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Insurgentes islamitas tomam mais duas cidades no Iraque e se aproximam de Bagdá

Do UOL, em São Paulo

13/06/2014 09h42Atualizada em 13/06/2014 12h07

Militantes sunitas islamitas se apoderaram de mais duas cidades no Iraque, na província de Diyala (leste do país), entre a noite de ontem e a manhã desta sexta-feira (13), enquanto o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, avalia a possibilidade de ataques aéreos para deter o avanço dos radicais em direção à capital do país, Bagdá.

Com a ofensiva do grupo jihadista EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), dissidente da Al Qaeda, vários integrantes das forças iraquianas de segurança abandonaram seus postos.

Mapa do Iraque com as cidades sob poder ou ameaça de insurgentes do EIIL - Arte/UOL - Arte/UOL
Cidades iraquianas sob poder ou ameaça de insurgentes
Imagem: Arte/UOL

As cidades de Saadiyah e Jalawla estão sob poder dos insurgentes, assim como vários vilarejos no entorno das montanhas de Himreen, que são há tempos usadas por rebeldes como esconderijo.

O número de mortos no norte iraquiano desde que teve início a tomada de cidades nessa região pode chegar a centenas, de acordo com o porta-voz da área de direitos humanos da ONU, Rupert Colville.

Em Mossul (400 km de Bagdá), a segunda maior cidade do Iraque, atacada no fim de semana, integrantes das forças de segurança iraquiana e ao menos 17 civis, que trabalhavam para a polícia e um empregado do Judiciário, estão entre as vítimas.

Há registros de estupros, sequestros e libertação de prisioneiros.

"Nós recebemos ainda informações indicando que as forças do governo também cometeram excessos, em especial o bombardeio de áreas civis entre 6 e 8 de junho", disse Colville. "Há alegações de que até 30 civis podem ter sido mortos".

O EIIL tem como objetivo estabelecer um governo islâmico sunita no Iraque e na região do Levante, que também inclui parte da Síria e da Jordânia.

Pegar em armas e defender o país

A principal autoridade religiosa xiita iraquiana, o aiatolá Ali Al-Sistani, pediu nesta sexta-feira (13) a todos que usem suas armas contra os jihadistas. "Os cidadãos que podem portar armas e combater os terroristas para defender seu país, seu povo e seus locais sagrados devem ser voluntários e se juntar às forças de segurança para realizar esse objetivo sagrado", declarou Sistani em seu sermão semanal.

Para o líder, "o Iraque enfrenta um grande desafio e um perigo sem precedentes. Os terroristas não querem controlar apenas algumas províncias, eles anunciaram que vão tomar todas as províncias, incluindo Bagdá, Karbala e Najaf. Daí a responsabilidade de enfrentá-los e lutar contra eles".

O aiatolá Sistani não costuma opinar em questões políticas, mas, adorado por milhões de devotos, é extremamente influente.

"Aquele que morre em serviço da defesa da pátria, de sua família e sua honra será considerado um mártir", afirmou ele em uma mesquita na cidade sagrada xiita de Karbala, ao sul de Bagdá.

De acordo com reportagem do “New York Times”, o primeiro-ministro do Iraque, Nuri al-Maliki, já tinha pedido várias vezes, secretamente, ajuda militar aos Estados Unidos, ao que não foi atendido.

Em uma gravação de áudio difundida nesta última quarta-feira, um dos líderes do EIIL, Abu Mohammed al-Adnani, convocou os rebeldes a "marchar em Bagdá" e pelas cidades xiitas sagradas de Karbala e Najaf.  

Ação conjunta com os EUA

Os Estados Unidos vão fornecer ao Iraque toda a assistência adequada contra a permanente agressão dos insurgentes, de acordo com a porta-voz do Departamento de Estado americano, Jen Psaki. Washington está trabalhando com os parceiros do país em uma "ação conjunta", no âmbito de um acordo estratégico entre os dois países, 

"A nossa equipe de segurança nacional analisa todas as opções. Trabalhamos sem descanso para identificar como fornecer a ajuda mais eficaz. Não descarto nada", disse ontem o presidente Barack Obama. Apenas o uso de tropas terrestres não está em discussão, segundo o gabinete presidencial.

No início deste ano, Washington enviou armas a Bagdá para apoiar as tropas do governo a reconquistar a cidade de Faluja, tomada em janeiro por tropas do EIIL. Apesar de seus mísseis antitanque, os militares iraquianos não conseguiram recuperar Faluja das milícias radicais, embora a cidade seja bem menor que Mossul, com 1,4 milhão de habitantes.

Inicialmente, os EUA planejavam manter no Iraque um núcleo para o treinamento das Forças Armadas. Como Bagdá não concordou com a exigência de imunidade total para os soldados norte-americanos, todas as tropas deixaram o país. Desde então, o Iraque teve de cuidar, mais ou menos sozinho, de seus problemas de segurança.

A decisão da Casa Branca de retirar todos os soldados do Iraque contribuiu para deteriorar a situação de segurança, afirmou o senador John McCain (republicano) no início desta semana.

"Sem dúvida, poderíamos ter deixado tropas, como na Coreia, Alemanha e Bósnia", disse o político de oposição. "Mas, não fizemos isso e agora reina o caos no Iraque".

Xiitas versus sunitas

Os sunitas iraquianos culpam o governo central dominado pelos xiitas de ter utilizado medidas antiterroristas como pretexto para reprimir a minoria sunita. O vice-presidente Tarik al-Hashimi, sunita, fugiu para a Turquia após um tribunal condená-lo à morte, em setembro de 2012, sob acusação de terrorismo.

Alguns meses depois, tropas do governo atiraram em manifestantes sunitas em Hawija, no norte do país. Dezenas de pessoas foram mortas. Na ocasião, Bagdá afirmou que homens armados teriam matado a tiros um soldado iraquiano, e que isso desencadeou confrontos violentos.

Para Wayne White, ex-analista-chefe para o Iraque do serviço de inteligência do Departamento de Estado dos EUA, o premiê al-Maliki e seus parceiros xiitas no governo não confiam nos árabes sunitas e não desejavam que eles exercessem qualquer papel no Iraque do futuro.  "Burramente, eles pensavam que isso iria funcionar", diz.

O sentimento de exclusão levou muitos sunitas iraquianos a apoiar tacitamente o grupo terrorista EIIL, mesmo que não compartilhem a ideologia do grupo, afirma Bem Connable, especialista em Iraque do think tank americano Rand Corporation. A guerra civil na vizinha Síria agravou ainda mais a situação, proporcionando ao EIIL um estímulo para seus ataques no Iraque.

Embora não se vislumbre uma solução de longo prazo para a violência, Washington deve tentar convencer Bagdá da gravidade da situação, diz Connable. Para ele, é preciso dar atenção às queixas dos sunitas.

"Podemos ao menos tentar estabilizar o Iraque. Neste momento, seríamos capazes de parar o derramamento de sangue", afirma o especialista. (Com agências de notícias)