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"Minha esposa fica sem mim uma vez por semana", diz homem que dorme em caixão toda sexta-feira

Rayder Bragon

Especial para o UOL Tabloide <br> Em Belo Horizonte

19/08/2011 18h39

Um aposentado de 60 anos, morador da cidade de Governador Valadares (MG), dorme religiosamente dentro de um caixão, localizado em um dos cômodos de sua casa, todas as sextas-feiras há 25 anos. O ritual, segundo Zeli Ferreira Rossi, originou-se em razão de pacto feito entre ele e um amigo. Pelo trato, quem morresse primeiro ganharia o esquife do sobrevivente. Rossi revelou ter recebido o “presente” do amigo por conta de boato sobre a sua própria morte, após um acidente.

“A minha esposa fica sem mim uma vez por semana”, disse Rossi antes de contar a sua história. “Isso aconteceu há mais de 25 anos. Tive um acidente [foi atropelado por um carro], fiquei mais de três meses internado. Ele [amigo] estava em outra cidade e ficou sabendo que eu tinha morrido, porque houve tanta coincidência que tinha falecido uma pessoa na mesma época com o meu nome. Ele botou na cabeça que era eu”, revelou.

Rossi disse à reportagem do UOL Notícias que, de imediato, tentou devolver o caixão à empresa responsável pela entrega da “encomenda”, mas não obteve sucesso.

“Depois de 4 anos, esse amigo retornou a Governador Valadares e foi morto em uma briga de bar. Eu comprei um caixão novo, porque esse que recebi já não era mais novo, e mandei enterrá-lo”, relembrou. Em seguida, o aposentado contou ter passado a dormir no “paletó de madeira” em razão de promessa feita para a localização do assassino do amigo.

“Com dois anos pegaram o assassino, e eu continuei até hoje [a dormir uma vez por semana no caixão]”, explicou. Rossi, no entanto, disse ser bastante religioso e não faz o ritual para “aparecer”. Antes de deitar na urna funerária, o homem diz seguir uma rotina. “Faço as minhas orações obedecendo às leis de Deus. Acredito em Deus sobre todas as coisas do mundo. Depois que deito lá, eu não acordo enquanto o dia não amanhece”, revelou, para completar, “eu só me lembro de Deus e não penso nada de ruim”.

A mulher de Rossi tem a incumbência de fechar a tampa do caixão, que dispõe de entrada de ar, e acordá-lo religiosamente às 6h do sábado.

“No início ela perguntou por que eu agia daquele jeito. Eu disse a ela que era uma coisa que não poderia explicar, mas ela sabia da promessa e concordou. Nós dois somos uma maravilha, 42 anos de casados e nunca brigamos”, contou Rossi, alegando que a mulher não poderia conversar com a reportagem por ter se ausentado da casa.

O homem disse ter firmado em contrato, assinado pela mulher, o compromisso de ser enterrado no caixão. “Isso não é desejo, é um documento, um contrato que tenho com a minha esposa. Não quero outro, quero o meu caixão velho”, salientou.   

Vizinhos e amigos do neto

Apesar de o homem afirmar que os vizinhos já se acostumaram com a sua estranha predileção, o neto Otávio Martins Rossi, de 14 anos, diz que as opiniões são divididas em relação ao costume do avô. Segundo ele, os amigos de escola “estranham” a atitude do aposentado.

“Eles ficam com medo, acham muito estranho. Entre os vizinhos existem alguns que ficam com medo, outros não. Depende do tempo de convivência que eles têm com meu avô”, explicou.

O neto conta que, quando criança, o objeto no interior da residência o assustava muito. "Quando era criança, eu tinha medo. Mas agora acabei me acostumando. Hoje já é uma coisa mais normal”, disse o estudante, que afirmou ajudar o avô na limpeza do ataúde.

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