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Operação Lava Jato

Grupos arrecadam R$ 30 mil para outdoors de apoio à Lava Jato em Curitiba

Outdoors com fotos de Moro e Dallagnol aparecem espalhados em bairros de classe média em Curitiba - Theo Marques/UOL
Outdoors com fotos de Moro e Dallagnol aparecem espalhados em bairros de classe média em Curitiba
Imagem: Theo Marques/UOL

Vinicius Konchinski

Colaboração para o UOL, em Curitiba

19/07/2019 04h02

O ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador da República Deltan Dallagnol aparecem juntos e sorridentes em cerca de 30 outdoors instalados em Curitiba.

A imagem dos dois lado a lado faz parte de uma nova campanha de apoio à Lava Jato iniciada por grupos políticos da capital paranaense -- uma reação após autoridades da operação terem suas conversas divulgadas pelo site The Intercept Brasil.

Junto com a foto do ex-juiz e do coordenador da Lava Jato no Paraná, os outdoors divulgam as frases "Lava Jato: eu acredito" e "Lava Jato: eu confio", em letras maiúsculas. Uma hashtag de suporte à operação, a #somostodoslavajato, também compõe os enormes cartazes, pagos com dinheiro de doações.

Ao todo, cerca de R$ 30 mil foram gastos nos outdoors. O valor foi informado por integrantes dos três movimentos responsáveis pela ação de apoio à Lava Jato: Vem pra Rua, Lava Togas e Brasil Estou Aqui.

Os três grupos têm como pauta a militância contra a corrupção. Também integraram o ato de apoio a propostas do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) realizado no último dia 30. Reúnem advogados, empresários, profissionais liberais, professores, estudantes e outros.

Boa parte deles colaborou com R$ 50 ou R$ 100 na "vaquinha" organizada para a produção das peças publicitárias.

"Foram vários doadores", explicou a coordenadora do movimento Vem Para Rua no Paraná, Gislaine Masoller, que trabalhou na arrecadação dos fundos. "Temos muitas empresas parceiras também, que reduzem seus preços para colaborar."

Outdoors com as fotos de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol e frases de apoio à Lava Jato aparecem espalhados em bairros de classe média em Curitiba - Theo Marques/UOL - Theo Marques/UOL
Imagem: Theo Marques/UOL

"Nada do que foi dito desabona a Lava Jato"

A advogada Paula Bettega, do movimento Lava Togas, também colaborou com a arrecadação para os outdoors. Segundo ela, a mobilização em prol da Lava Jato não foi abalada pelas notícias acerca das conversas que vêm sendo divulgadas pelo The Intercept Brasil há mais de um mês.

Nada do que foi dito até agora desabona a Lava Jato. Se o que foi divulgado for verdadeiro, são conversas republicanas. Os ataques à operação são criminosos. O apoio à operação é maciço."
Paula Bettega, do Lava Togas

De acordo com as mensagens divulgadas, Moro, em conversas privadas mantidas com membros do MPF (Ministério Público Federal) que atuam na Lava Jato, sugeriu testemunhas a investigadores, os orientou sobre o uso de provas e opinou sobre um acordo de delação premiada.

A Constituição de 1988 determina que não haja vínculos entre juiz e as partes em um processo judicial. Para que haja isenção, o juiz e a parte acusadora --neste caso, o Ministério Público-- não devem trocar informações nem atuar fora de audiências.

Moro e MPF não reconhecem a autenticidade das mensagens atribuídas a eles. O ministro, em audiências no Congresso, já afirmou também que, se verdadeiras, as conversas não indicariam irregularidades.

O empresário Moisés Machinsky, do movimento Brasil Estou Aqui, disse também não ver irregularidades. Ele disse que ouviu colegas advogados e eles o disseram que esse tipo de conversa entre juiz e procurador é "absolutamente normal".

Tudo isso [as notícias] não mudou em nada minha opinião sobre a operação. Pelo contrário. Só reforçou meu apoio."
Moisés Machinsky, do movimento Brasil Estou Aqui

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Imagem: Theo Marques/UOL

Caricatura de Lula na prisão

Machinsky, aliás, lembrou que estes não são os primeiros outdoors de apoio à Lava Jato que o Brasil Estou Aqui, o Lava Togas e o Vem para Rua produzem. Em 2017, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda respondia em liberdade a processos da operação Lava Jato em Curitiba, uma campanha ironizando o político foi realizada pelos três movimentos.

Naquela época, em vez de fotos de Moro e Dallagnol sorridentes, os outdoors mostravam uma caricatura de Lula numa prisão. No grande cartaz, os três movimentos desejavam boas-vindas à "República de Curitiba" para o político. Diziam ainda que a cidade esperava o ex-presidente de "grades abertas".

O outdoor não agradou simpatizantes do petista. A recente demonstração de apoio à Lava Jato também já foi alvo de protestos. Duas manchas de tinta amarela surgiram em uma placa instalada em uma das avenidas de Curitiba.

"Isso sempre acontece, mas nós vamos continuar nos manifestando", disse Masoller, do Vem pra Rua, sobre o outdoor estragado.

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Imagem: Theo Marques/UOL

O UOL procurou o ministro Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol para ouví-los sobre os outdoors de apoio à Lava Jato. O Ministério da Justiça informou que Moro está de férias e não falaria sobre o assunto.

Já o MPF informou que Dallagnol não teve qualquer participação na campanha de apoio à Lava Jato. "Desde o início da Lava Jato, houve, por parte da sociedade, tanto manifestações de apoio como contrárias à operação. Não cabe ao Ministério Público Federal interferir nessas iniciativas da sociedade civil", complementou o órgão.

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