Objetivo das milícias é tomar territórios controlados pelo Comando Vermelho, diz promotor
Para o promotor de Justiça Luiz Antônio Ayres, que combate há 20 anos as milícias no Rio de Janeiro, a expansão de territórios conquistados por essas facções criminosas se tornou uma ameaça à democracia.
"Hoje as áreas dominadas já são currais eleitorais. Com o domínio total, só teremos eleitos candidatos promovidos pelas milícias", disse Ayres, em entrevista ao UOL.
Ele trabalha na promotoria de Campo Grande, bairro da zona oeste carioca que é o berço da maior milícia da cidade, a chamada Liga da Justiça.
Leia mais:
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"Nos últimos dez anos, a milícia tomou quase todas as comunidades que eram do Comando Vermelho na área de Santa Cruz, também na zona oeste. A única exceção é a favela de Antares", afirma ele.
"Esse é o objetivo das milícias: tomar os territórios dominados pelo Comando Vermelho. É disso que se trata a guerra urbana que acontece no Rio de Janeiro", diz Ayres.
Hoje as áreas dominadas já são currais eleitorais. Com o domínio total, só teremos eleitos candidatos promovidos pelas milícias
Luiz Antônio Ayres, promotor de Justiça
Os milicianos são grupos paramilitares que controlam bairros e favelas cariocas pela cobrança extorsiva de serviços, a exemplo de segurança compulsória, agiotagem, venda de gás de cozinha e comércio ilegal de sinal de internet e TV a cabo, o "gatonet".
Esses grupos criminosos são formados, em boa parte, por agentes do Estado, como policiais militares e civis, bombeiros, integrantes das Forças Armadas e agentes penitenciários.
"Em 2013 e 2014, eles se associaram aos traficantes do Terceiro Comando, que vendem drogas também em benefícios das milícias", diz o promotor.
"As milícias perceberam que a visibilidade era ruim para os negócios e decidiram atuar de maneira mais profissional e velada. Assim copiaram as máfias e o terrorismo internacional, organizações em que os líderes agem de maneira subterrânea e os membros ficam mais difíceis de serem identificados", diz o promotor. "A Liga da Justiça não usa mais o nome da milícia entre eles."
Secretaria diz que combate milícias
Procurada pelo UOL, a Secretaria de Estado de Segurança (Seseg) afirmou que, por meio das polícias Civil e Militar, "atua com rigor no combate aos grupos paramilitares".
Também informou que, de 2006 a abril de 2018, foram efetuadas 1.514 prisões de suspeitos de envolvimento com grupos paramilitares em ações das forças de segurança do estado.
Encerrada em novembro de 2008, a CPI das Milícias teve um total de 226 indiciados, dos quais pelo menos 61 foram condenados posteriormente por crimes como associação criminosa, porte ilegal de arma e homicídio.
Já foram assassinados a tiros pelo menos 53 milicianos cujos nomes constavam naquela investigação parlamentar.
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