Marielle: polícia suspeita que acusado vendia armas para mais de uma facção
A Polícia Civil investiga a hipótese de que o suspeito de matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes também seja fornecedor de armas para diferentes organizações criminosas do Rio de Janeiro.
O policial militar reformado Ronnie Lessa é suspeito de ser o dono de peças de armas achadas pela Polícia Civil na semana passada. Elas seriam usadas para montar 117 fuzis. A apreensão ocorreu durante a Operação Lume, que prendeu Lessa e o ex-PM Élcio Queirós, ambos acusados de matar a parlamentar e o motorista.
O advogado de Lessa, Fernando Santana, nega que seu cliente tenha participado da morte de Marielle ou seja traficante de armas.
Mas a polícia diz acreditar que Lessa seja fornecedor de fuzis para fações de traficantes de drogas e milícias que disputam territórios no Rio, segundo o delegado Marcus Amim, chefe da Desarme, a delegacia especializada em armas da polícia do Rio.
De acordo com ele, as peças de armas apreendidas foram feitas em série por fábricas ainda desconhecidas da polícia, e não artesanalmente. Na opinião do delegado, a hipótese mais provável é que nenhuma organização criminosa por si só teria condições de encomendar tantos fuzis (117) de uma só vez. Isso porque cada unidade valeria mais de R$ 30 mil no mercado negro.
"Pela quantidade [de armas achadas] e por serem do mesmo modelo, não acredito que uma só organização criminosa seja abastecida. Provavelmente ele [Lessa] era um comerciante. Ele vendia para quem chegasse com dinheiro", disse Amim.
Por e-mail, Lessa negociou peças de armas
Entre as evidências achadas contra Lessa, estão e-mails que ele escreveu negociando a compra de peças de armas de um fornecedor na China em 2017. A delegacia Desarme abriu um inquérito sobre tráfico de armas contra Lessa e investiga agora se as peças achadas na semana passada estão relacionadas com a negociação por e-mail.
A investigação tem três objetivos principais:
- descobrir quem vendeu as armas ao suspeito
- como as armas chegaram até ele
- para quem as armas seriam vendidas
A polícia diz acreditar que Lessa não agia sozinho no comércio de armas. Os policiais tentam identificar agora quem enviava as armas para ele e quem entregava para os "clientes".
Na tarde de hoje, Amim se encontrou com o delegado Giniton Lages, responsável pela 1ª fase do de investigações do caso Marielle. O objetivo era trocar informações. Amim disse, porém, que suspeita que a atividade de tráfico de armas atribuída a Lessa não tenha ligação direta com a morte de Marielle.
Para a promotora Letícia Petriz, Lessa é um "traficante internacional de armas". O policial reformado comprava acessórios e parte de armamentos de outros países para trazer ao Rio, segundo afirmou ao "Fantástico", da TV Globo.
Demanda por armas
O delegado afirmou que ainda não pode dar detalhes sobre linhas de investigação a respeito da origem das armas, mas afirmou que a principal característica do tráfico de armas no Rio é que as armas chegam à cidade por meio de diversos traficantes, e não por meio de um único fornecedor.
"No imaginário popular, há um grande "capo" [chefe] do tráfico armas, mas não é assim. São dezenas de milhares rotas que trazem drogas e armas para Rio de Janeiro", disse.
De acordo com o delegado, a cidade possui a característica particular de ser infestada por ao menos três grandes facções de tráfico de drogas e diversos grupos de milícias --quadrilhas de policiais e ex-policiais que dominam áreas pobres para comercializar serviços irregulares.
Essas facções disputam o domínio de territórios, o que gera uma grande demanda por armas de maior poder de fogo, como os fuzis, de acordo com o delegado.
Perícias apontam armas verdadeiras
O advogado de Lessa disse, na semana passada, que as peças de armas achadas na casa de Alexandre Motta Souza, amigo do policial reformado, poderiam ser de armas de brinquedo. Elas são chamadas de airsoft e usadas em um jogo onde os participantes simulam combates.
Porém, o delegado Amim afirmou que elas já passaram por duas perícias que teriam comprovado que se tratam de armas de fogo reais. Segundo Amim, a polícia montou uma das armas e conseguiu atirar com munição de fuzil.
A polícia só teve que adicionar ao kit um cano de fuzil de calibre 556, pois os canos das armas não foram encontrados na operação.
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