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Operação Lava Jato

Pezão viajou para a Europa com empresários presos pela PF

29.nov.2018 - O governador Luiz Fernando Pezão (MDB) na prisão da PM-RJ em Niterói - Fábio Motta - 29.nov.2018/Estadão Conteúdo
29.nov.2018 - O governador Luiz Fernando Pezão (MDB) na prisão da PM-RJ em Niterói Imagem: Fábio Motta - 29.nov.2018/Estadão Conteúdo

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

02/12/2018 17h41

Preso na quinta-feira (29) na Operação Boca de Lobo, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (MDB), fez uma viagem à Europa em 2011 junto com os empresários Cláudio Fernandes Vidal e Luiz Alberto Gomes Gonçalves, conhecido como Beto, que também foram detidos naquele dia. Eles são sócios da JRO Pavimentação, empresa suspeita de diversas irregularidades em contratos com o estado do Rio.

A viagem é mencionada no pedido de prisão preventiva de Pezão, Cláudio, Beto e mais seis pessoas feito pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e aceito pelo ministro Felix Fischer, do STJ (Superior Tribunal de Justiça). O documento estava sob sigilo até sábado (1º).

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O MPF (Ministério Público Federal) trata Cláudio e Beto como amigos de Pezão. Segundo um documento da Polícia Federal mencionado no pedido de prisão, o trio viajou do Rio para Paris em um voo da Air France no dia 16 de junho de 2011.

A informação sobre a viagem partiu de Carlos Miranda, ex-operador de propinas para o ex-governador Sérgio Cabral (MDB) e que tem acordo de delação premiada. De acordo com Miranda, a viagem de Pezão, Cláudio e Beto foi a passeio.

"Participação nos lucros" do esquema

Outro indício da proximidade entre Pezão e os sócios da JRO aparece em outro relato de Miranda, no qual Pezão teria recebido R$ 1 milhão a título de “participação nos lucros” nos esquemas de corrupção.

Segundo o ex-operador, o episódio ocorreu em 2008. O pagamento a Pezão, na época vice-governador, teria ocorrido por ordem do então governador Sérgio Cabral. Pezão teria então dito a Miranda para que entregasse o dinheiro a Beto, da JRO.

O delator contou à PF que entregou metade do dinheiro a Beto em espécie em um apart-hotel no Leblon, bairro nobre da zona sul carioca, em dezembro de 2008. A outra metade teria sido entregue a Beto por Sérgio Castro de Oliveira, conhecido como Serjão ou Big, que era assessor de longa data de Cabral.

O advogado Rodrigo Roca, que defende Cabral, disse ao UOL que a acusação é falsa, "como tudo que o senhor Carlos Miranda declarou", e que o delator "nunca sequer apresentou um rascunho" de provas das declarações. Segundo Roca, "a Justiça continua à mercê das acusações" feitas por Miranda.

De acordo com o MPF, entre 2007 e 2014, a JRO pagou propinas de 5% sobre o valor de contratos com o estado do Rio. A denúncia do envolvimento da empresa em fraudes junto ao governo também foi feita por Miranda.

Segundo documentos do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio) citados pelo MPF, a JRO recebeu R$ 69,3 milhões decorrentes de contratos com a secretaria estadual de Obras e com o DER-RJ (Departamento de Estradas de Rodagem) entre 2004 e 2014. Há indícios de que a empresa participou de esquemas de corrupção nos dois órgãos.

O UOL telefonou para a sede da JRO Pavimentação na tarde deste domingo (2), mas recebeu a informação de que não havia representantes da empresa no local no momento que pudessem comentar as acusações. A reportagem também tentou contato por telefone com advogados de Luiz Alberto Gomes Gonçalves e Pezão, sem sucesso, e não localizou as defesas de Cláudio Fernandes Vidal e Sérgio Castro de Oliveira.

A prisão do governador

Segundo a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, a prisão preventiva de Pezão era necessária porque ele não só teria assumido a liderança da organização criminosa antes comandada por Cabral, mas continuaria a "ordenar atos de corrupção e de lavagem de dinheiro público". À Polícia Federal, o governador negou ter recebido propina.

"Seus associados ocupam função pública de destaque ou dirigem empresas que recebem recursos públicos, que estão sendo corrompidos, desviados e lavados de modo criminoso, numa pilhagem que pode a se intensificar nos meses finais de sua gestão", disse Dodge.

A procuradora-geral cita também que Pezão ainda tem vínculos com Cabral. O pedido traz a transcrição de uma conversa por telefone em que o governador promete, a um homem chamado Ricardo, "entrar no circuito" depois que Cabral foi alvo de uma suposta abordagem truculenta na prisão.

O MPF ainda afirma que as movimentações bancárias de Pezão não mostram saques de dinheiro "durante anos", o que seria "indício de que ele pode ter dinheiro que se encontra à sua disposição, de forma oculta do sistema bancário oficial."

Com isso, segundo Dodge, nenhuma outra medida, como uma prisão temporária, "seria bastante para cessar a influência dos expoentes da organização criminosa na corrosão da administração do Rio de Janeiro."

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