

Emiliane disse que vários alunos do colégio em que estuda estavam protestando, e ela resolveu participar. Os cartazes que os amigos confeccionaram tinham as frases: “Abaixo, Maduro; abaixo a escassez e abaixo a violência”. A estudante contou que foi interrogada, e também o irmão dela.

“Como uma estrangeira participa de um ato como esse?”, perguntou um guarda. “Eu disse que ia participar porque estávamos em uma caminhada, e queria ir junto”, disse.

A jovem foi levada para a 52ª Brigada de Infantaria de Selva, e passou a noite no local. Ela foi atendida pelo serviço consular do Brasil, mas os soldados receberam a ordem de mantê-la detida para uma audiência, realizada ontem (19).

“Depois fiquei sabendo que meus amigos queriam protestar, em frente à brigada, mas minha mãe chorou e pediu para eles não irem, porque poderia piorar a situação. Então, no dia seguinte eu fui levada para o tribunal, e lá um advogado público e dois advogados do consulado [do vice-consulado brasileiro na cidade] participaram”, lembra.

Ainda assustada, ela recorda que sentiu medo, porque antes da audiência ficou numa sala fechada. “Parecia um calabouço, e eu chorei muito”, lembrou-se.

Após a audiência, ela foi posta em liberdade, sob custodia tutelar. Ela não pode, portanto, deixar a cidade, e deve se apresentar periodicamente ao tribunal, enquanto o julgamento final não ocorrer.

Emiliane disse que resolveu protestar pelas dificuldades que está vivendo no país. “Moramos aqui há 15 anos. Mas está faltando tudo por aqui, pior do que mostram em Caracas. Não se acha sabonete para comprar, não se acha comida. Faz tempo que eu não tomo leite, porque não chega aqui”, queixou-se.

A estudante também reclama da violência. “Aqui tem muitos assaltos, entram dentro da casa da gente. Já assaltaram minha casa assim”, relata.

Mas a estudante foi orientada a não protestar mais. “O consulado mesmo me explicou, porque sou estrangeira. Eu até pedi desculpas lá no tribunal”, comenta.

O defensor público Richard Díaz Urbina, que acompanha o caso, disse que a jovem não cometeu crime, e que não estava “infringindo a ordem” pelo fato de ter cartazes de protesto. “Mas, arbitrariamente, o entendimento da polícia agora é que manifestar-se é um ato delitivo”, explicou.

O vice-cônsul brasileiro na cidade, Antônio Bezerra, também conversou com a Agência Brasil. Ele disse que o consulado forneceu dois advogados para acompanhá-la, e que ela está recebendo o acompanhamento devido, mas não é possível saber ainda se Emiliane será condenada.

“Ela não é venezuelana, mas reside aqui, e será julgada pela justiça comum. Os advogados vão tentar mostrar que não há necessidade de uma pena, mas ainda há risco de prisão, e até mesmo de deportação”, concluiu.