Temer se nega a depor; MP vai denunciá-lo por lavagem, corrupção e peculato
O ex-presidente da República Michel Temer (MDB) se recusou a prestar depoimento hoje aos procuradores que compõem a força-tarefa da Operação Lava Jato. Ele foi preso ontem, em operação que deteve outras nove pessoas, entre elas o ex-ministro Wellington Moreira Franco (MDB).
De acordo com a procuradora da república Fabiana Schneider, o grupo recebeu um informe da defesa de Temer pela manhã dizendo que o ex-presidente se reservaria o direito de permanecer em silêncio. Por isso, ele sequer foi chamado para depor.
Segundo Schneider, uma denúncia formal contra o ex-presidente será apresentada pela procuradoria à Justiça na próxima semana, pelos crimes de peculato, corrupção e lavagem de dinheiro. A procuradora afirmou que Temer será denunciado como chefe de uma organização criminosa que atuou em contratos fraudulentos das obras da usina de Angra 3.
Dentre todos os dez presos ontem pela Lava Jato, apenas Moreira Franco prestou esclarecimentos à procuradoria. O coronel João Batista Lima, amigo de Temer, foi levado para depor junto com o ex-ministro, mas permaneceu em silêncio.
"Ele [Moreira Franco] negou ter pedido propina, prestou esclarecimentos e deu a sua versão dos fatos. Chegou a reconhecer que Temer disse que Lima cuidava da Argeplan em mais de uma ocasião", relatou a procuradora. Carlos Alberto Montenegro Gallo e Vanderlei de Natale não haviam sido chamados para depor até as 15h.
Tanto Temer quanto Moreira Franco apresentaram pedido de liberdade ao TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região). O desembargador Antonio Ivan Athié, da 1ª Turma Especializada da corte, marcou para a próxima quarta-feira (27) o julgamento dos dois pedidos e solicitou que o juiz Marcelo Bretas, que decretou a prisão de ambos, se manifeste em até 24 sobre os habeas corpus apresentados.
Procuradora defende prisões
Durante entrevista a jornalistas na sede no Ministério Público Federal, no Rio de Janeiro, a procuradora rebateu críticas à ordem de prisão preventiva e afirmou que um eventual habeas corpus a qualquer uma dos presos será danoso às investigações.
"Crimes de 'colarinho branco' são diferenciados de crimes de violência, por exemplo. Nós rastreamos promessas de pagamentos dessa organização criminoso para daqui a vinte anos. Eram verdadeiras previdências com parcelamentos altos e a perder de vista", explicou.
Eventuais tentativas de destruição e ocultação de provas das movimentações da quadrilha também colaboram para que a procuradoria acredite que as prisões são necessárias.
"Trata-se de uma organização atuante há 40 anos. Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, houve a tentativa de esconder aparelhos celulares e notebooks. Isto resume bem o porquê de não podermos ter essas pessoas soltas", disse Schneider.
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