Kerry se reúne com líderes curdos; EUA tentam evitar fragmentação do Iraque
O secretário de Estado americano, John Kerry, se encontrou com líderes curdos no norte do Iraque com parte de seus esforços para auxiliar na criação de um novo governo mais inclusivo no país, enquanto rebeldes sunitas continuam sua ofensiva rumo a Bagdá.
Ele disse à BBC que é preciso haver unidade regional para expulsar os insurgentes. Kerry tenta persuadir políticos de todas as partes a superarem diferenças sectárias e étnicas e se unirem para afastar o Iraque do risco de fragmentação.
A viagem ocorre em meio a fortes indicações dadas pelo presidente do Curdistão iraquiano, Massoud Barzani, de que a região seguiria adiante na busca por independência. A região já tem um bom grau de autonomia em relação à Bagdá.
Na segunda-feira, Kerry visitou a capital e prometeu apoio americano às forças de segurança iraquianas. Ele disse que o Iraque enfrenta um momento de grande urgência e que sua própria existência está sob ameaça.
Enquanto isso, monitores da Organização das Nações Unidas disseram que ao menos 1.075 pessoas, a maioria civis, morreram no Iraque até agora no mês de junho.
O porta-voz da ONU, Rupert Colville, disse que o número deveria ser visto como "um mínimo".
Refinaria vital
Insurgentes, liderados por islâmicos que lutam sob a bandeira do grupo Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), invadiram uma faixa de território no norte e no oeste, incluindo a segunda maior cidade, Mosul.
Eles estão se aproximando de uma represa vital perto de Haditha e controlam todos os postos de fronteira com a Síria e a Jordânia.
Os rebeldes sunitas disseram controlar totalmente a principal refinaria de petróleo, em Baiji, ao norte de Bagdá.
O local tem sido palco de confrontos há 10 dias. O complexo abastece um terço do combustível refinado do Iraque e a batalha já levou a um racionamento de gasolina.
Um porta-voz rebelde disse que o local será entregue para administração de tribos locais, e que o avanço em direção a Bagdá continuará.
Um jornalista local disse à BBC que 160 soldados iraquianos que defendiam a refinaria tinham concordado em abandonar suas armas após negociações mediadas por líderes tribais locais.
No entanto, um porta-voz militar iraquiano insistiu que todas as tentativas dos rebeldes de tomar o controle da refinaria tinham sido frustradas.
Os Estados Unidos, que se retiraram do Iraque em 2011 depois de oito anos de ocupação após a invasão, já anunciaram que enviarão cerca de 300 conselheiros militares para o Iraque para ajudar na luta contra os insurgentes.
O vizinho Irã diz que se opõe à intervenção dos EUA. O líder supremo aiatolá Ali Khamenei acusou Washington de buscar um Iraque sob sua hegemonia e governado por seus aliados.
Peso americano
Segundo o correspondente da BBC no Iraque Jim Muir, a influência dos Estados Unidos no país é reduzida, mas os americanos continuam a ter peso no jogo político iraquiano.
"A questão não é mais se o Iraque está se fragmentando - ele está. A questão é se este processo pode ser, de alguma maneira revertido. As chances não são boas", diz Muir.
Para o correspondente, já existe praticamente uma "entidade" sunita no Iraque, localizada nas áreas entre Mosul, no norte, o vale do Tigre, ao sul, e na província de Anbar, a oeste de Bagdá.
Os curdos já controlam a região autônoma praticamente independente no norte e a maioria xiita tem as províncias ao sul de Bagdá até Basra.
Isto deixa as áreas centrais mixas de Bagdá e da província de Diyala a serem contestadas, diz Muir, ao não ser que um acordo político possa ser encontrado.
O correspondente afirma que um Iraque unido controlado por um governo central linha-dura de Bagdá "é coisa do passado".
Isso pode acontecer sob o derramamento de sangue, ou por um acordo. No entanto, o tempo para um acerto diplomático parece estar acabando - na mesma velocidade que crescem as paixões sectárias.
É improvável que Kerry encontre um único líder iraquiano que acredite que o primeiro-ministro, Nouri al-Maliki, seja o homem capaz de liderar um processo de reconciliação necessário para uma solução política - a não ser o próprio".
"Mas se o Irã insistir que Maliki tem que ficar - como fez com Bashar al-Assad na Síria - as chances de um acerto diplomático se esvaziarão ainda mais.
Uma solução exigiria algum entendimento entre os dois atores externos, Estados Unidos e Irã, mas há poucos sinais de que haja um entendimento até agora".
Maliki, que pertence à etnia xiita, majoritária no Iraque, é criticado por concentrar o poder entre aliados xiitas e por excluir outros grupos, como as comunidades sunitas e curdas.
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