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Intervenção militar gastou R$ 72 milhões com operações do Exército no Rio

9.jun.2018 - Policiais ocupam rua da Rocinha, na zona sul do Rio, durante a primeira operação da intervenção na comunidade - Fábio  Motta/Estadão Conteúdo
9.jun.2018 - Policiais ocupam rua da Rocinha, na zona sul do Rio, durante a primeira operação da intervenção na comunidade
Imagem: Fábio Motta/Estadão Conteúdo

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

14/02/2019 00h01

Resumo da notícia

  • Dados obtidos pelo UOL apontam um custo de R$ 72 milhões com operações do Exército durante a intervenção militar no Rio
  • Exército afirma que operações sufocaram a criminalidade, e que sem estas ações a situação estaria pior na cidade
  • Pesquisadores do Observatório da Intervenção criticam método militar e afirmam que nada foi feito contra milícias e corrupção

Dados do Ministério da Defesa, obtidos pelo UOL por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação), apontam quais foram os gastos do Exército durante operações feitas no período da intervenção federal no Rio. Ao todo foram colocados R$ 72,2 milhões em operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), o que não inclui os gastos para compra de equipamentos. 

A cifra não inclui gastos de outras forças de segurança que participaram das ações. A maioria das operações teve como objetivo desobstruir vias e fazer cercos a favelas para tentar combater o tráfico de drogas e de armas, além de prender procurados pela Justiça. Os gastos, mês a mês, se configuraram da seguinte maneira:

  • Fevereiro - R$ 4.897.237,68
  • Março - R$ 12.417.688,60
  • Abril - R$ 7.005.154,86
  • Maio - R$ 7.355.168,79
  • Junho - R$ 7.937.559,72
  • Julho - R$ 7.102.435,23
  • Agosto - R$ 6.334.780,57
  • Setembro - R$ 5.301.836,27
  • Outubro - R$ 5.832.505,03
  • Novembro - R$ 6.111.696,76
  • Dezembro - R$ 1.994.194,51

Os principais gastos incluíram alimentação, combustível, material de consumo, manutenção de viaturas e deslocamentos. Segundo o Exército, os principais objetivos dessas operações foram fortalecer os órgãos de segurança, como Polícia Militar e Polícia Civil.

Segundo o coronel Carlos Cinelli, porta-voz do CML (Comando Militar do Leste), "objetivamente, com os números de índices criminais do Rio, é possível estimular o seguinte pensamento: o que teria sido desses números se não tivesse havido a intervenção? Havia tendência de aumento, desde 2017. O que a intervenção fez foi aplicar um remédio intenso, amargo, na segurança, atuando em áreas que estavam com nós a serem desatados nas partes administrativa e de gestão".

Nesse prazo de dez meses, tiramos essa febre muito alta do paciente que era o Rio de Janeiro
Coronel Carlos Cinelli, porta-voz do CML

Ainda segundo o coronel, os índices de homicídio no ano passado foram os menores de uma série histórica no estado. "Houve um aumento, no meio do ano, na letalidade por agente do estado, fruto do enfrentamento mais incisivo. Os crimes de patrimônio tiveram uma queda mais acentuada porque identificamos que esses crimes têm efeito que permeia os demais." 

De acordo com dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), o Rio de Janeiro fechou 2018 com 6.695 mortes violentas. O número ficou um pouco abaixo do ano anterior, quando foram registradas 6.749 mortes violentas no estado.

Cientista social e coordenadora da plataforma Observatório da Intervenção, Silvia Ramos afirmou, no entanto, que, "além de aumentarem os tiroteios e as balas perdidas, seus efeitos nos crimes contra o patrimônio, quando ocorrem, são revertidos logo após a saída das forças militares. É o que agora acontece: terminada a intervenção federal, o Rio de Janeiro enfrenta os problemas de sempre e continua a ter os confrontos armados como principal política de segurança".

O modelo intervencionista, custoso e insustentável a longo prazo, mostrou-se pouco efetivo diante de instituições policiais locais que necessitam de reformas estruturais, combate à corrupção e choque de eficiência em inteligência
Silvia Ramos, coordenadora do Observatório da Intervenção

Relatório critica falta de investimentos significativos

O Observatório da Intervenção divulgou hoje, data que marca 11 meses do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), um relatório sobre a ação federal no Rio de Janeiro durante 2018. "Uma tentativa cara e inócua de mudar um contexto complexo, usando táticas antigas, ao invés das reformas estruturais e políticas inovadoras que seriam necessárias. É, claramente, um modelo que não deveria ser repetido em outras situações de crise no Brasil", aponta o documento.

"Durante esses dez meses de 2018, não foram feitos investimentos significativos no combate aos grupos de milícias e à corrupção policial. A modernização da gestão das polícias também não foi priorizada -a renovação se restringiu à compra de equipamentos. Ao mesmo tempo, práticas violentas da polícia fluminense continuaram e se agravaram", acrescenta o relatório.

Segundo Walkiria Zambrzycki Dutra, pesquisadora do Observatório, o planejamento orçamentário previu investimentos de cerca de 45% na PM, 22% na Polícia Civil, 4% no Corpo de Bombeiros, e aproximadamente 10% no Sistema Prisional. As Forças Armadas, por sua vez, tinham previsão de receber 17% do total.

"Até o fim da intervenção federal, as forças citadas acima receberam apenas uma fração dos valores previstos. No entanto, surpreende que até o dia 31 de dezembro de 2018, a que tenha recebido mais recursos seja as Forças Armadas, beneficiada com um total de R$ 96 milhões", escreveu a pesquisadora.

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