Delação aponta esquema entre banqueiros e Odebrecht para lavagem de propina
Resumo da notícia
- Delações às quais o UOL teve acesso apontam relação entre banqueiros e Odebrecht
- Esquema de lavagem de dinheiro seria de conhecimento de diretores de dois bancos
- Banco Paulista e Odebrecht afirmam estar colaborando com as investigações
Em acordo de delação premiada, um ex-executivo da Odebrecht aponta que ao menos dois banqueiros ajudaram ex-funcionários da empresa a lavar dinheiro no esquema de pagamento de propinas da construtora. As revelações foram feitas em depoimentos prestados à força-tarefa da Operação Lava Jato, que iniciou sua investida contra instituições financeiras recentemente, em sua 61ª fase.
Um dos banqueiros citados em delação é Álvaro Augusto Vidigal, que foi presidente da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) entre 1991 e 1996 e é o atual diretor-presidente do Banco Paulista. O segundo é o dono do Trendbank, Adolpho Mello Neto, que já responde a um processo na Lava Jato por lavagem de dinheiro.
O Banco Paulista foi alvo da 61ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada em 8 de maio. Na ocasião, policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão na sede do banco, em São Paulo. Foi a primeira vez, em mais de cinco anos de Lava Jato, que agentes estiveram numa instituição financeira para colher material para investigações.
Segundo o MPF (Ministério Público Federal), o esquema com a Odebrecht no banco teria movimentado R$ 48 milhões.
Três funcionários do banco foram presos preventivamente. O presidente não foi preso. No entanto, de acordo com o depoimento de Olívio Rodrigues Júnior, ex-integrante do chamado "setor de Operações Estruturadas" da Odebrecht, ele conhecia e autorizava as operações que levaram seus empregados à prisão.
Sempre que existia alguma operação que seria de vultosa devolução, o dono do banco era comunicado e só era efetuada depois da autorização dele. O dono do banco, o nome dele é Álvaro Augusto Vidigal.
Olívio Rodrigues Júnior, ex-executivo da Odebrecht, em delação
Ainda segundo Rodrigues, toda a diretoria do banco também aprovava de forma verbal as transações supostamente ilegais. Fontes ligadas à Operação Lava Jato confirmam que a conduta da alta diretoria da instituição financeira está sendo analisada.
O esquema de lavagem de dinheiro
As transações, segundo investigações da PF (Polícia Federal) e do MPF, eram pagamentos a empresas de fachada criadas por integrantes da Odebrecht. Eles recebiam comissões por concretizar o pagamento das propinas pagas pela companhia em busca de facilidades em seus negócios.
Segundo as investigações, esses executivos ligados à Odebrecht recebiam as comissões em dinheiro, no Brasil, por transações viabilizadas no exterior. O dinheiro não podia ser declarado, pois tinha fonte ilegal. Precisava ser "lavado".
Para resolver isso, os executivos abriam empresas e firmavam contratos falsos com o Banco Paulista. Eles, então, levavam o dinheiro vivo na sede do banco, que devolvia os valores como se eles fossem pagamento por serviços, os quais na verdade nunca eram prestados.
Investigações desde 2016
O esquema entre os executivos da Odebrecht e o banco foi revelado por delatores em 2016. Em 2017, o BC (Banco Central) chegou a abrir um procedimento para apurar o caso.
Relatórios do BC usados pelo MPF-PR (Ministério Público Federal do Paraná) para o pedir à Justiça a realização de busca e apreensão na sede do Banco Paulista reforçariam a suspeita de práticas ilegais.
Procurado pelo UOL, o Banco Paulista informou em nota que vem contribuindo com as autoridades. Segundo o banco, "a investigação em curso diz respeito a transações específicas relacionadas à área de câmbio, não impactando as atividades operacionais nem a liquidez e solidez da instituição, que continua funcionando normalmente".
O banco não incluiu em sua nota informações a respeito da citação de seu diretor-presidente e de sua diretoria no depoimento do ex-executivo da Odebrecht Olívio Rodrigues.
Odebrecht também usou Trendbank
Em outro depoimento, no ano passado, o mesmo ex-executivo da Odebrecht informou que Adolpho Mello Neto, dono do Trendbank, também atuou na lavagem de dinheiro da empreiteira. As declarações foram dadas ao então juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça.
Na ocasião, Moro perguntou a Rodrigues o nome de doleiros que integravam o pagamento de propina da Odebrecht. Ouviu que o doleiro identificado como Matalon atuava em nome de Adolpho Mello Neto.
Fernando Migliaccio, ex-diretor da Odebrecht e outro membro do "setor de Operações Estruturadas" também citou o Trendbank em sua delação.
Afirmou, aliás, que uma mulher cujo nome não foi revelado trabalhava dentro da instituição e tinha acesso ao sistema Drousys, criado pela Odebrecht para operacionalizar os vários pagamentos de propina realizados pela empresa.
Em setembro, o MPF-PR denunciou Adolpho Mello Neto por lavagem de dinheiro. Sua advogada, Paula Indalecio, disse ao UOL que seu cliente "já esclareceu completamente ao juízo que não participou de qualquer irregularidade." O processo está em andamento.
O Trendbank é uma instituição financeira que atua em compra e venda de créditos. Não tem agências. Foi envolvido em investigações da operação Greenfield, que apura fraudes na gestão de fundos de pensão. Seu site está em manutenção. O UOL não conseguiu contato com a instituição.
A Odebrecht informou em nota que "tem colaborado de forma eficaz com as autoridades em busca do pleno esclarecimento dos fatos narrados pela empresa e seus ex-executivos". A empresa também declarou que "segue comprometida com uma atuação ética, íntegra e transparente."
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