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Vazamentos da Lava Jato

Em áudio, Deltan pediu para 'não alardear' proibição de entrevista de Lula

O procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol - Eduardo Anizelli/Folhapress
O procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

Vanessa Alves Baptista, Talita Marchao e Vinicius Konchinski

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em Curitiba

09/07/2019 18h03Atualizada em 10/09/2019 15h26

No primeiro áudio divulgado hoje pelo site The Intercept Brasil na série de diálogos entre integrantes da Operação Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol pediu a colegas do grupo do Telegram Filhos do Januário 3 para "não alardear" uma liminar do ministro do STF Luiz Fux. Na noite de 28 de setembro de 2018, Fux derrubou a decisão do colega Ricardo Lewandowski que autorizara naquele mesmo dia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a conceder entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, antes da eleição presidencial.

"Caros, o Fux deu uma liminar suspendendo a decisão do Lewandowski que autorizava a entrevista, dizendo que vai ter que esperar a decisão do plenário [...] Não vamos alardear isso aí. Não vamos falar para ninguém", diz Deltan no áudio. "Vamos manter, ficar quieto, para evitar a divulgação o quanto for possível. Porque, quanto antes divulgar isso, antes vai ter recurso do outro lado, antes isso aí vai para o plenário [...] O pessoal pediu para a gente não comentar aí publicamente e deixar que a notícia surja por outros canais pra... Pra evitar precipitar recurso de quem é... tem uma posição contrária à nossa."

O procurador também diz que é a decisão de Fux é uma "notícia boa" depois de "tantas coisas ruins".

Deltan postou o áudio às 23h33 do dia 28 de setembro de 2018, segundo reportagem divulgada pelo Intercept Brasil.

A preocupação do procurador, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, porém, não se justificaria. A decisão de Fux já havia sido publicada pelos sites especializados Jota e Consultor Jurídico às 23h13, antes até de ele se dirigir aos colegas no grupo do Telegram. A Folha divulgou o assunto às 23h53.

A mensagem de Dallagnol tenta acalmar o grupo: "URGENTE. É SEGREDO. Sobre a entrevista. Quem quer saber ouve o áudio". "Mas a notícia é boa para terminar bem a semana depois de tantas coisas ruins e terminar bem o final de semana."

Desde cedo, naquele mesmo dia, a possibilidade de Lula dar entrevista já havia mobilizado os integrantes dos grupos da força-tarefa, segundo mensagens divulgadas pelo Intercept em 9 de junho. A procuradora Laura Tessler, por exemplo, chamou o caso de "revoltante" e "verdadeiro circo".

"Que piada!!! Revoltante!!! Lá vai o cara fazer palanque na cadeia. Um verdadeiro circo. E, depois de Mônica Bergamo, pela isonomia, devem vir tantos outros jornalistas? E a gente aqui fica só fazendo papel de palhaço com um Supremo desse? ", escreveu a procuradora Laura Tessler.

Para tentar amenizar eventuais benefícios da entrevista ao PT, o procurador Januário Paludo sugeriu, segundo mostram as mensagens divulgada pelo Intercept no dia 9 de junho, que ela fosse transformada em uma coletiva, com vários jornalistas. "Plano a: tentar recurso no próprio STF, possibilidade zero. Plano b: abrir para todos fazerem a entrevista no mesmo dia. Vai ser uma zona, mas diminui a chance da entrevista ser direcionada", escreveu.

"Sei lá, mas uma coletiva antes do segundo turno pode eleger o Haddad", disse Tessler.

Outros procuradores sugeriram que a Polícia Federal interviesse para que a entrevista acontecesse depois das eleições. A entrevista acabou sendo realizada apenas no dia 26 abril deste ano após o presidente do Supremo, Dias Toffoli, revogar em abril a decisão de Fux.

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Outro lado

A Lava Jato disse, em nota, que "as supostas mensagens atribuídas a integrantes da força-tarefa são oriundas de crime cibernético e não puderam ter seu contexto e veracidade verificados". Segundo a força-tarefa, "diversas dessas supostas mensagens têm sido usadas, editadas ou descontextualizadas, para embasar falsas acusações que contrastam com a realidade dos fatos".

Dallagnol foi procurado pela reportagem para comentar a divulgação do áudio, mas não quis se pronunciar.

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