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Caso Marielle: da arma usada aos acusados, veja o que se sabe até agora

Marielle Franco na Câmara Municipal do Rio de Janeiro - Renan Olaz/CMRJ
Marielle Franco na Câmara Municipal do Rio de Janeiro Imagem: Renan Olaz/CMRJ

Flávio Costa

Do UOL, em São Paulo

14/07/2019 04h00

Há exatos 16 meses a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e o motorista Anderson Gomes foram assassinados a tiros no centro do Rio. Desde então, várias dúvidas sobre o atentado não foram esclarecidas pelos órgãos responsáveis pela investigação: a DH (Delegacia de Homicídios da Capital) e o MP-RJ (Ministério Público de Rio de Janeiro).

Marielle era socióloga e foi a quinta candidata mais votada na eleição de 2016 para a Câmara Municipal do Rio. Antes de exercer seu primeiro mandato, ela trabalhou como assessora parlamentar do então deputado estadual Marcelo Freixo (atual deputado federal). Ao morrer, aos 38 anos, ela deixou a filha a Luyara Santos e a companheira Mônica Benício.

Anderson era motorista particular e substituía havia dois meses o colega que trabalhava no gabinete da vereadora. Ele tinha 39 anos e deixou a companheira Agatha Reis e uma filha de um ano de idade.

Quem matou Marielle e Anderson?

Às vésperas do primeiro aniversário do crime, a DH e o MP-RJ prenderam o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, sob a acusação de serem os executores.

Ex-integrante do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e ligado à contravenção do Rio, Lessa foi apontado como autor dos disparos. Expulso da Polícia Militar por fazer segurança ilegal a casa de jogos, Queiroz teria dirigido o carro usado no atentado.

Ambos negam as acusações e estão detidos no presídio federal de Porto Velho (RO).

Qual foi a arma usada no crime? Ela foi encontrada?

As investigações indicam que os disparos que mataram Marielle e Anderson foram feitos de uma submetralhadora HK-MP5, de calibre 9 mm. Esta arma ainda não foi encontrada.

A polícia suspeita que Lessa tenha jogado a arma usada no crime no mar. Um pescador informou à DH que pessoas ligadas a Lessa usaram sua embarcação para desovar objetos semelhantes às armas no oceano.

No último dia 4, o jornal "Extra" divulgou que Marinha achou nove objetos de 50 centímetros numa profundidade de até 30 metros, no mar da Barra da Tijuca. Não há confirmação de que sejam as armas do acusado.

Quem mandou matar Marielle?

Até o momento, nem a DH ou o MP-RJ responderam a esse questionamento

Desde o começo das investigações ficou evidente que Marielle era o alvo do atentado e que Anderson morreu porque estava na linha de tiro. Uma assessora que estava ao lado da vereadora do carro conseguiu sobreviver sem ser atingida pelos disparos.

assassinos - Foto: Divulgação/PCRJ - Foto: Divulgação/PCRJ
Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram acusados de matar Marielle e Anderson
Imagem: Foto: Divulgação/PCRJ
Primeiro delegado responsável pelo caso, Giniton Lages chegou a afirmar que Ronnie Lessa "sentia ódio e desejo de morte" por Marielle e outros militantes de esquerda. A hipótese de que o PM reformado tenha cometido o crime por vontade própria (sem mandantes) é rechaçada pelo PSOL, partido de Marielle.

Quem são os suspeitos de ser os mandantes do crime?

Dois meses depois do atentado, o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira prestou depoimento à DH incriminando o miliciano Orlando Curicica e o vereador Marcello Sicilliano (PHS-RJ). Ambos negaram a acusação. Um ano depois, Ferreira confessou que mentiu.

Em sua investigação, a PF chegou a citar o ex-deputado Domingos Brazão como um dos possíveis mandantes do crime. Ele também negou a acusação.

Outra hipótese apontava para a cúpula do MDB na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). De acordo com essa linha de investigação, os ex-deputados Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi mandaram matar Marielle como forma de se vingar de Marcelo Freixo, que teria ajudado o MPF (Ministério Público Federal) na Operação Cadeia Velha, que resultou na prisão do trio. Os três negaram essa acusação.

Nenhuma das três hipóteses foi descartada, assim como não foi a de que Lessa tenha agido por conta própria. Oficialmente, o PM e a Polícia Civil não comentam a linha de investigação.

Qual foi a participação da Polícia Federal no caso?

Quando foi apontado pelo PM Rodrigo Jorge Ferreira como alguém envolvido na morte de Marielle, Orlando Curicica negou a acusação e resolveu revelar um suposto esquema de corrupção na DH da Capital que impediria investigações sobre homicídios ligados às milícias e ao jogo do bicho.

Diante disso, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, determinou que a PF investigasse a DH e uma possível obstrução ao Caso Marielle. Os agentes federais concluíram que o PM e sua advogada fazem parte de uma organização criminosa que visava impedir o esclarecimento do Caso Marielle.

O que é o Escritório do Crime e qual sua participação na morte de Marielle?

O Escritório do Crime é uma milícia comandada por assassinos de aluguel que estiveram ou estão na Polícia Militar do Rio de Janeiro. Ela domina os bairros de Rio das Pedras e Muzema, na zona oeste da capital.

Nestas localidades, a organização criminosa cobra por serviços de segurança, agiotagem, venda de gás e tevê a cabo ilegal, além de construir prédios irregulares, a exemplo dos dois que desmoronaram no mês de abril, quando 22 pessoas morreram.

Não se sabe exatamente qual seria a participação desta quadrilha na morte de Marielle, mas há indícios: o carro usado no crime trafegou na área controlada pela milícia na noite do atentado; Lessa tem ligações com membros do Escritório do Crime e possuía uma academia em Rio das Pedras; milicianos da região têm conexões com a família de políticos Brazão.

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