'Uma CPI deve se ater a Moro e Dallagnol', diz deputado David Miranda
Um dos criadores do site The Intercept Brasil e hoje deputado federal, David Miranda (PSOL-RJ) defende que uma possível CPI para investigar a Lava Jato não deve ser generalizada, mas sim, se ater ao ministro Sergio Moro e ao coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol.
Os dois são os alvos principais de uma série de reportagens publicadas pelo site na noite de domingo (9), revelando troca de mensagens entre o então juiz federal e Dallagnol. Segundo a reportagem, Moro teria orientado investigações da Lava Jato, o que juristas consideram ilegal.
Formado em jornalismo, Miranda foi um dos responsáveis pela criação do Intercept em 2014 ao lado do marido, o jornalista britânico Glenn Greenwald, e posteriormente da versão brasileira do portal, em 2016. Desde então, diz, tomou um rumo diferente e hoje não se envolve mais com a publicação. Assumiu seu primeiro mandato na Câmara Municipal do Rio em 2017, e mudou-se para a capital no começo deste ano, para substituir o então deputado Jean Willys - que deixou o país devido a ameaças que recebe.
"Eu sou parlamentar e meu trabalho estou fazendo aqui. O trabalho jornalístico é do meu marido e estão usando nossa relação como cortina de fumaça para desviar o foco", diz. "Só fui ler as reportagens de fato ontem no avião vindo para Brasília. O Glenn inclusive fica puto comigo."
Ao UOL, Miranda diz estar contribuindo para a redação do pedido de abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o caso. Deputados e senadores se articulam desde a noite de domingo para apresentar o pedido, mas até a noite de ontem a redação não estava finalizada.
"São coisas gravíssimas. Um juiz se comunicando desta forma com procuradores, dando o caminho para todas as situações? É um absurdo, antiético e corrupto", comenta sobre as informações reveladas. Miranda defende que a possível CPI se atenha, no entanto, ao ministro Sergio Moro e ao procurador Deltan Dallagnol.
"Tenho minhas ressalvas [a CPI]. Não quero que pegue completamente a Lava Jato. A redação tem que ser fechada no Moro e no Dallagnol. Eu sou do Rio de Janeiro. Temos [Sergio] Cabral preso, vários políticos corruptos presos. Você quer soltar o [Eduardo] Cunha? A Lava Jato cumpriu seu papel, mas os fins não podem justificar os meios", defende.
Ameaças ao deputado aumentaram
Foram diversas as tentativas de contato com Miranda nesta terça-feira (11) por telefone, enquanto o deputado esperava, do Plenário da Câmara, a ligação da reportagem.
"Já devem ter clonado meu chip ou coisa parecida", disse ao atender o telefone, preocupado com as reações agressivas desde a publicação das reportagens.
Alvo de ataques racistas e homofóbicos já quando atuava como vereador no Rio de Janeiro (afirma ter "bastante estômago" após a experiência), o atual deputado federal viu as ameaças contra sua família aumentarem nos últimos dias.
Desde domingo, ele e o marido têm recebido ataques abertos via redes sociais, além de ameaças anônimas por email, cujo conteúdo o deputado prefere não compartilhar, para preservar sua família. Segundo Miranda, todo o material foi entregue à Polícia Federal.
Só agora estou sabendo realmente o que Jean [Willys] passava aqui
David Miranda, deputado federal (PSOL-RJ), sobre as ameaças que recebe desde domingo
Miranda era suplente de Jean e assumiu o cargo na Câmara após o correligionário deixar o país, alegando também ser alvo constante de ataques e ameaças de morte.
"No começo foi bastante difícil [assumir o cargo], na forma como foi feita, o Jean tendo que sair do país, tendo que se exilar. Foi uma mudança drástica, da noite para o dia tive que ficar longe dos meus filhos, dos meus cachorros, do meu marido, foi complicado", lembra.
Criminalização da homofobia e "Maria da Penha LGBT"
No Congresso, Miranda substituiu o colega de partido na defesa dos direitos LGBT. Além de apoiar a aprovação da criminalização da homofobia, atualmente em debate no STF (Supremo Tribunal Federal) e na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, ele apresentou um Projeto de Lei que chamou de "Maria da Penha LGBT". A proposta, diz, foi construída com organizações do terceiro setor e avança na mera tipificação do crime para abarcar políticas públicas educacionais e preventivas.
Também assumiu a responsabilidade de reforçar na casa a demanda pela solução do assassinato de Marielle Franco, vereadora morta em 2018. Mantém diálogos com a OEA (Organização dos Estados Americanos) para internacionalizar as investigações do caso.
Em maio, foi eleito pela revista Time como um dos líderes da próxima geração, sendo o primeiro político brasileiro a figurar na lista, feita anualmente pela publicação norte-americana.
Apesar do recrudescimento das ameaças, não considera por ora abrir mão do posto. "Se eu não ficar e falar agora, quem vai?"
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