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A imensa sombra de Hugo Chávez na Venezuela

Garota observa grafite com a figura do presidente Hugo Chávez, perto do Quartel da Montanha, na Venezuela - Juan Barreto/AFP
Garota observa grafite com a figura do presidente Hugo Chávez, perto do Quartel da Montanha, na Venezuela Imagem: Juan Barreto/AFP

Jorge Ramos

11/04/2013 19h07

A história está cheia de exemplos em que, uma vez morto ou desaparecido o caudilho ou ditador, seu regime e seu legado acabam. Mas a experiência chavista na Venezuela não parece ter desaparecido com a morte de Hugo Chávez em 5 de março passado, e luta por sua sobrevivência nas eleições do próximo 14 de abril. O chavismo venezuelano está se comportando como o velho Partido Revolucionário Institucional mexicano. Tenta demonstrar que o partido e suas ideias podem superar qualquer obstáculo, incluindo a morte de seu líder. Chávez, como todos os presidentes priístas de 1929 até 2000, escolheu seu sucessor com uma "apontada de dedo". E o escolhido - Nicolás Maduro - não teve outro mérito além de ter agradado a seu chefe.

Maduro, deixemos claro, não é Chávez. Mas sabe que a única maneira de ganhar é apresentar-se diante dos eleitores como mais chavista que Chávez. Para o bem ou para o mal, Chávez tinha uma força política poucas vezes vista em um líder. Nunca passava despercebido. Vivia o momento, mas tinha uma ideia muito clara de como transformar a história. Chávez não cabia em si mesmo e sua personalidade arrasadora conquistou a Venezuela e muitos países que se permitiram.

Maduro, por sua vez, é um político muito pequeno. O pouco que tem a seu favor é que se fantasiou de Chávez. Além disso, Maduro quer fazer os venezuelanos acreditarem que ele ainda tem uma comunicação com o falecido homem-forte da Venezuela. Em declarações que fazem rir (e depois causam vergonha alheia), Maduro disse que Chávez influiu do céu para escolher o primeiro papa sul-americano. Depois, seu governo autorizou a difusão de desenhos animados em que Chávez vai para o paraíso reunir-se com Simón Bolívar, Eva Perón, Che Guevara e Salvador Allende, entre muitos outros. E o último foram suas declarações de que Chávez lhe havia aparecido como um "passarinho", que lhe havia falado e dado instruções e que ele, Maduro, "tinha sentido o espírito" de Chávez nessa ave.

Um médico meu amigo me disse que isso se chama "alucinações" e, no Twitter, alguém o descreveu como um "delírio místico". Mas Maduro não é tão tolo - sabe perfeitamente que Chávez não escolheu o papa Francisco, nem sabe se foi para o céu, e é claro que não fala com passarinhos. Maduro, conscientemente, está criando uma narrativa político-religiosa que o ligue a um Chávez santificado e que o ajude a ganhar as próximas eleições.

Maduro - que foi seguidor do líder religioso da Índia Sai Baba, a quem visitou em várias ocasiões - quer vender a história de que o espírito de Chávez lhe fala do além e, portanto, o ungiu para ser o próximo presidente. Maduro quer fazer os eleitores acreditarem que Henrique Capriles, o candidato único da oposição, não tem contatos tão altos nem tão bem colocados. Maduro é como um balão: só a lembrança de Chávez o infla; sem ele, está achatado e no chão.

Certamente Maduro parece um candidato desesperado, apesar de ainda estar à frente nas pesquisas. As piadas e torpezas de Maduro são o clique de cada dia na internet; há sites dedicados a zombar dele. E quando um candidato compara seu adversário a Hitler, como fez Maduro, sabe-se que chegou ao extremo de sua criatividade.

Para que Capriles ganhe, entretanto, tem que haver um cenário parecido com o da Nicarágua em 1990, quando Violeta Chamorro ganhou com uma ampla margem dos sandinistas. Uma eleição muito acirrada, com todos os organismos do governo apoiando Maduro - incluindo o que conta os votos - não levaria jamais a uma vitória da oposição.

É possível o chavismo sem Chávez? Parece que sim. Nós que vivemos em Miami acreditamos, há muitas décadas, no dogma de que a ditadura castrista morreria com o desaparecimento ou a doença de Fidel Castro. Mas Fidel adoeceu, quase desapareceu do mapa político e nada aconteceu em Cuba.

O mesmo ocorreu na Venezuela (diante do horror dos exilados no sul da Flórida). Durante anos estiveram esperando a morte de Chávez. "Não", afirmavam, "esse governo não se sustenta sem Chávez; não há quem o substitua." Mas veio a morte surpreendente de Chávez e não chegou a mudança drástica que tanto esperavam. Maduro tomou o poder, o líder da assembleia, Diosdado Cabello, baixou a cabeça e espera sua vez, os militares cerraram os dentes e não se moveram, e tudo continua igual. A única coisa que pode mudar a Venezuela é que a oposição saia a votar no domingo, 14 de abril, de maneira contundente e maciça. Mas antes é preciso afastar da cabeça essa terrível suspeita de que nunca poderá ganhar de Chávez, vivo ou morto.