Almirante ligado à prisão de Temer esconde dinheiro na Suíça, diz MPF
Os procuradores que investigam o esquema de recebimento de propina supostamente liderado pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmam que o almirante reformado e ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro e sua filha, Ana Cristina Toniolo, tentaram esconder dinheiro ilícito em bancos suíços mesmo após a condenação pela Justiça Federal do Rio de Janeiro, em 2015.
A afirmação teve como base documentos enviados pelas autoridades suíças ao Coaf (Conselho de Controle de Operações Financeiras). A defesa de Othon e Ana Cristina disse que não teve acesso integral aos documentos da investigação e que, por isso, não seria possível se manifestar sobre o assunto.
A força-tarefa da Lava Jato no Rio já começou os contatos com a Suíça para pedir o bloqueio do dinheiro.
Othon e sua filha foram condenados pela Justiça Federal do Rio por envolvimento no desvio de verbas das obras da estatal Eletronuclear em agosto de 2016. Othon foi condenado a 43 anos de prisão e Ana Cristina a 14 anos e dez meses.
Na quinta-feira (21), eles foram alvo da Operação Descontaminação, que investiga o pagamento de propina relativa a contratos com a Eletronuclear para o núcleo criminoso supostamente comandado por Temer.
As suspeitas são que pelo menos R$ 10,8 milhões pagos a uma empresa que mantinha contratos com a estatal foram direcionados ao grupo de Temer.
O MPF pediu a prisão de Othon e Ana Cristina na semana passada, mas o juiz federal Marcelo Bretas não concedeu o pedido.
O Ministério Público Federal argumentou que teve acesso a documentos enviados pelas autoridades suíças indicando indicando movimentações em contas de empresas ligadas à dupla mesmo depois de eles terem sido condenados pela Justiça brasileira.
As movimentações teriam sido feitas em setembro e novembro de 2016, meses depois da condenação deles.
De acordo com o MPF, as contas estavam em nome duas empresas: Waterfront Overseas e Delarosa Properties.
Segundo os suíços, essas contas estão ligadas a Othon e Ana Cristina. Há indícios de que pelo menos uma delas foi aberta pelo doleiro Paulo Sérgio Vaz de Arruda e tinha como objetivo o recebimento de vantagens indevidas.
A força-tarefa da Lava Jato no Rio também suspeita que Arruda, um dos doleiros ligados ao grupo de Dario Messer (apontado como o maior doleiro do país e investigado na Operação Câmbio, Desligo), atuou para Othon Luiz Pinheiro enviando dinheiro ilícito para o exterior.
Após a quebra do sigilo telefônico do almirante reformado, os procuradores identificaram 392 ligações entre Othon e Arruda entre 2011 e 2014.
Os procuradores afirmam que as contas não tinham sido informadas às autoridades brasileiras e que os seus encerramentos foram uma tentativa dos dois de esconder dinheiro ilícito no exterior.
"Em suma, o fato de Othon e Ana Toniolo não terem comunicado essas contas às autoridades brasileiras e as encerrado demonstra extreme de dúvidas a intenção deles de seguir ocultando valores", disse a força-tarefa no pedido de prisão.
O relatório enviado pelos suíços ao Coaf não foi claro sobre a quantidade de dinheiro que teria sido movimentada e escondida. Mesmo assim, o MPF conseguiu obter uma decisão judicial, e os procuradores já iniciaram os contatos com o governo suíço para bloquear o dinheiro.
Outro lado
O advogado de Othon Luiz Pinheiro e Ana Cristina Toniolo, Fernando Fernandes, afirmou que ainda não teve acesso integral aos autos da operação. "A defesa entende que não é hora de se manifestar em razão de não ter sido fraqueado acesso integral aos autos e documentos", disse Fernandes.
O advogado disse ainda que Othon "já sofreu muito", enfrentando um câncer, do qual ainda se recupera. Fernandes disse ainda que Othon aguarda o "momento em que o Ministério Público junte aos autos acordos de leniência fundamentais para a defesa" do almirante reformado e que vai pedir, hoje, o desbloqueio de R$ 6 mil encontrados na conta de Othon referentes à sua aposentadoria.
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