Em depoimentos, réus negam atentado contra Marielle Franco e Anderson Gomes
Réus pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do seu motorista Anderson Gomes em 14 de março do ano passado, o sargento reformado da PM Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Queiroz negaram hoje participação no duplo homicídio, durante um depoimento prestado ao juiz Gustavo Kalil, da 4ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio.
Trata-se da primeira vez que ambos foram ouvidos pela Justiça. Embora tenham prestado depoimento na Divisão de Homicídios da Capital, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), em fevereiro —um mês antes das prisões de ambos e no curso das investigações sobre a execução dos assassinatos—, eles se recusaram a prestar um novo depoimento na especializada após a prisão, em 12 de março deste ano.
Com atrasos, a audiência durou cerca de 2h30. Os dois réus pelo duplo homicídio foram inquiridos pelo magistrado por meio de videoconferência — ambos estão presos na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia. O acesso à imprensa foi vetado porque as investigações do caso, que ainda apuram os eventuais mandantes dos assassinatos, correm sob sigilo.
Marinete da Silva e Antônio Francisco da Silva, pais de Marielle, acompanharam os depoimentos dos acusados. Tanto Monica Benício quanto Agatha Arnaus, viúvas de Marielle e Anderson, respectivamente, foram representadas por advogadas e pela Defensoria Pública.
Também estavam presentes a mulher de Élcio, Suzana Souza, e a filha de ambos, Thayná Queiroz.
Ontem, a mulher de Ronnie Lessa foi presa pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio sob acusação de obstruir as investigações. Ela é suspeita de ser a mentora do descarte de fuzis no mar após a prisão do marido. Seu irmão e mais duas pessoas foram presos por tentar atrapalhar o trabalho da polícia.
Daniel Rosa, titular da DH, acompanhou os depoimentos, mas saiu da audiência sem falar com a imprensa, acrescentando apenas que as investigações sobre o caso continuam. Procurado pelo UOL, o MP do Rio não se pronunciou.
Henrique Telles, responsável pela defesa de Élcio, classificou o depoimento do cliente como "muito bom".
"O depoimento do Élcio foi muito bom. Ele esclareceu alguns pontos que estavam nebulosos, não para a defesa, mas para o Ministério Público. Ele reafirmou sua inocência e o Ministério Público segue, tentando provar, que meu cliente foi motorista naquele carro sem que meu cliente estivesse naquele carro. Na verdade, no dia e na hora do crime, o meu cliente estava na Barra da Tijuca, no Resenha [Grill, um restaurante localizado na Barra], desde às 20h até 3h [do dia seguinte]. Ele tinha chegado na Barra por volta das 17h. Isso foi comprovado com o celular do meu cliente. Lá na Barra ele estava emitindo dados, mensagens, Whatsapp", declarou o advogado.
Procurado, Fernando Santana, responsável pela defesa de Lessa, não se manifestou até o fechamento da reportagem.
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