Atirador e vigilantes armados preocupam super-heróis da vida real
Só neste ano, dois episódios caíram como uma bomba de efeito moral sobre a comunidade de super-heróis da vida real. Em 26 de fevereiro, o vigilante George Zimmerman, 28, matou a tiros o adolescente Trayvon Martin, 17, negro, durante sua ronda em Sanford, na Califórnia. Acusado de assassinato em segundo grau, Zimmerman alegou que apenas reagiu ao ser atacado. O caso Trayvon, como ficou conhecido, é um marco moderno nas discussões sobre crime racial e a lei da Flórida, que permite assassinato sob a alegação de legítima defesa.
Caso número 2: pouco depois da meia-noite de 20 de julho passado, o ex-estudante de neurociências James Holmes, 24, abriu fogo contra a plateia de um cinema em Aurora, no Estado americano do Colorado. Inicialmente, o público pensou que fosse um golpe publicitário, já que o filme na tela, O Cavaleiro das Trevas Ressurge, era o último da trilogia do homem-morcego, Batman. Ao fim do tiroteio, 12 pessoas morreram e 58 ficaram feridas. Holmes tinha o cabelo pintado de laranja, mesma cor de peruca usada pelo vilão Coringa em uma cena do filme O Cavaleiro das Trevas (2008).
A paranoia decorrente de tais tragédias deixou parte dos super-heróis da vida real com o receio de que seria o início do fim para o movimento. Pouco importa que Holmes fosse considerado mentalmente instável ou Zimmerman fosse um vigilante, o que é um pouco diferente de um super-herói. Para alguns deles, a opinião pública nem sempre faz essa distinção.
"O atirador de Colorado se vestia com uma roupa semelhante à de alguns super-heróis da vida real, o que me deixou receoso de que acontecessem mais prisões em seguida", diz Knight Hood, um dos primeiros super-heróis da vida real.
Foi o que aconteceu duas semanas após o tiroteio no cinema, quando a histeria ainda rondava o inconsciente coletivo.
Quem são, o que fazem, por que diabos, de onde vêm?(+)
No dia 1º de agosto, o super-herói Beast (Fera, em tradução livre do inglês) foi preso no estacionamento de um shopping, após testemunhas acharem sua máscara semelhante à de Batman e chamarem a polícia, por medo de outro tiroteio. Foi o segundo caso de super-herói preso em 2012, mas não teve grande repercussão.
Até o momento, a prisão de um super-herói que mais repercutiu na comunidade foi a de Phoenix Jones, que patrulhava Seattle. Não foi a única, contudo. Desde 2011, ao menos cinco super-heróis da vida real foram detidos em ação.
Vigilante, herói e anti-herói
No caso Trayvon, a atenção se voltou contra os chamados vigilantes, que costumam andar armados e às margens da lei - algo que os super-heróis da vida real dizem ser contra.
De um dos fóruns de internet frequentados por super-heróis da vida real, surgiu uma definição geralmente aceita de três tipos de protetores comunitários: o vigilante, o super-herói e o anti-herói.
1)O herói combate o crime sempre na legalidade. Como sua ideia é ser um modelo e inspirar outros a fazer o bem, ele assume responsabilidade por todos os seus atos (pense em Superman)
2)O anti-herói combate o crime do jeito que julgar necessário, mesmo que isso signifique agir às margens da lei, mas assume responsabilidade por seus atos (Batman)
3)O vigilante age como um "mal necessário", desrespeitando a lei (como a que regula o uso de armas, por exemplo), e se negando a assumir responsabilidade por seus atos (O Justiceiro)
O temor de alguns super-heróis da vida real é que, pro grande público, a linha que separa um de outro não é tão tênue, e, dependendo do caso, inexiste. Daí a apreensão do caso Trayvon. Para muitos, não há diferença entre o vigilante e outros super-heróis da vida real.
Segundo o jornalista Tea Krulos, que tem um blog e prepara para 2013 um livro sobre o movimento dos super-heróis da vida real, episódios como os do atirador do cinema e o caso Trayvon tendem a deixar os verdadeiros heróis mais cautelosos com a forma como se apresentam. "Se você vê alguém vestido como ninja correndo por aí, seu primeiro pensamento talvez não seja 'ah, este cara é um super-herói'", disse ele ao UOL Tabloide.
As autoridades desaconselham qualquer pessoa a combater o crime com as próprias mãos ou se meter em situações potencialmente arriscadas.
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